CAPÍTULO 16

        A yoga foi um verdadeiro teste para o meu autocontrole.

        A pele dela… O cheiro doce que parecia envolver o ar entre nós… O calor do seu corpo tão próximo ao meu… Tudo isso mexeu comigo de um jeito que eu não esperava.

Eu não deveria sentir isso.

Mas era como se fosse inevitável.

             Quando saímos do estúdio, o silêncio entre nós era pesado, quase sufocante. Mia evitava me olhar, os ombros tensos, os dedos inquietos sobre o colo. Ela estava distante, perdida em pensamentos que eu não conseguia decifrar.

A verdade é que eu também estava.

                Entrei no carro e dei a partida, dirigindo pela cidade, tentando dissipar a tensão que ainda pulsava entre nós.

Mas não consegui ignorar a forma como ela estava quieta demais.

Olhei de relance para ela antes de perguntar, minha voz mais baixa do que o normal:

— Você está bem, Mia? Parece… preocupada com algo.

             Ela demorou a responder. Seus olhos estavam fixos na paisagem lá fora, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.

— E-eu… — Sua voz falhou um pouco antes de continuar. — Só estou me sentindo… estranha. Cansada, talvez.

Minha mandíbula se contraiu.

Ela estava mentindo.

Mas eu não a pressionei.

Apenas assenti, mantendo o olhar na estrada.

             Dirigimos em silêncio por um tempo, até que notei o olhar dela desviando discretamente para uma pequena banca à beira da rua.

          Uma barraca de Rösti, o prato suíço dourado e crocante feito de batatas, exalando um aroma que se misturava ao frio da tarde.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando disfarçar o interesse, mas era óbvio que queria.

Fiz uma curva suave e reduzi a velocidade.

— Você quer? — perguntei, a voz carregando um tom mais grave do que eu pretendia.

Mia se sobressaltou, arregalando os olhos.

— Não, não precisa, Jacob. — Ela abanou as mãos, meio sem graça.

Soltei um suspiro curto, parando o carro sem pedir permissão.

— Vamos lá. Sei que você está com fome. — Desafivelei o cinto e saí.

Ela hesitou por um segundo, mas, quando viu que eu realmente não lhe daria escolha, sorriu de lado e fez o mesmo.

               O cheiro quente da batata fritando na chapa me atingiu assim que me aproximei do balcão. O homem por trás da grelha sorriu para nós, secando as mãos no avental.

— O que vão querer?

Mia olhou para o cardápio, incerta.

— O tradicional. Com queijo derretido por cima — decidi por ela, lançando-lhe um olhar. — Ou prefere outro?

Ela balançou a cabeça, rindo baixinho.

— Esse está ótimo.

O vendedor logo começou a preparar nosso pedido, espalhando as batatas sobre a chapa quente. O som do óleo chiando preencheu o silêncio, enquanto Mia enfiava as mãos no casaco, protegendo-se do frio.

           Minutos depois, o vendedor nos entregou os pratos descartáveis com os Rösti fumegantes e cobertos por uma camada generosa de queijo derretido. Peguei um garfo para ela e um para mim, e seguimos até um banco de madeira próximo.

            Mia soprou o primeiro pedaço antes de levá-lo à boca, seus olhos se arregalando assim que mastigou.

— Meu Deus… Isso é incrível!

Soltei um riso baixo.

— Sabia que iria gostar.

Ela comeu mais um pedaço, fechando os olhos por um instante, apreciando o sabor.

Por um momento, fiquei apenas observando.

O jeito como seus lábios se curvavam em um sorriso genuíno. O brilho nos olhos dela. A forma como o vento bagunçava algumas mechas soltas de seu cabelos ruivos.

Era lindo.

Ela era linda.

          Mia notou meu olhar e pigarreou, abaixando o rosto um pouco. Mas foi então que vi um pequeno vestígio de queijo no canto da sua boca.

Antes que pudesse pensar, estendi a mão e limpei o canto de seus lábios com o polegar.

Ela congelou.

Eu também.

O toque foi rápido, leve, mas intenso o suficiente para fazer meu estômago se revirar.

Nossos olhos se encontraram.

Silêncio.

Denso.

Carregado.

Mia umedeceu os lábios, desviando o olhar logo em seguida.

Eu afastei a mão devagar, voltando minha atenção para o prato em minhas mãos.

— Você… tinha queijo na boca — expliquei, como se isso pudesse dissipar a eletricidade no ar.

Ela assentiu rápido, pegando um guardanapo e esfregando a boca, claramente desconcertada.

— Obrigada…

O silêncio que se seguiu foi estranho.

Quente.

Difícil de ignorar.

Ela forçou uma risada, tentando aliviar o clima.

— Bom… esse queijo realmente é cremoso demais.

— Sim — murmurei. — Um verdadeiro desastre se não tomar cuidado.

Ela mordeu outro pedaço, e eu fiz o mesmo, tentando ignorar o que quer que estivesse acontecendo entre nós.

               Terminamos a comida em um silêncio confortável, como se cada um estivesse absorvendo o que quer que fosse aquilo.

           No carro, Mia parecia mais relaxada. Talvez o clima tivesse mudado depois do lanche, talvez tivéssemos escolhido ignorar o que aconteceu.

Eu dirigi em silêncio, sentindo o cansaço se acumular em meus ombros.

Quando chegamos em casa, ela parou na entrada.

— Obrigada, Jacob. Por hoje.

— Não foi nada.

         Ela hesitou por um momento, como se quisesse dizer algo mais. Mas então suspirou e subiu as escadas.

Fiquei ali, em pé, encarando o nada.

O que diabos estava acontecendo comigo?

Eu não podia sentir isso.

Não com ela.

E, ainda assim…

Não consegui ignorar.

Soltei um suspiro longo e fui para meu escritório.

Eu precisava de um pouco de silêncio.

E, principalmente, precisava colocar minha cabeça no lugar antes que fosse tarde demais.

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