Puberdade

Os anos seguiram implacáveis e, quando percebi, estávamos comemorando meu aniversário de doze anos. Depois daquele jantar, nunca mais fui obrigada a ir para os eventos familiares, com exceções de aniversários e alguns feriados em particular, como Páscoa e Natal.

À medida que o tempo corria diante dos meus olhos, via Ben cada vez menos. Nunca soube de fato o que aconteceu com a minha mãe e o meu pai na noite em que liguei para ele, e preferi assim. Pois fez minha vida ser muito mais leve, queria apenas viver do melhor jeito possível.

Quando aquele dia raiou, os funcionários e organizadores da minha festa transitavam de um lado para o outro. Meu pai sempre fez questão de fazer tudo o mais requintado e impecável possível. O único problema é que somente meus primos, a família de London e pessoas que meu avô autorizasse poderiam vir à minha festa, nenhuma outra criança que não fosse do nosso leito familiar se aproximava da minha casa, e isso era um tédio sem tamanho.

Mas pelo menos finalmente poderia escolher minha roupa, não ia mais usar aqueles vestidos sem graça, cheios de flores ou babados ridículos. Agora o novo boneco da minha mãe era meu irmão Blake, ele fez dois anos há três meses.

Estava tão animada para a festa, pois Ben tinha me ligado e dito que iria aparecer. Não o via há um bom tempo. Como disse, sempre gostei muito mais dele e sempre foi meio estranho, pois Ben é nove anos mais velho e eu não passo de uma pirralha, como todos os outros dizem.

Tenho primos para dar e vender, a maioria meninos, são chatos sem graça e vivem me chamando de Bananinha, sabe Deus por qual motivo, a única vez que perguntei foi para Anthony que apenas sorriu e bagunçou meus cabelos sem dizer nada.

Todos viriam para minha festa, com exceção das minhas primas mais velhas, Sarah e Charlotte, que moram em outros países. Nunca soube o motivo, para falar a verdade eu não ligo, não convivi muito com elas e a pessoa mais importante que precisava estar lá era Benjamim.

Ele preenche cada pedacinho da minha cabeça com a sua presença, anseio por ele e já não sei mais o que pensar. Diria que do ano passado o gostar se transmutou em algo mais intenso, não o via daquela forma até meu coração clamar por ele, meu corpo o buscar de todas as formas. Sei que ainda não era "grande" suficiente, sei que ele é meu primo, no entanto já não suporto sentir esse calor intenso que tenho em relação a ele fluir sob minha pele.

Parada em frente ao espelho, observa os meus seios que desde o ano passado não paravam de crescer. Será que algum dia seriam grandes o suficiente, igual aos das modelos de biquínis?

Cada parte do meu corpo mudava ao passar dos meses, e isso era algo inquietante. A puberdade não é fácil para ninguém, mas para mim era insuportável. Foi nessa mesma época que passei a reparar em London, o quanto ele estava mais alto que o ano anterior, o quanto ele tem olhos bonitos e suas sardas são uma graça. Temos a mesma idade, mas ele já era quase da altura do meu pai e isso não foi justo.

E eu, a garotinha do papai, não passei de 1,60m. Hoje em dia, ele tem 1,94 de altura e continua absolutamente lindo, mas não vamos nos precipitar e retornemos para a minha festa de doze anos.

Ainda dentro do banheiro, via pequenas gotas de água escorrerem pelo meu corpo quando ouço um som seco vindo de batidas constantes na porta do banheiro.

Respirei fundo, deixando o ar fluir entre os lábios, e, pegando o roupão, coloquei-o em volta do corpo. Meus pés úmidos sentiam o carpete macio grudar nos meus dedos que retraíam a cada passo.

Ao me aproximar da porta, a destranquei e, em seguida, ela se abriu, revelando Anthony segurando a maçaneta de cor dourada, olhando para os meus dedos encolhidos. Era o terceiro mais velho entre os primos homens, tinha dezesseis anos, magro, na época ele não tinha nenhuma tatuagem, hoje em dia ele não tem mais onde pôr tatuagens, caucasiano, cabelos ondulados sempre bagunçados; ele pintava seu cabelo de várias cores, e a cor da vez era rosa. Seus olhos eram únicos na família, pois ele tinha heterocromia; um dos olhos era verde intenso e o outro, castanho.

Pelo menos até meus seis anos, tive medo daqueles olhos.

— Está aí a maior tempão, Bananinha! — ele sorriu, deixando os dentes à mostra.

— Desculpa, mas os outros duzentos banheiros também estão sendo usados? O que você quer!

O empurrei para passar, ele segurou minha mão sobre seu peito, seus olhos ainda eram fixos em meus pés. A mão dele estava impregnada com um cheiro que naquele momento era estranho, hoje em dia não o julgo por viver entorpecido por todas as drogas que usa.

— Que cheiro é esse? — Tentei puxar a mão que ele seguia apertando.

— Que cheiro? — Anthony se aproximou dos meus lábios — esse?

O cheiro de ervas almiscaradas era intenso, me aproximei mais dele, permitindo que os nossos narizes se tocassem.

— Parece que tomou banho com isso... — seguia com os olhos fixos nos dele.

— Está tão forte assim? — Ele cerrou as pálpebras.

— Está! O que é? — ainda grudada nele, continuava a perguntar — Você veio se esconder, não foi?

— Bananinha, se seus pais souberem que estou desse jeito na sua festa, eles vão brigar comigo, então me deixa tomar um banho aqui...

— Vai tirar esse cheiro horrível de você? — Afastei-me, acariciando seu rosto.

— Vai, só que preciso que fique aqui até eu terminar, pois sua mãe pediu pra vir buscar você, então o que me diz?

— Vou me arrumar no closet, não demora!

Anthony me soltou e entrou no banheiro, trancando a porta na sequência. Fiquei com tanto medo daquele cheiro repulsivo se fundir ao meu que me banhei de creme e perfume enquanto vestia a roupa.

Peguei o vestido de alça de cor branca com rosas em vermelho por todo ele, havia-o ganhado de Charlotte especialmente para esse aniversário, uma edição especial da Valentino para a temporada de verão.

Charlotte sempre me deu os melhores presentes, até mesmo que seu irmão. Demorei tanto escolhendo as joias que combinariam com aquela roupa, que fui surpreendida quando senti a mão fria de Anthony em envolta do meu pescoço.

De forma rápida, um calafrio percorreu minha espinha. Segurei sua mão e o afastei com o susto que havia tomado.

— Agora você está cheirando a erva-doce — dei língua para ele e virei de costas — me ajuda com essa gargantilha.

O objeto trançado e cravejado por algumas safiras foi um presente do meu avô no aniversário de dez anos.

— Você a cada dia se parece mais com sua mãe — Anthony beijou o topo da minha cabeça e entrelaçou sua mão à minha — precisamos ir ou sua mãe vai vir à nossa procura.

— Espera... é rapidinho.

Soltei sua mão e corri para o fundo do closet, onde peguei um perfume da Chanel e espirrei em mim e nele.

— Agora sim, aquele cheiro horroroso não está mais em você.

Ele apertou meu nariz e segurou-me, puxando-me para fora do cômodo, fazendo com que eu ficasse igual a uma palhaça. Desse jeito, saímos do quarto e fomos direto para o jardim atrás da propriedade onde quase todos me aguardavam, exceto ele. Ben ainda não havia chegado, o que infelizmente me fez ficar triste a cada segundo que cumprimentava todos os meus tios, primos, amigos do meu avô e alguns parentes por parte da família da minha avó paterna que nunca conheci.

A festa estava perfeita, em tons azuis, várias mesas, flores, louças da mais fina cerâmica, as mesas postas embaixo do enorme teto de vidro do jardim de inverno e comida para um mês, só que nada disso me importava e ficou um pouco pior quando London chegou carregando uma enorme cesta repleta de chocolate e um urso.

Eu sempre amei essas coisas, mas não era dele que queria ganhar. Mesmo que meu coração palpitasse todas as vezes que ele aparecia com aquele sorriso bobo e olhar cheio de paixão, no entanto, não era Ben.

Sentada na cadeira acolchoada de couro branco, com as mãos apoiadas na mesa, o via se aproximar cada vez mais. Próximo à mesa, colocou bem na minha frente, sobre os pratos de porcelana, o que acabou quebrando um.

Mordendo o canto do lábio, ele ficou parecendo um tomate quando ouviu o som da louça rachando. Não aguentei e gargalhei, levantando e o abracei fortemente.

— Posso abrir? — O segurando pela cintura, balançava-o enquanto perguntava.

— É seu! Pode até jogar fora. — London puxou a cadeira para mais perto da minha.

Sentamos e comecei a rasgar o saco apenas para pegar o urso com laço rosa na cabeça. Deixando fluir o cheiro de chocolate misturado ao cheiro de balão entre nosso meio.

— É perfeito! — cochichei próximo ao seu ouvido.

— Mesmo? Gostou de verdade? — apertou minha mão, olhando em meus olhos.

— De todas as formas, eu amei...

— Fico contente, por um instante achei que tinha perdido os parabéns! — Olhou ao redor, vendo as pessoas conversarem e beberem alegremente.

— Estou esperando o Ben.

— Ele ainda vai vir?

— Não sei... — Com o urso no meu colo, averiguei tudo à minha volta, tentando de alguma forma o encontrar.

— Vamos logo cantar os parabéns, por favor, e depois podemos ir ao cinema, sei que você não gosta dessas festas.

— Não sei, London, terei que levar um dos meus primos, sabe disso.

— Não tem problema...

O interrompi, colocando o indicador sobre seus lábios, ergui as sobrancelhas, dizendo:

— Quero esperar o Ben!

Ele levantou seus olhos agora embreados na tristeza.

— Por qual motivo?

— Por que sim!

Com a cabeça erguida, vi seus olhos ficarem levemente vermelhos.

— Está todo mundo aqui, Emma! — Olhando para a mesa do bolo, suspirou — E se ele não vier?

— Então não tenho por que celebrar.

— Você é insuportável quando se trata do seu primo, ele é adulto, Emma, você sabe disso, não sabe?

— O que quer dizer com isso? Só quero esperar ele! — Levantei, deixando o urso sobre a mesa.

— Você é uma chata... — revirou os olhos e olhou em direção ao seu pai — preciso ir.

— Espera, por favor!

— Tenho que ir para o treino; vejo você na escola.

— Vai ficar com raiva de mim? — segurei a blusa polo de cor verde que ele usava.

— Não, desculpe — ele ficou mais retraído — tomara que goste dos chocolates — tchau, Emma!

Não consegui dizer nada e, para mim, ele estava sendo tão egoísta, ele poderia não ir pra aquele maldito treino de vôlei, mesmo assim saiu sem olhar uma única vez para trás.

Retornei ao meu assento, fixada apenas no urso à minha frente, fixei o olhar naqueles olhos brilhantes e amarelos, enquanto pensava em London, meus pensamentos eram invadidos pelos sons das poucas crianças que tinha correndo e falando do modo eufórico pelo ambiente.

O som da grama sendo esmagada era abafado, trazendo à tona o cheiro de relva. E no fundo, London tinha razão, não gostava daquelas festas, nunca foram sobre mim. Poderia parecer que eram para mim, mas preferia mil vezes ir ao cinema com ele do que permanecer ali sendo ignorada por quase todos.

Os adultos sempre usavam aquelas festas como desculpas para tratar problemas com outras famílias, fui tão cega por tanto tempo que até hoje me pergunto como não pude perceber.

As famílias que sempre levavam seguranças, os olhares sérios e cruéis, cochichos pelos cantos, tratamentos formais demais para com todos da minha família.

Ainda sobrepujada pela minha solidão momentânea, vi minha mãe se afastar aos poucos para a lateral da casa, sendo seguida pelo tio Elliot. Todas as vezes que me recordo disso, sinto ódio de mim mesma por nunca ter percebido nada.

Eles sumiram de vista, após alguns minutos meu tio retornou ajeitando a camisa que aparentava faltar um botão, olhou por cima do ombro como se fugisse de algo. Atenta àquela cena, meu coração estremeceu quando meu pai tocou em meu ombro e murmurou:

— Querida, estamos esperando seu primo há mais de três horas, alguns dos seus tios precisam trabalhar, e a Ava quer comer o bolo.

— Papai, espera só mais dez minutos. — A voz por pouco não deixou a minha garganta.

— Não, meu amor, vamos cantar agora, venha, por favor. — Meu pai hesitou, olhando ao redor — Onde o London foi?

— Embora, aquele chato também não quis esperar.

— Tudo bem!

Segurando meu pulso, ele me levou até a mesa onde um bolo de três andares estava.

Parada com um sorriso sem graça ao lado da minha mãe, que parecia mais triste e tinha trocado de roupa. Meu pai parecia nem ter percebido nada, olhava para o fotógrafo chamando sua atenção.

Ao nosso redor, escutava as pessoas me felicitarem, o que mais parecia uma marcha fúnebre, pelo menos estava de acordo com o que sentia naquela hora.

Meu olhar de aversão era tão nítido que minha mãe me beliscou mais de uma vez para sorrir em direção ao fotógrafo. Por fim, assoprei as velas, forcei um sorriso enquanto era abraçada pelos meus pais. Depois disso, veio o ritual de tortura, precisei tirar foto com cada uma das famílias presentes para guardar de recordação.

Aquele foi basicamente meu último aniversário, após essa "magnífica" festa, consegui fazer com que meus pais não fizessem mais nenhuma. Estava cansada de posar como a boneca de porcelana.

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Comments

Sarah Vitória Veloso

Sarah Vitória Veloso

eles tem um caso? e ela é filha dele?

2025-04-04

2

Bela Black

Bela Black

Kkkkkkkkkkk ter peito grande não é tão legal kkk. É ruim pra correr,chama a atenção e muitas vezes te leva a sério assediada, fora que tu vai sentir dor nas costas.

2025-04-07

1

Nefelibata

Nefelibata

o tio seguiu ela... ela trocou de roupa... ela parecia triste... Hummm, considerando que as violências sexuais ocorrem geralmente na clandestinidade (quando n há ninguém por perto) , tenho uma dúvida fundada que rolou algo n consensual

2025-04-04

1

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