Estávamos no ano de 2006, não há muito o que contar, apenas que já estava com quinze anos e nos três anos que se passaram, fiquei mais reclusa, limitando a minha vida apenas à casa, escola e London. Todos os dias, minha alma ficava mais calejada com a falta de Benjamim. Muitas vezes mal recebia uma ligação durante a semana, então compreendi que ele literalmente me via apenas como sua prima.
Em pé na entrada da escola, com a mochila nas costas, admirava o pôr do sol, esperava o motorista me buscar quando London se aproximou, esbarrando em mim. Olhei para o lado e entortei a boca.
— Quem vem buscar você? — Colocando seu braço sobre o meu ombro, cheirava meus cabelos.
— Não cansa de mim, garoto? — sorri, envolvendo sua cintura com meus braços. — Era pra ser meu pai ou o senhor Johnson, mas pelo visto vou ficar aqui até alguém sentir minha falta.
— Por que cansaria de você? Mesmo você sendo a criatura mais chata dessa terra!
Eu soltei o empurrando em seguida.
— Vai embora, cenoura!
— Não quero, vamos caminhar até em casa. — Ele sorriu, me puxando pela alça da mochila.
— Sabe muito bem que se eu for, meus pais vão me matar e outra, você tem noção de o quanto moramos longe? Chama um táxi, é melhor. — Olhando em seus olhos cor de mel, a brisa noturna passou a nos rodear.
— Deixa de ser chata, não vamos morrer se formos andando, o entardecer está tão bonito, iremos ficar bem.
— Bem? London, eu não posso ir ao shopping sozinha — com torcicolo, persistia em olhar em seus olhos — não quero ficar de castigo por sua culpa, seu pai não vem buscar você?
— Meu pai ficou preso no trabalho e minha mãe ficou junto com ele — olhando para a nossa frente, murmurou com o tom coberto pelo sarcasmo — nem todo mundo tem motorista, princesinha!
— Por que sempre fala desse jeito? Moramos no mesmo condomínio, temos o mesmo estilo de vida, nobre senhor!
— Bom, pelo menos eu não tenho medo até da minha própria sombra!
Sorrindo com os dentes à mostra, ele mordeu a língua e me puxou outra vez.
— Eu também não...
— Então vamos logo — ele se afastou passando pelos portões da escola — Vem, princesinha.
— Tá! Mas se alguém me brigar por não ter esperado, vou matar você!
— Ninguém vai brigar com a princesinha deles! — London retrocedeu dois passos e tirou a mochila das minhas costas. — Não vou deixar que nada aconteça com você.
London também estava com quinze anos, mesmo ele parecendo ter vinte, com os seus 1,94 m de altura e os seus músculos torneados.
Por conta do vôlei, ele fazia musculação pelo menos três vezes na semana e treinava quase todo o santo dia.
Odiava achar ele bonito, só de imaginar como ele seria sem roupa meu corpo todo tremia, às vezes tinha que me recordar que éramos melhores amigos e nunca isso poderia acontecer entre a gente, e tinha uma vaga impressão que ele era gay mesmo nunca tendo falado sobre o assunto, mas ele era o único menino praticamente da escola que não namorava ninguém.
Vagávamos pelas ruas de Hoboken, ao som de crianças ainda brincando nos parques, pessoas voltando para casa, o cheiro inconfundível de cachorro-quente na banquinha à frente, algo que comia apenas escondido, já que minha amada mãe não permitia esse tipo de alimento em casa.
Ao passarmos pela barraca pequena e encostada perto da praça, London me parou, segurou o meu pulso e indagou com uma extrema rapidez.
— Quer quantos? — Com a cabeça inclinada em direção ao moço que vendia o cachorro-quente, ele olhava em meus olhos.
— Como assim quantos? — Estreitando o cenho, balancei a cabeça de maneira negativa
— Fala logo ou vou comprar só pra mim. — Ele retorceu os lábios e olhou para a barraquinha.
— Quero dois, seu chato!
Permaneci parada o admirando, comprar quase todos os cachorros-quentes, pois se tinha algo que aquele menino fazia era comer. Com a boca cheia, ele vinha trazendo uma sacola abarrotada de comida, entregou-me um e continuamos a caminhar.
Seguíamos lado a lado, ouvindo apenas a mastigação irritante daquele garoto. Em determinado ponto, ele acabou os "cinquentas" cachorros-quentes que tinha comprado e ainda estávamos longe de casa, quando seu celular começou a tocar sem parar.
— Não vai atender? — O cutuquei.
— Achei que era o seu! — Ele parou, tirou a mochila das costas e passou a revirá-la.
— Esqueci o meu em casa.
Com o telefone em mão, olhava para o aparelho de forma contínua.
— Vai atender ou não? — parei na sua frente, o levando a parar também.
— Estou pensando...
— Atende logo ou desliga.
Enfim, ele atendeu.
— Oi? — olhava para mim cabisbaixo. — Estou indo pra casa junto com a Emma, eu nã... — Ele revirou os olhos e bufou, cerrando os olhos. — Não tem como, eu sei, mas! — suas expressões ficaram cada vez mais expressivas — Estou perto da rua Kenedy, estamos bem na principal em frente ao teatro. Certo!
London encerrou a ligação e olhou no fundo dos meus olhos.
— James vem nos buscar, disse para ficarmos aqui.
— Devia ter dito não! Vamos ficar aqui na esquina parecendo duas garotas de programa?
— Vai cobrar quanto por trinta minutos? — Ele me olhou sério. — Será que pagariam bem por mim?
— Depende!
— Do quê?
— Homem ou mulher? — Seria a hora da verdade para mim, dependendo da sua resposta.
— Tenho escolha? — Ele embolou o beiço e seu olhar ficou meio confuso.
— Claro, se o cliente chegar, você pode optar por não ir, não é assim que funciona?
— É meu primeiro dia e o seu?
— Também! — Me encostei nele. — E agora quanto vamos cobrar?
— Se eu fosse o cliente, acho que nem se vendessem minha casa e os carros do meu pai seria suficiente para ter uma noite contigo. — London me olhou mais sério.
— Bom saber que estou valendo tanto assim, mas acho que deveríamos ser justos e cobrarmos quinhentinhos, acho que é um bom preço.
— Que assim seja, se alguém nos oferecer, eu cobro quinhentos e você é minha cafetina. Beleza?
Comecei a rir de forma descontrolada, quando colocou as mochilas no chão, abriu a camisa de botões e passava a mão no cabelo de um lado para o outro. Os carros passavam buzinando ou falando algo rápido demais para entender, e assim os minutos passaram até que parou um carro, abaixou o vidro revelando um homem de meia-idade.
— Estão perdidos crianças? — Sua voz calma e firme me deu calafrios.
— Não! — London se afastou, fechando a blusa — estamos apenas nos divertindo, mas obrigado por perguntar.
— Nunca vi vocês por aqui, moram perto? — O homem seguia insistindo.
— Senhor, não quero ser rude, estamos bem, mas o senhor não vai ficar se não for embora agora! — London recuou para mais perto de mim e ficou na minha frente.
— Calma, rapaz, estou apenas preocupado com o bem-estar de vocês.
— Devia ter se preocupado com o seu!
Assim que London terminou a fala, ouviu um motor acelerar e bateu de forma proposital na traseira do veículo, fazendo o homem ricochetear. Segurei-me nos braços de London, no momento em que vi o homem sair do carro furioso, fechou a porta com força, eu espremi meus olhos, então ouvi um outro carro frear bruscamente, abri novamente os olhos e, olhando por detrás do braço de London, vi um carro preto parado ao lado do homem.
E sem mais nem menos, James saiu do veículo com a arma em punho, apontando para o tal homem. Nunca tinha visto aquela fúria nos olhos dele. James tinha dezoito anos, é moreno, com sorriso encantador, cabelo curto, vários brincos nas duas orelhas e tem os dois braços fechados por tatuagens.
— Boa noite! Posso lhe ajudar? — James perguntou ao homem
— Você pode me ajudar? Você bateu no meu carro, babaca dos infernos!
James sorriu, logo em seguida saíram mais três homens do veículo que tinha batido no automóvel do homem. London me segurou e passou a me puxar para sairmos dali.
— Espera, garoto, meu primo! — olhava a cada segundo para trás.
— Ele está onde quer estar, vamos para casa, Anthony está nos esperando duas ruas acima.
— Como pode ter certeza? — Tentava puxar meu braço que era espremido por seus dedos.
— Não interessa!
London seguiu me puxando até avistar o carro de Anthony com ele sentado sobre o capô.
— Estavam vindo no casco da tartaruga, demoraram muito! — Ele propagava a sua voz até nós.
Nos aproximamos e London embarcou sem olhar para Anthony, sentando na parte de trás junto comigo. Seguimos calados. Quando meu primo parou em frente à minha casa, ele balbuciou:
— Bananinha, o que aconteceu hoje? — olhava por cima do ombro.
— O que você quer falar com isso? Não sei! — Alternava o meu olhar entre ele e London.
— Exatamente, Bananinha, eu me atrasei para buscar você, e foi isso, entendeu? — Anthony segurou firme na minha mão.
— Você está me machucando!
— Perguntei se entendeu, Emma? — Sua voz soou mais firme.
— Sim! — murmurei.
— Tudo bem, pode sair, vejo você mais tarde. — Ele voltou a ter o sorriso besta que era fixo em seus lábios.
Virei para London, que seguia calado, olhando para frente.
— Não vai descer comigo? — Apoiei a mão sobre a sua.
— Não, Emma, o Anthony vai me deixar em casa, nos falamos depois — ele forçou um sorriso.
Mesmo desacreditada no que tinha acontecido na última hora, peguei minha bolsa e desci do carro. Não entendia como passamos de uma brincadeira para algo daquele nível e o pior, todos os três pareciam saber o que houve ali, exceto eu.
Com os pensamentos conturbados, repassava outra vez o que tinha ocorrido, o que James havia dito naquela ligação para London, como eles sabiam que aquele cara iria estar ali. Passando pelas portas, mal notei que minha mãe me aguardava no hall.
— Por qual motivo demorou tanto? — Seu olhar estava apreensivo, olhando cada parte do meu corpo.
— Anthony chegou tarde — forcei um sorriso amarelo.
— Vou comunicar isso a seu pai, já passa das sete da noite, devia ter chegado em casa há duas horas. — Ela acariciou meu rosto — Você tem uma visita.
— Quem? — Meu coração palpitou.
— Seu primo Ben...
Não ouvi nem uma palavra depois de Ben, sua voz ficou distorcida e distante, larguei a bolsa no chão e corri para dentro da sala de visitas, abri as portas com toda a força, levando a fazer barulho, quando o vi parado sorrindo em minha direção. Naquele momento, tudo dissipou da minha mente, só de vê-lo fez meu coração não caber em meu peito.
Não conseguia parar de sorrir, dando pequenos pulinhos, saí correndo em sua direção e o abracei com toda força, sentindo o seu cheiro entrelaçado ao meu. Eu havia mudado, mas ele continuava o mesmo de sempre, suas mãos geladas seguravam o meu rosto e a única coisa que conseguia pensar era: e se eu o beijar?
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Paloma Sousa
autora você está fazendo eu shipar eles, estou certa com esse ship?
2025-04-04
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Paloma Sousa
poisé amiga, ele tá com outra
2025-04-04
1
Paloma Sousa
aaaah faz isso não pelo amor de Deus!!!
2025-04-04
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