Confissões

Sentadas no banco de mármore, observávamos a fonte no meio do jardim rodeado por cravos. Olhava de relance para Maya de vez em quando, tentando criar coragem para contar a ela o que tinha acontecido entre mim e Ben.

— Maya? — murmurei baixo.

— Oi? — Ela me olhou de imediato.

— Ontem o Benjamim esteve aqui... — baixei levemente a cabeça e comprimi as pernas uma na outra.

— E o que tem? — seguia com o olhar instigado.

— Acho que ele gosta de mim do mesmo jeito que gosto dele, mas agora descobri que ele tem uma namorada! Que namorada? Nem eu mesmo sei! E não quero olhar na cara dele até ele pedir desculpas e terminar com essa garota, a qual tenho ódio sem nem mesmo saber quem é! — Soprei o ar entre os lábios e segui respirando pela boca.

— Tá mais calma? — Ela segurou minha mão entre as suas.

— NÃO! E é tudo culpa dele, eu estava feliz na minha ignorância, enquanto o amor era inalcançável, enquanto pensava que ele gostava de mim apenas como prima, mas agora é diferente e, pra completar, ainda tem o London que nunca me deixou às claras o que sente por mim, e isso me deixa tão — levantei de modo brusco e reprimi o grito, dessa forma ficou mais parecendo um gemido alto — aquela cenoura ambulante devia ter ficado feio e sem graça, mas a cada ano que passa ele fica mais bonito, mais viril. Por que Maya? Me diz por que eles tinham que me atormentar assim?

— Emma — ela levantou e segurou nas minhas mãos — senta aqui, você gosta mesmo do London?

— Sim e não, eu não sei!

— E do Benjamim? — Ela apertou minhas mãos.

— Eu amo o Ben, mas é complicado, você sabe disso, ele é bem mais velho e agora tem uma namorada — infantilizei a voz ao dizer namorada — e não sei se quer apenas me comer ou se quer mesmo ficar comigo

— Não sei como te aconselhar nisso, nunca beijei ninguém, mas você devia ser apenas amiga do London, gostar ou ama o Ben, como você fala, já é realmente complicado demais.

— Eu sei, mas o London foi meu primeiro beijo, mesmo a gente ter prometido que nunca mais fosse acontecer, querendo ou não, ele mexeu comigo...

— Você ficou com ele alguma vez? — Vi seu olhar estremecer.

— Não, nos beijamos algumas vezes quando tínhamos treze anos e ano passado, quando fomos ao cinema no dia do meu aniversário, o segurança não ficou conosco lá dentro. — Pensar nisso me trazia o turbilhão de sentimentos.

— Mas quem você prefere?

— O Benjamim, sem sombra de dúvidas, eu prefiro o Benjamim, mas é complicado.

— Então descomplica, é simples.

— Me permite fazer uma pergunta um tanto invasiva? — olhei em seus olhos castanhos.

— Claro!

— Você gosta do London? — apertei suas mãos, sentindo meu coração palpitar de modo descompassado.

Maya virou o rosto. A porta se abriu, surgindo Axl rodando a chave do carro em seu dedo.

— Vamos, já estamos atrasados — ele passou por nós — vai conosco, Maya?

— Melhor não — ela soltou minha mão e entrou rapidamente para casa.

— Aconteceu algo? — Axl repousou a mão sobre meu ombro.

— Acho que sim — olhava apática para a porta — deixa pra lá, vamos ver o vovô.

Entramos no veículo e fui quase todo o percurso ouvindo meu primo cantarolar músicas da banda Nirvana que tocava no som do carro. Olhava para o lado de fora com a cabeça encostada na janela, se não bastasse o London e o Ben, agora teria que lidar com os possíveis sentimentos de Maya em relação àquela cenoura.

Que droga de sensação era aquela, meu estômago revirava, minha cabeça pesava, em meus pensamentos só pairava como Maya tinha ficado, a forma como ela tinha reagido, como nunca notei isso? Ela sempre gostou dele ou era recente? Se gostava, por qual razão nunca me contou? Éramos amigas, não éramos? Pelo menos sempre a considerei como a irmã que nunca tive, sei que escondi alguns fatos sobre a minha vida.

Mas eu ter beijado London era algo que tentava esconder até mesmo de mim, não queria lembrar, não queria que ele quisesse algo comigo, mesmo hoje em dia querendo tirar a roupa dele a cada cinco segundos.

Porra de hormônios, merda de adolescência, agora o internato que minha mãe sugeriu ao meu pai quando eu tinha onze anos veria a calhar, seria maravilhoso me manter longe dos dois.

— Vai pegar fogo essa sua cabecinha? — Axl apertou a minha perna, me fazendo contorcer no banco.

— Para com isso, o que disse? — Olhei-o com o cenho estreito.

— Eu consigo sentir seus neurônios fritarem daqui! — Ele sorriu, olhando para frente. — O que essa cabecinha tanto martela?

— Nada, apenas uma pequena crise existencial... — suspirei fundo, relaxando os ombros.

— Não tenha, sua vida é tão boa, não precisa ter, ainda é tão nova, tem muita coisa para viver. — Sua fala era suave e envolvente.

— Anda pegando o mal do Anthony, tá chapado? — bufei pelas narinas.

— Ainda não, mas falta pouco.

— Fala como se fosse muito mais velho que eu, você só tem vinte anos, não é cinquenta!

— Eu sei, mas vivi mais coisas que você!

— Ah, é! Então me diz como faço para dar pra um pensando em outro? Como mato essa porra de vontade que tenho de transar com o nosso primo e com o London? — Assim que fechei a boca, senti todo o meu rosto esquentar, baixei a cabeça e torci para que ele não dissesse nada.

— Bom, já não sou muito bom nesses assuntos, fico com meninas, mas nunca namorei ninguém, nunca fui apaixonado por ninguém, o que posso dizer a você é que vai passar, seja lá com quem você queira dormir, lembre-se de que você é extremamente proibida de perder a virgindade antes dos dezesseis. Fixe isso na cabeça!

— Eu sei, Axl, minha mãe fala isso quase todos os dias, mesmo sendo uma regra estúpida e ridícula. — Meu coração estava mais calmo — pode me dizer por qual razão existe essa regra absurda na família?

— Bananinha, é mais para preservar a integridade das mulheres da nossa casa, precisamos saber com quem vocês se relacionam, é difícil saber quem quer o nosso mal de fato.

— Só pelo fato de termos dinheiro? Isso não é um tanto mesquinho?

— Um dia, Bananinha, um dia você vai entender — ele parou o carro e apontou para o lado de fora — Chegamos!

Um grande e luxuoso prédio com mais ou menos o tamanho de oito quadras estava à nossa frente.

  

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Comments

Severa Romana

Severa Romana

então ela não ama o Benjamim..quem ama, não tem vontade de ficar com outro..

2025-03-09

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