Reunião

Buscava fugir daquela situação ou faria a maior merda que poderia fazer, tudo em mim doía, a cabeça, ombros, cada molécula, as mãos ficaram adormecidas. Sem falar no quanto meu pau latejava. Os olhos estavam fadigados, se eu consumisse qualquer coisa ali, tio Elliot iria me matar.

Saí da sua casa como um fugitivo noite adentro, meu corpo todo formigava quando entrei no carro, tentava controlar a minha respiração, tinha ido até ela justamente para matar de uma vez o que sentia a seu respeito, mas em vez disso permiti que o sentimento aflorasse ainda mais, e sabendo que ela provavelmente sentia o mesmo por mim, tornava tudo muito pior.

Não ter a certeza se Emma me amava ou queria apenas transar tornava as coisas um pouco menos intensas, pois se ela quisesse apenas sexo, nunca daria isso, não a usaria apenas para o meu bel-prazer, visto que a queria para o resto da vida.

Trafegando pelas escuras e sem vida ruas do condomínio, forçava os pensamentos impuros e tortuosos a se dissiparem. Precisava estar na porcaria da reunião mensal, centrado em tudo que fugia entre meus dedos, e tê-la em minha cabeça dificultava minha concentração.

Deixei todo o meu egoísmo e conflitos quando saí pelo portão principal do seu condomínio, tomando cada vez mais as ruas até a residência principal da família.

Próximo do local, meu telefone passou a tocar sem parar, o tirei do bolso e vi o número do tio Elliot, não atendi, apenas coloquei o aparelho perto da marcha do carro e acionei o botão para entrar na propriedade. Mais calmo, estacionei o carro ao lado dos outros e desci. Passando por várias portas, salas, estátuas infernais, quadros intermináveis e o corredor que não parecia ter fim.

Cheguei ao enorme salão oval, todos os pilares e primos estavam sentados à minha espera.

— Finalmente! — Com um sorriso nos lábios, expressou-se Elliot — pensei que seus primos iriam trazer você para mim a retalho! — Ele bateu o punho sobre a mesa — Senta logo na porra dessa cadeira, moleque, estamos esperando a donzela resolver aparecer há mais de vinte minutos.

— Muito rude da sua parte, Ben... — com um bico enorme na boca, disse tia Sophia.

— Perdoe-me, tia, não foi por mal. — Puxei a cadeira acolchoada com destreza e sentei à direita do pilar primário.

— Enfim, cambada de inútil, esse mês o balanço foi terrível, repugnante, tive um déficit de bilhões! Que porra aconteceu? — Tio Elliot bradava, dirigindo-se a todos.

— Elliot, perdemos quase três toneladas de cocaína quando o cargueiro afundou! — de cabeça baixa e fala mansa, dizia tio Andrew.

— Deixa eu entender, por conta da sua burrice, por ter permitido ou até mesmo ordenado um carregamento dessa magnitude, vim apenas por um único meio de transporte, todos pagaram o parto, e o caixa fechou no vermelho, é isso? — Elliot bufava de modo proposital.

— Eu-eu, não...

— Cala a boca, eu não sei como você vai fazer, se vai virar o Aquaman ou Poseidon, mas quero aquela mercadoria, e nem vem com desculpas esfarrapadas, próximo?

— Nada a declarar, não tive perdas. — Com toda delicadeza, disse Sophia.

— Pelo menos isso, já que não consegue trazer clientes novos, vai brincar de cafetina até quando? Organize melhor os seus adoráveis meninos ou pode dar adeus ao seu negócio, que irei passar para outro tomar de conta.

No mesmo momento em que ocorria aquele falatório sem fim, observava meus primos com os olhares vazios e cruéis. O mais novo deles, Noah, havia retornado da Alemanha há cerca de quatro meses, com base nos relatórios semanais que tive no período da minha ausência.

Embora tivesse apenas quatorze anos, ele tinha a função de cumpridor de profecia, sendo o atirador de elite mais preparado de todos nós.

Tio Elliot continuava a reclamar sobre nossa incompetência, mas a única coisa que pairava na minha mente era a voz de Emma. Por fim, aquela tortura acabou, tendo em vista que todos saíram sem se despedir. Chamei apenas os meus primos para irem comer algo, precisava saber o que de fato havia ocorrido durante aqueles três anos.

Nos dividimos em dois carros e fomos a um restaurante no centro da cidade, o qual pertencia à nossa família. O ambiente propício para nós nos permitia sermos reais, não precisava de formalidade ou escondermos para satisfazer o alter ego de terceiros.

Entramos no local, que ostentava quatro estrelas, refinado e de aparência rústica, fomos acomodados em uma sala VIP, longe de todos. Com a fumaça ao nosso redor, os copos cheios e os pratos devidamente servidos, iniciei a conversa sobre o que realmente pretendia dizer a eles.

— Quero saber de tudo, absolutamente tudo. Pela pequena conversa que tive com Anthony, parece que estou sendo enganado. O que quero saber é por que nenhum de vocês pensou em ligar para contar qualquer coisa que fosse?

Axl me olhava com a cabeça curvada, James repousou no encosto balançando a cabeça de forma negativa, Noah parecia não saber de que se tratava aquela conversa e Anthony seguia balançando a cabeça em concordância.

— Ninguém tem nada para me dizer! — Elevei um pouco mais a voz.

— Ben! — Axl levantou a cabeça — está se referindo a quê?

— Por qual motivo a Ava e a Emma não são mais vigiadas vinte e quatro horas?

— O tio não disse, apenas nos falou que elas não precisariam mais de proteção... — meio como um murmúrio, James falou.

— É isso, Anthony? — Olhei para ele, que estava com a cara afundada no prato de comida, com a boca completamente cheia de sushi.

— Sim! — engoliu a base de conhaque — Tio Elliot nos reuniu um certo dia e apenas falou que elas não seriam mais vigiadas.

— Tem alguma coisa errada aí, desembucha, Axl, você é o único que parece saber o que de fato aconteceu! — encostei-me na cadeira e coloquei os pés sobre a mesa, olhando-o de modo constante.

— Por qual razão acha que eu sempre sei de tudo? — Ele seguia com a cabeça baixada, mastigando o salmão de modo lento.

— Você é o único em quem os tios confiam! Mesmo eu sendo o pilar, eles acreditam fielmente que tramei alguma coisa contra a família...

— E você trama? — Observando-me pelo fundo da taça, James gesticulou.

— Se eu tramasse, vocês seriam os primeiros a saber, agora — retornei a olhar para Axl — Fala de uma vez, sei que está mentindo para mim.

Axl finalmente ergueu a cabeça, estufou o peito, colocou as mãos sobre a mesa e se expressou.

— O primeiro pilar contratou um segurança particular para a Ava e designou o London para reparar a Emma, já que ele passa o dia inteiro com ela. — Ainda olhando em minha direção, ele voltou a se curvar e a comer.

— Entendo, mas o London não tem tanto treinamento assim, se acontecesse qualquer coisa com ela, será que ele daria conta? — Olhando a fumaça do cigarro de James se esvaecer pelo ar, permiti que meu pensamento transbordasse entre meus lábios — Ele não está à altura de proteger minha mulher...

— O quê? — Anthony e Axl falaram no mesmo instante.

— Ben? — James olhava sério para mim. — Que merda você fez? Dormiu com a Emma?

— Não! E não foi por não querer; mas sim, eu amo aquela garotinha — suspirei, fechando os olhos.

— Agora sua devoção faz mais sentido — Anthony dizia outra vez com a boca cheia.

— Desde quando? — Axl disse de forma baixa e retraída.

— Desde sempre, desde que a vi pela primeira vez, desde que ela impregnou minha alma com seu sorriso, carinho, amor e sua beleza única. Desde que meus olhos cruzaram com a bondade nos dela. — Soltei o ar que sem perceber o prendia, abrindo os olhos, dei de cara com todos me observando.

— Mas você não trouxe uma moça? — Noah perguntava com os olhos confusos, ao mesmo tempo que coçava a cabeça.

— Trouxe sim; mas quero lhe dar com isso depois, depois da Emma fazer dezoito anos, agora ela é apenas uma menina, insegura, indefesa, confusa, repleta de hormônios. O que me leva a pedir algo a vocês. — Todos permaneceram em silêncio — A partir de hoje, a considerem como minha mulher, independentemente de qualquer outra ordem, independente se vocês são a favor dessa relação ou não, vocês devem a proteger com a própria vida, fui claro?

— Sim, segundo pilar. — Um coro se formou entre eles.

— Mas e os pilares? — Conseguia ver o temor nos olhos de Noah.

— É simples, sigam as minhas ordens que eu protegerei vocês de todos os pilares!

— De todos? — James gesticulou rapidamente, erguendo as sobrancelhas.

— De todos, isso inclui o futuro pilar principal, tio Elliot nunca vai ter o que eu tenho.

— E o que seria, Ben? — Com o cigarro entre os lábios, Anthony resmungava.

— Vocês, eu tenho o amor e a lealdade de vocês, coisa que nenhum deles conseguiu, apesar de serem irmãos, são indivíduos que pensam apenas no próprio umbigo. Eu penso em vocês como parte do meu corpo, então ajam como tais.

Um suspiro de alívio surgiu entre todos, pareciam ter passado um grande aperto durante os últimos três anos. Creio que tio Elliot pensou que se pressionasse eles ou me mandasse para longe, iria quebrar o elo que temos entre nós, mas para a infelicidade daquele filho da puta, sou mais forte e presente na vida dos meus primos como ele nunca sonhou em ser na vida dos irmãos.

Centrado na minha taça de vinho, seguia ouvindo meus primos falarem como iríamos prosseguir com as novas mercadorias que chegariam da Venezuela, juntamente com a nova remessa de produtos vindos da Bósnia. Estava prevista a chegada de cerca de dez coelhos para a Casa Verde, e todos teríamos que estar preparados, pois a primeira semana sempre era uma tortura.

Encerrei o jantar e me despedi deles com a certeza de que haviam entendido os meus sentimentos. Precisava voltar para Nat e sabia que não seria fácil ter a conversa que precisaria ter com ela.

Percorri todo o caminho de volta pensando na Emma, se ela já estaria dormindo, como tinha ficado depois que saí de sua casa. Necessitava ouvir ela dizer que me amava, só que não queria forçar isso, não queria tomar medidas que viessem a me arrepender, mas também não queria enganá-la.

Foi com esse pensamento que cheguei ao apartamento dos meus pais. Estacionei o carro e o desliguei, peguei o celular e liguei para ela. Nem sabia se ela atenderia, mesmo assim persisti.

— Alô? — Sua doce voz ecoava do outro lado.

— Por que ainda está acordada? — Com a cabeça encostada no banco, fitava os carros à minha frente.

— Estava pensando em você! O que vai fazer amanhã? — pronunciava de forma pausada.

— Trabalhar, por quê?

— Almoça comigo amanhã, assim podemos ficar um tempinho juntos!

— Não vou prometer. Já passei a noite longe da Nat, e preciso acomodá-la antes de ir trabalhar, mas quem sabe! — articulei de uma forma tão natural que mal percebi.

— Quem é Nat? — O tom na sua voz trazia a curiosidade fundida à tristeza

— Desculpa, Bananinha, — a minha língua pesou, não queria falar dessa forma para ela, devia ter dito quando a vi e não pelo celular, compliquei mais ainda nossa vida — mas é minha namorada.

Não ouvia nada do outro lado da linha, nem mesmo sua respiração. Esperei alguns segundos, mas ela permaneceu muda.

— Emma, fala comigo!

— Por que não me contou isso antes?

— Não sei...

— Achei que... esqueça, vou dormir agora.

— Está com raiva de mim? Não desligue, por favor!

— Acho que raiva não seria a palavra certa, Benjamim, só estou confusa.

— Me perdoe, sei o que fiz mais cedo, eu também estou confuso, me espera, estou indo aí.

— Não! Não quero falar com você agora. — Podia ouvir a melancolia em sua voz.

— Emma?

Ela encerrou a ligação. A conversa deixou um gosto amargo na boca. Emma parecia distante e sabia que havia ficado chateada, mas não tinha como esconder esse fato por muito tempo. Não ia mandar Nat de volta, ela havia acabado de chegar e se Emma descobrisse por outra pessoa, iria ser bem pior.

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