Maldição e Morte

Zeca ficou parado, observando a cena com uma expressão que misturava espanto e satisfação. No fundo, ele sabia que havia instigado a tempestade que agora se abatia sobre a família. A casa, antes simples e cheia de vida, se tornara um cenário de desespero, com a traição gravada nas pegadas de botas e na lâmina ensanguentada do facão. Maria caiu no chão, a dor pulsando como um eco em seu corpo. Enquanto a vida escorria dela, ela olhou para Joaquim com os olhos cheios de incredulidade e medo. Em meio ao sangue que manchava seu vestido, ela respirou fundo, tentando entender o que havia acontecido.

— Joaquim... — sua voz mal conseguiu escapar. — O que você fez?

Ele se agachou, o facão ainda em punho, a fúria em seu olhar. Com um sorriso sombrio nos lábios, começou a contar o que Zeca havia dito.

— Ele disse que você recebeu homens em casa enquanto eu trabalhava. Que eles comeram do frango, que você... que você me traiu!

As palavras saíam dele como facadas, cada uma mais cortante que a anterior. Maria sentiu o peito apertar, a dor agora misturada ao desespero. Era um golpe que ela nunca esperava receber, mesmo diante das mentiras que cercavam a vida de seu filho.

— Seu filho duma p... — ela murmurou, com dificuldade. — Você acredita no que ele disse Joaquim? Ele é um demônio... uma criatura mesquinha e traiçoeira, Joaquim! Ele sempre quis ver a desgraça desta família!

O olhar de Joaquim endureceu, e ele não se deixou influenciar pelas palavras da esposa. A raiva estava desenfreada, tomando conta dele, e ele só pensava na traição que acreditava ter acontecido.

Maria, então, lutou contra a dor que a consumia e, com a última força que lhe restava, olhou nos olhos do marido e lançou uma maldição:

— Que você e esse garoto amaldiçoado se fodam! Que ele vire uma besta selvagem todas as noites de lua cheia, assim como é o seu caráter! Que a lua o transforme em um monstro, e que ele sinta a dor da traição em seu próprio coração!

Aquelas palavras ecoaram no ar como um eco sombrio, reverberando entre as paredes da casa. Joaquim, paralisado pela fúria e pela incredulidade, assistiu enquanto Maria dava seu último suspiro. O peso da maldição pairou no ar, envolvendo-os em uma escuridão crescente, como se as próprias sombras da noite viessem para reclamar a alma da mulher.

Após a última exalação de Maria, Joaquim sentiu um frio profundo tomar conta de seu ser, como se a própria escuridão da noite começasse a envolvê-lo. Ele se ergueu lentamente, a mente embotada pelo peso de suas ações e pela maldição que agora reverberava em seu coração. Ele não ousava encarar o corpo sem vida de sua esposa. Em vez disso, dirigiu um olhar firme e gélido para Zeca.

— Arruma suas coisas, moleque. Nós vamos embora daqui.

Zeca, com um brilho satisfeito nos olhos que tentava disfarçar, obedeceu, recolhendo seus poucos pertences em silêncio. Sabia que a mãe estava morta por causa das mentiras que contara, mas, em vez de arrependimento, sentia apenas uma estranha excitação. Ele havia conseguido o que queria: desestabilizara o pai e eliminara a mãe de sua vida.

Joaquim selou o jumento rapidamente, e, sem olhar para trás, montou o filho junto a ele. A casa que fora cenário de tanto trabalho e dedicação agora era apenas uma lembrança distorcida, um espaço sombrio que ele nunca mais desejava ver.

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