Nas semanas seguintes, fiz o mesmo de sempre, vigiei Emma quase todos os dias, fazia tudo o que tio Elliot mandava, tentando apagar o que tio Sebastian havia me contado, minha mente repassava cada pequena sílaba tentando desacreditar naquilo. E assim seguir a minha vida.
Pouco antes do meu aniversário de dezoito anos, parti junto com meus tios para a Rússia. Eles iriam interceptar uma carga de extrema importância, mas meu único objetivo era matar Ivan Rurik com as minhas próprias mãos, e seria saboroso ao extremo matá-lo em sua própria casa.
Chegamos naquele país, sucumbindo à ruína e prostituição, um mês antes do necessário, pois meus tios precisavam avaliar o risco da missão. Usei todo esse tempo para estudar o cotidiano do Rurik: observando seus hábitos, rotinas e movimentos. Queria saber o que faziam ou deixavam de fazer, o que comiam, onde dormiam, e quais eram os dias mais propícios para saírem da fortaleza que chamavam de lar. Fiquei obcecado, mal dormia, comia ou bebia, determinado a pôr um fim na vida daquele indivíduo repugnante.
Uma semana antes do planejado, descobrimos que Ivan estaria transportando a carga que meus tios desejavam. Era uma oportunidade única, pois apenas ele e o irmão mais novo estariam envolvidos. Seria como tirar doce de criança. Na noite da operação, chovia bastante, mas mesmo assim decidimos prosseguir.
Eram exatamente 23h quando demos início ao plano, em uma enorme avenida de São Petersburgo. O momento perfeito. Estávamos em dois carros, um total de dez pessoas altamente armadas. Dirigíamos a uma velocidade normal, quando meu tio avistou o carro deles pelo retrovisor e não permitiu que eles passassem. O primeiro solavanco fez com que eles diminuíssem a velocidade e tentassem fugir, mas meus tios estavam determinados a pegar o disco rígido, que continha informações valiosas para nossa família.
Outra batida e os fez parar. Nossos carros derraparam, fazendo nossos corpos serem projetados contra os vidros, desse jeito pararam em frente a eles. Todos desembarcaram, descarregando suas metralhadoras sobre o veículo dos alvos. Finalmente, conseguimos romper a barreira que protegia o carro deles, e para nossa sorte, havia apenas três integrantes: o motorista, Ivan e Andrey.
Meus tios correram para impedi-los de fugir, agarraram Ivan e o arrastaram até mim. Em seguida, um dos nossos homens colocou Andrey de joelhos ao lado do irmão. Olhei nos olhos de Ivan, pisando com firmeza sobre seu peito, e disse:
— Boa noite, Ivan! Lembra-se de mim? Vim devolver a bela cicatriz que fez em mim, seu russo imundo! — Olhar para ele de cima já era uma visão mais do que satisfatória.
— Oi, Benjamin, ficou com medo da última vez?! Resolveu então trazer os tios... seu cuzão de merda...
Como ele tinha coragem para falar algo daquele tipo, tendo uma arma apontada para sua cara?
— Eles só querem a carga, eu quero estourar esses seus miolos. Seu porco sujo! — Naquela fração de segundo, me controlei para não apertar o gatilho.
— A carga já foi entregue... — Falando de modo sereno, me deixava com mais raiva ainda.
— Então não precisamos mais de você!
Engatilhei a arma, sentindo meu corpo vibrar de raiva. Inconscientemente, apontei-a na direção em que ele havia cortado meu pescoço. Ao olhar para o rosto assustado de Andrey, vi a inocência em seu olhar, o que me fez lembrar dos meus primos que estavam prestes a entrar nesse estilo de vida maldito.
Disparei contra Ivan apenas uma vez, e o sangue jorrou longe, formando uma poça em questão de segundos. Em seguida, direcionei a arma para a testa de Andrey, quando ouvi a voz do tio Sean.
— Vamos, Ben, deixa ele... vivo! — segurou meu ombro e apertou com firmeza.
— Ouviu, moleque? Hoje é seu dia de sorte; corra para junto do papai!
Viramos as costas, entramos no carro e partimos, deixando Andrey para testemunhar a morte de seu próprio irmão. Se eu soubesse que Andrey se tornaria um gigantesco iceberg no meu futuro, teria-o matado naquele dia.
Retornamos para casa uma semana após o ataque, apenas para descobrir que Ivan havia sobrevivido. Coloquei toda a culpa no meu tio; se ele tivesse permitido o assassinato de Andrey, não teríamos que lidar com o fato de Ivan ainda estar vivo.
Foi uma das viagens mais frustrantes, pois meu objetivo não foi alcançado, e quando retornei, tudo pareceu desmoronar. A cada dia, tornava-me mais semelhante aos pilares principais: cruel, sem piedade ou arrependimento. Onde quer que fosse, uma trilha de sangue seguia-me.
Nos cinco anos seguintes, testemunhei minha irmã ter mais dois filhos para aqueles comedores de massas. Acompanhei a amargura de Sarah, que estava destinada a seguir o mesmo caminho que Charlotte: casar-se com alguém que mal conhecia. Meus primos também mergulhavam cada vez mais nessa penumbra sem fim que era a nossa vida.
Ao longo dos anos, testemunhei a transformação de cada um deles. O primeiro foi Axl, o mais próximo de mim. Ele foi enviado para passar dois anos na Alemanha e chorou como um bebê. Tentei impedir sua partida, mas foi tudo em vão. Assim como todos os outros que o seguiram, quando retornavam, eram pessoas completamente diferentes.
Axl foi treinado para ser o defensor das águas, incumbido de garantir a unidade da família e fazer cumprir as leis da nossa casa. Além disso, foi altamente treinado em combate corpo a corpo.
Depois dele, foi a vez de Anthony. Ele assumiu o papel de carrasco secundário, talvez a função mais desumana de toda a organização. Sua tarefa era torturar e estuprar mulheres que traíam a família, o que o levou a executar suas ações sempre sob o efeito de drogas pesadas.
Assim como Axl se entregava à automutilação para escapar da realidade, Anthony fugia para o seu próprio mundo. Meus outros primos levaram um pouco mais de tempo para seguir o mesmo caminho.
James, por exemplo, foi designado como caixa secundário, responsável por administrar o dinheiro junto com o tio Sebastian, conhecido como o caixa principal. James aprendeu o básico: lutar, montar e desmontar armas e ser habilidoso com todas elas.
Passei toda a minha vida observando-os afundarem lentamente, sem poder fazer absolutamente nada. Era doloroso ver Axl se cortar para aliviar sua dor, Anthony se afundar cada vez mais nas drogas e James buscar amor em diversas pessoas.
No entanto, algo essencial para ser o futuro pilar principal era que eles fossem devotos a mim. E foi isso que fiz. Ao longo dos anos, tornei-me alguém em quem podiam confiar, a quem podiam recorrer e, principalmente, alguém que poderia protegê-los caso algo acontecesse. Eles eram meus bens mais preciosos depois de Emma.
Fiz disso a minha maior missão: tornar cada um deles meus aliados, não apenas uma ligação pelo sangue, mas algo maior, uma união que conseguiria transpassar qualquer barreira ou complicações. Não queria escravos iguais aos nossos tios, eram para o tio Elliot, eu precisava de amigos e cúmplices.
Necessitava que eles confiassem cegamente em mim, assim como confiaria neles. Buscava formar um laço inquebrável, tornaria a nossa casa mais forte do que as gerações passadas apenas sonhavam. Eu, o pilar secundário, tornaria isso em realidade.
Esse era o objetivo, o único empecilho era o sentimento em relação a Emma que crescia e ficava a cada ano mais forte que o anterior.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Lucas Cardoso
os russo são osso duro de roer aprendi isso desde que assisti rock IV
2025-04-03
2
Sophia
Osh ??? Assim como o Ben voltou para se vingar ele pode muito bem voltar e fazer a mesma coisa. O avô dele que fazia o certo em não deixar ninguém vivo
2025-04-04
1
Nefelibata
Não deveriam. Eles sempre voltam pra se vingar
2025-04-04
1