Depois de uma longa conversa com Axl, ele me trouxe a clareza a qual buscava naquele momento. Envolver-me com Emma, tendo que casar com a Natsumi, só ia piorar ainda mais o nosso maravilhoso leito familiar.
Tendo em vista que a prioridade era manter a "família unida", optei por ficar longe dela o máximo de tempo possível.
Em um dia qualquer daquela semana, fui chamado à presença do tio Elliot. Tudo o que eu não queria, ouvir seu triunfo em relação a mim. Ele sempre teve o controle das nossas vidas e fazia questão de nos lembrar.
Sentado de frente para sua magnífica cadeira, de couro vermelho, assistia-o acender o charuto com toda destreza e entregá-lo a mim. Então começou a me repreender como uma criança.
— Você nunca vai aprender nada, Benjamim?! — Sua fala, abafada pela fumaça a qual expelia, deixava tudo um tanto depressivo.
— Sou obrigado a responder? — Iniciei uma pequena tragada, sentindo o gosto de nozes entre a fumaça rolando sobre minha língua.
— O que quer responder? — A fumaça densa deslizava entre seus lábios. — Não preciso dessas suas palavras inúteis, quero que case o mais rápido possível!
— Ando meio ocupado — outra pequena tragada, permitindo que cada vez mais aquele gosto adocicado envolvesse o meu paladar — O que o senhor pretende fazer?
Tio Elliot levantou, andou até a sacada do escritório abarrotada de estantes de madeira, entalhadas com alguns anjos nas divisórias. Olhando de canto em minha direção, fez um sutil sinal com a mão para acompanhá-lo.
Deixei o charuto no cinzeiro e o segui. Parados, fiquei um passo atrás, o olhando, se apoiava no parapeito de vidro, fitando o grande jardim atrás da casa, o mesmo se estendia para uma vasta floresta nos arredores da propriedade.
— Você sempre foi um estorvo na porrada da minha vida, entre tanto é melhor do que os seus primos, de todos você e somente você está apto para guiar a nossa família nessa maravilhosa empreitada. — Ele ficou de lado e, de modo repentino, segurou minha nuca e me debruçou sobre o parapeito, voltando a falar.
— Sabe, pequeno Ben, se você cair daqui, não vai morrer, mas vai ficar um tempo de molho, com um gesso na perna ou no braço. Eu não quero que isso aconteça com você, você quer?
— Não, senhor! — tentava respirar enquanto tinha a traqueia comprimida pelo ferro do parapeito.
— Então faça o contrato ser selado, não venha com desculpas esfarrapadas e infantis pra cima de mim, a família dela toda foi convidada — ele apertou mais ainda a minha cabeça, lavando a perda completa do ar — já deixei tudo preparado, você só precisa estar lá, segundo pilar, trajando a porra de um terno elegante e sorrindo para os seus futuros sogros, estamos conversados?
Ele espremeu mais minha cabeça, então, com um impulso, soltou. Levantei de modo repentino, enfim, pude respirar. Como odiava o fato de ele ser o próximo pilar principal. De todos, Elliot era a pessoa mais desumana a qual conhecia. Pigarreei, engolindo meu orgulho, olhando para meus pés, os forcei a andar, estando perto da porta, o ouvi balbuciar novamente.
— Ben?
— Sim, senhor! — parei, olhando fixo em seus olhos, sentindo um leve incômodo na garganta.
— Tem algo para me falar? — Sentado sobre sua mesa, ele olhava de modo superficial para mim.
— Os Rurik voltaram para a cidade...
— E? — Ele olhou por cima dos cílios, com a cabeça ainda levemente curvada — Quer mais uma vez seguir com sua vingancinha de quinta série, é isso?
— Sim, senhor.
— Lembre-se de que, quando o pilar principal morrer, será uma nova era, e eu serei essa era, não tolerarei esse tipo de atitude, Benjamim!
Ele retornou a olhar para a sua mesa repleta de papéis.
— Creio que não precise lembrá-lo do seu casamento final de semana que vem, preciso?
— Não, senhor!
— Esteja lá, depois dessa palhaçada, pode caçar quem você quiser.
— Eu sei! — Curvei a cabeça e passei pela maldita porta de vidro. — O que eu mais quero é enfiar uma bala nessa sua boca nojenta! — Cochichei entre os dentes apenas para mim.
Odiava a forma como ele controlava todos nós, a maneira fria e calculista com que lidava com a vida e a morte. Como se fôssemos apenas peças no seu enorme tabuleiro de xadrez. Saia daquela casa outra vez carregando a culpa por não conseguir desvincular essa praga de regra, mesmo sendo conhecedor de tudo o que ele fez, mesmo sabendo a verdade em relação a Emma, precisava confiar que o plano de Sebastian iria funcionar.
Deixou de ser uma questão mesquinha e passou a ser a nossa última esperança quando vovô morresse. Pois assim que o velho fosse para baixo de sete palmos, nada mais conseguiria parar o demônio o qual Elliot Collins carregava.
Na madrugada daquele dia, fui até a casa de Emma, entrei de maneira furtiva, tecendo uma teia de declínios ilusórios de desejos e sonhos, os quais agora nunca se realizariam. Precisava vê-la, nem que fosse dormindo, olhá-la pelos monitores não era mais suficiente. Estava prestes a partir o seu lindo coração. Minha vontade já não seria mais prevalecida.
Sentado na poltrona dentro do seu quarto, ouvia seus resmungos sonolentos, ao mesmo tempo que se mexia na cama e abraçava outro ursinho. Emma sempre foi minha maior preocupação, saber o que ela comia, fazia, quem recebia em casa, com quem falava, não podia estar com ela vinte e quatro horas, foi por conta desses pensamentos que instalei mais de quinze câmeras em todo o quarto, nem seu pai sabia disso.
A luz amarelada do abajur, ao lado da cama, iluminava o contorno do seu belo rosto. Aquela não seria a última vez que a veria, mas, pelo seu próprio bem e o da minha futura esposa, precisaria manter a distância. Nat tinha sofrido demais para passar por uma gestação sozinha.
Meu coração era exprimido por cada pensamento de perder Emma, casar significava lealdade a uma pessoa a qual não amava, não conseguia sentir a mesma coisa que por aquela adorável criatura dormindo de modo tão sereno. Tudo o que sonhei, desejei e almejei algum dia na vida foi soterrado por obrigações as quais nunca pedi.
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Atualizado até capítulo 36
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