Avó e Avô

Naquela noite, Zeca era o monstro que sua mãe o amaldiçoara a ser.

Ao ouvir o estalo dos móveis e o rosnado rouco que vinha do quarto de Zeca, a avó despertou com um sobressalto. O som era profundo, quase um grunhido animalesco, e fazia o chão de madeira ranger com uma força que parecia quebrar as tábuas. O ar estava carregado de uma tensão indescritível, como se a própria casa estivesse se contorcendo em agonia. Sentindo uma angústia viscosa que apertava seu peito, ela se levantou, os pés descalços afundando no chão frio, e, envolta pelo lenço fino que mal cobria seus ombros, andou pelo corredor escuro, onde as sombras pareciam se alongar, observando-a.

Quando ela abriu a porta, seus olhos se arregalaram em horror absoluto. Lá, onde deveria estar Zeca, havia uma criatura de pesadelo que desfigurava qualquer noção de humanidade. Uma besta grotesca, encurvada e coberta por uma penugem espessa e negra como a escuridão da noite. Suas presas brancas e afiadas reluziam com um brilho doentio à luz pálida da lua, como dentes de um monstro primordial. As garras da criatura cravavam-se no chão de madeira, rasgando-o com facilidade, e seu corpo pulsava de uma forma que não era mais humana, mas algo maligno e insaciável.

Antes que a avó pudesse reagir ou mesmo gritar, a criatura avançou sobre ela com uma velocidade que parecia sobrenatural. Um baque ensurdecedor ecoou quando ela foi derrubada, seu corpo frágil sendo esmagado pelo peso da besta, e a dor foi instantânea e insuportável. O ar foi tomado por um grito desesperado, um som grotesco que rasgou a noite e parecia vibrar no fundo das ossadas da velha, antes de ser silenciado pelo rugido da criatura. O sangue começou a jorrar em uma explosão viscosa, escorrendo pelo chão e manchando as paredes com manchas de carmesim. Cada pedaço da carne da avó era dilacerado com brutalidade, exposto e rasgado em pedaços, enquanto a besta se alimentava de sua carne.

O avô, ainda confuso e atordoado, despertou com o coração disparado, sentindo o peso da tragédia no ar. Ao ouvir o barulho insano vindo do corredor, agarrou a espingarda que mantinha sob a cama, seus dedos tremendo enquanto tentava carregar a arma. A visão que encontrou o paralisou por um instante, uma cena macabra e irreconhecível: seu neto, ou o que restava dele, agora uma abominação que devorava a esposa, transformando o chão em um rio de sangue, com pedaços de pele e vísceras espalhados como oferendas de um ritual profano. Os olhos da criatura brilhavam com um ódio impiedoso e uma fome insaciável.

Com a mão trêmula, o avô ergueu a espingarda, apontando-a para o que um dia foi seu neto. O som do disparo ecoou pelo corredor, um estrondo ensurdecedor que fez as janelas vibrarem, mas a bala só fez a criatura recuar um passo, sem perder a ferocidade. O monstro soltou um urro de dor e fúria, que parecia rasgar o próprio ar, seus olhos agora vermelhos como chamas de um inferno profundo, fixos na figura do avô, como se o desafiasse. O velho disparou novamente, mas o tiro sequer fez a besta vacilar, como se o metal não pudesse mais feri-la.

Num último ato de desespero, o avô tentou recarregar a arma, mas suas mãos, trêmulas e suadas, não conseguiam sequer segurar as balas, que caíam incontroláveis no chão. Em um movimento instantâneo, a criatura se lançou sobre ele, suas garras cravando-se na pele do velho com uma força brutal. O som do osso quebrando sob o impacto foi seguido por um grito agonizante, abafado pela pressão da besta.

O último som ouvido naquela noite foi o rugido da criatura, que rasgou o silêncio da casa e a silenciou para sempre. Quando o sol finalmente despontou no horizonte, seus raios tímidos invadiram a casa silenciosa e revelaram a cena grotesca e sanguinolenta. Zeca acordou no meio da sala, seu corpo coberto por sangue coagulado, tripas retorcidas e pedaços de ossos espalhados ao seu redor, como se ele mesmo fosse um cadáver desmembrado. Ele piscou os olhos, confuso, seu coração acelerado, e uma dor lancinante tomava conta de cada centímetro de seu corpo, mas no fundo de sua mente, algo profundamente sombrio o despertava.

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