CAPÍTULO 08

        Eu estava tão exausta que mal senti quando meu corpo cedeu ao sono. Nunca, em toda a minha vida, havia dormido tão profundamente. Mas, no silêncio da noite, fui transportada para um lugar diferente…

         O vento quente balançava os campos dourados de trigo ao meu redor, o sol beijava minha pele, e a risada suave de uma menininha ecoava como uma melodia.

Seus cabelos ruivos brilhavam sob a luz, e sua pequena mão segurava a minha enquanto corríamos pela vegetação alta. Meu coração se encheu de uma ternura desconhecida.

Foi quando o vi.

Minha respiração falhou.

— Tim? — Minha voz saiu em um sussurro trêmulo, como um eco perdido na imensidão daquele campo.

Ele estava ali, parado à minha frente, com aquele sorriso que um dia foi meu lar. Seu olhar carregava a mesma doçura de sempre, mas também algo mais… um pesar silencioso, um amor que transcendia a própria existência.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu me aproximava.

— Você veio… veio me ver? — Minha voz quebrou, a emoção apertando minha garganta.

           Tim sorriu suavemente e ergueu a mão, seus dedos traçando um caminho quente em minha pele quando acariciou meu rosto. Fechei os olhos, me perdendo naquele toque, desejando que o tempo parasse ali.

            Então ele encostou sua testa na minha, e juntos olhamos para aquela garotinha que ainda brincava entre os trigos, completamente alheia ao que acontecia.

— Seja forte, meu amor… — Sua voz era um sussurro carregado de emoção, como se cada palavra pesasse em sua alma. — Viva, Mia. Viva por mim.

Minha respiração vacilou.

— Tim…

— Você precisa seguir em frente — ele continuou, sua voz embargada, um brilho úmido nos olhos. — Não se prenda ao que ficou para trás… Eu sempre estarei com você. Em cada batida do seu coração, em cada riso dessa criança…

Uma lágrima escorreu por seu rosto.

— Eu amo vocês.

E então ele desapareceu.

— Tim! — gritei, estendendo as mãos para o vazio.

E acordei.

        Sentei-me na cama de súbito, ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto tentava processar o que acabara de acontecer.

Foi tão real.

Minhas mãos tremiam, e levei um tempo para perceber que lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. Meu coração doía.

Meu olhar foi para o relógio.

Dez da manhã.

Meu Deus.

Meu estômago revirou.

        Eu dormi demais. O que vão pensar de mim? Eu sou uma hóspede… e já acordei tarde no primeiro dia.

Engoli em seco, sentindo um desconforto tomar conta de mim.

Levantei-me depressa, fui ao banheiro e tomei um banho rápido, tentando me livrar da névoa do sonho.

Vesti uma roupa simples, penteei os cabelos e respirei fundo antes de sair do quarto.

Ao descer as escadas, ouvi uma voz feminina chamando meu nome.

— Mia?

Virei-me, vendo uma jovem vestida com um uniforme impecável de funcionária. Seu rosto irradiava gentileza, e seu sorriso era genuíno.

— Sim? — respondi um pouco hesitante, meu corpo ainda rígido, como se não soubesse muito bem como agir.

Ela não pareceu se importar com minha retração.

— Venha, vou levá-la até a sala de jantar. O café já está servido — disse, sua voz calorosa e acolhedora.

Assenti e a segui.

Quando vi a mesa, meus olhos se arregalaram.

Era farta. Inacreditavelmente farta.

           Pães quentes, frutas frescas, queijos finos, ovos mexidos, croissants dourados… Mais comida do que eu poderia comer em uma semana inteira.

Minha barriga roncou baixinho.

          No começo, hesitei. Mas depois… me permiti comer. A cada mordida, senti meu corpo agradecer, e perdi a conta de quantas vezes repeti o prato.

Foi quando ouvi passos firmes se aproximando.

Levantei o olhar e encontrei Jacob parado ali, impecável em um terno bem cortado, sua presença dominando o ambiente sem esforço algum.

— Bom dia, Mia — ele disse, sua voz grave e controlada, mas carregando uma certa suavidade. — Espero que tenha descansado bem.

Engoli rapidamente antes de responder.

— Bom dia. — Fiz uma pausa, tentando esconder o embaraço. — Sim, eu… dormi muito bem.

Ele pareceu satisfeito com minha resposta.

— Ótimo. — Seu olhar avaliou minha expressão por um momento antes de prosseguir. — Venha, quero apresentá-la ao pessoal da casa.

Levantei-me, limpando as mãos discretamente, e o segui.

            No salão, havia vários funcionários alinhados, e no centro deles, uma mulher sentada em uma cadeira de rodas.

Jacob se aproximou, seu rosto suavizando ao olhar para ela.

— Esta princesa aqui — ele disse, sua voz carregada de carinho — é minha adorável mãe, Elina.

A mulher me olhou com uma expressão vaga, como se tentasse lembrar de algo perdido no tempo.

— Mamãe? — Jacob chamou com delicadeza, ajoelhando-se ao lado dela. — Quero que conheça alguém muito especial. Esta é Mia…

A pausa dele foi quase imperceptível.

— Ela foi noiva do seu neto Nathan, mamãe. E está esperando o filho dele.

O silêncio foi cortante.

        Elina piscou lentamente, seus olhos viajando pelo meu rosto, como se estivesse tentando agarrar um fio de memória.

Então, de repente, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios enrugados.

— Você… é linda — ela disse, sua voz fraca, mas gentil.

Minha garganta apertou.

Engoli a emoção e me ajoelhei à sua frente, segurando sua mão delicadamente.

— É um prazer conhecê-la, senhora Elina.

Ela apertou minha mão com suavidade, como se quisesse me sentir melhor.

Jacob observou tudo com um olhar atento antes de se virar para os funcionários.

— Maria — ele disse, chamando a jovem que me guiou mais cedo. — Você ajudará Mia no que for necessário.

Maria assentiu, sorrindo para mim de maneira reconfortante.

— Afonso, nosso porteiro — Jacob continuou, apontando para um homem alto e robusto.

Acenei com a cabeça, cumprimentando-o educadamente.

— Lena, nossa cozinheira. Além disso, é uma grande amiga de minha mãe.

A mulher sorriu calorosamente, e eu retribuí o gesto.

— E este é Leo, o motorista da família.

— Senhorita — ele disse respeitosamente, acenando de leve.

— Mia ficará conosco a partir de hoje — Jacob declarou, sua voz firme e inquestionável. — Ela carrega meu neto e também cuidará da minha mãe.

Um silêncio respeitoso se instaurou.

— Podem voltar ao trabalho.

Os funcionários assentiram e se dispersaram.

Jacob então voltou-se para mim.

— Preciso ir ao hospital agora. E quero levá-la para a consulta com a obstetra. Está tudo bem para você?

Assenti de imediato.

— Sim… claro.

Peguei minha bolsa e, antes de sair, lancei um último olhar para Elina, que ainda me observava com um pequeno sorriso.

Algo dentro de mim aqueceu.

Segui Jacob até o carro, sentindo uma estranha mistura de receio e gratidão.

Eu não sabia como retribuir tudo o que ele estava fazendo por mim.

Mas, naquele momento, uma coisa era certa.

Jacob Frei estava sendo um anjo na minha vida.

Mais populares

Comments

Quase cinquentona🥴🥺😔😩

Quase cinquentona🥴🥺😔😩

Oxi homem, nem perguntou se a coitada já terminou de comer ! 🥴
Até eu fiquei com fome agora.🤭

2025-03-08

0

Ana Marta Benedicto

Ana Marta Benedicto

essa história está me deixando emocionada, que início muito bom /Heart//Heart//Heart/

2025-03-07

0

adelice miranda de aguiar

adelice miranda de aguiar

já li muitos livros, histórias lindas, mas essa até o momento é a mais linda e emocionante

2025-03-07

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!