Provocações.

O carro cortava a cidade no silêncio da manhã, mas dentro dele a tensão era densa, quase sufocante. Eu estava no carro da frente, ao lado de Noah, enquanto Enzo dirigia. Théo e Suzan vinham atrás de nós em outro carro, nós buscávamos pelo pai de Ana, Suzan já tinha dito que a esposa queria adotar Laura e sabíamos que elas não sairiam das nossas vidas mais.

O lugar para onde íamos era um buraco, um canto imundo onde os rejeitados do submundo se escondiam. Era ali que o homem que deveria ser o pai de Ana passava os dias, se envenenando com drogas e jogando sua vida fora, traficantes como eles não eram nada, se deixavam envolver pela substância que podia facilmente os deixar ricos e acabam sem nada.

Assim que estacionamos, o cheiro azedo de urina e substâncias químicas bateu forte. Algumas pessoas olharam para nós, arregalando os olhos ao reconhecerem quem éramos, outros não tinham a real noção por estarem drogados demais. A máfia Mansur não costumava aparecer naquele tipo de lugar. Mas ali estávamos, prontos para resolver de vez o futuro de Ana.

Seguimos para dentro de um galpão sujo, onde homens e mulheres se empilhavam em colchões velhos, alheios ao mundo ao redor. E então o encontramos.

O homem que gerou Ana era um nada. Magro, ossos saltados, pele amarelada e olhos injetados. Um zé-ninguém, afundado na própria miséria. Ele estava sentado num canto, segurando um cachimbo de crack, e olhou para nós com um misto de surpresa e desdém.

Noah avançou primeiro, sua presença dominando o espaço.

— Você é o pai de Ana Bonfim? — ele questionou com a voz firme e o ódio eminente.

O homem deu uma risada seca.

— É, um dia tive uma filha, sim, e daí?

Meu sangue começou a ferver.

— A mãe dela morreu — Noah continuou. — Sua filha de três anos ficou sozinha.

O homem nem piscou. Somente bufou e zombou ascendendo aquela porra:

— Aquela vadia morreu? Era só questão de tempo, não sei como sobreviveu sem mim por três anos.

Um estalo ecoou pelo galpão, quando minha raiva explodiu e minha mão agarrou a gola da camisa imunda dele. Noah me lançou um olhar de advertência, e eu o soltei com relutância, mas minha respiração era pesada.

O desgraçado riu da própria situação e cuspiu no chão.

— Então o que vocês querem? Não vão me dizer que tão aqui por causa daquela pirralha.

— Você não merece chamá-la de filha — rosnou Enzo, cruzando os braços, o nojo estampado em seu rosto.

O homem bufou e se recostou na parede suja.

— Vocês querem ela? Levem. Coloquem num prostíbulo qualquer, é para lá que ela vai acabar indo mesmo.

Eu não vi mais nada. Não pensei, não raciocinei. Somente senti a fúria tomando conta de mim enquanto meu punho acertava o rosto dele com força suficiente para fazê-lo cambalear e cair de lado. O sangue escorreu de seu nariz, e ele gritou um palavrão, mas eu já estava em cima dele, pronto para quebrá-lo por inteiro.

— Ela não é sua filha! — rosnei, puxando-o pelo colarinho. — Ela nunca será tratada como você acha que pode tratar!

Os olhos dele finalmente mostraram medo.

Noah puxou meu ombro, forçando-me a recuar. Ele se abaixou e olhou para o verme no chão.

— Ana agora pertence à máfia Mansur — declarou, a voz fria e cortante. — Rafaela Mansur e Matheu vão adotá-la. Ela será nossa, espero que se mantenha assim até morrer e nunca mais pense nela, minha sobrinha terá do bom e do melhor enquanto você agoniza em seu próprio veneno.

O homem riu, cuspindo sangue.

— Se querem tanto, me deem um bom dinheiro por ela, afinal é minha filha né..

Antes que qualquer um de nós pudesse reagir, meu punho encontrou o rosto dele mais uma vez. O barulho do impacto ecoou pelo galpão, fazendo os drogados que ainda estavam conscientes recuarem.

— Você não vale nada — sibilei, meu peito subindo e descendo com fúria. — Você não vai ganhar um centavo.

Noah observou o homem no chão, agora gemendo de dor.

— Você já está morto para ela — sentenciou.

E com isso, nos viramos e saímos, deixando aquele lixo para trás. Ana nunca ouviria falar dele. Nunca mais precisaria carregar aquele sobrenome podre. Ela agora era nossa.

O retorno para casa foi silencioso. O peso do que aconteceu ainda pairava sobre nós, mas algo dentro de mim já estava decidido. Ana não tinha mais nada a ver com aquele homem. Ela era nossa agora.

Assim que cruzamos os limites da mansão, avistei Rafaela e Sofia no gramado, estendendo uma toalha sobre a grama. Um lanche simples, feito com carinho, provavelmente para rir um pouco.

Laura, com sua doçura natural, se aproximava com outra menina, Ana parecia muito à vontade para interagir, ela se aproxima ao lado de Rafaela, sentando-se no pano estendido com uma pequena mão agarrada a perna dela e convida Laura e a tia para sentarem esticando um donut.

Noah se virou para mim, os olhos sérios, mas o tom de voz leve:

— Vá até elas. Depois venha até o escritório.

Eu assenti e segui em direção ao jardim, Théo e Suzan fizeram o mesmo.

Assim que Ana me viu, seus olhos brilharam. Num instante, ela largou a comida e disparou em minha direção, os braços abertos.

— Príncipe Matheu!

Ela pulou no meu colo sem hesitação, e por um momento eu congelei. Eu, que não sabia lidar com crianças, me vi segurando aquele pequeno ser com delicadeza, protegendo-a como se fosse algo precioso, segurei as lágrimas ao saber que ela pulou porque confiava em mim e diferente do genitor eu faria tudo por ela.

— Eu estava morrendo de saudade — murmurei, minha voz saindo mais suave do que eu imaginava.

Ela sorriu, afundando o rosto no meu ombro.

Olhei para Rafaela, que me observava com apreensão, como se esperasse alguma resposta, um sinal. Eu apenas acenei com a cabeça.

Seu corpo relaxou e ela se moveu me puxando para sentar ao seu lado.

Ana virou o rosto, me olhando com curiosidade.

— Rafaela me contou a história — disse ela, animada. — O príncipe Matheu e a princesa Rafaela ficaram juntos!

Eu sorri, ajeitando uma mecha dos cabelos dela.

— Sim, mas ainda tem o final da história... O príncipe Matheu e a princesa Rafaela tiveram uma filha muito linda chamada Ana.

Ela arregalou os olhos, apontando para o próprio peito.

— Eu?

Rafaela declarou e respondeu com firmeza:

— Sim.

Ana suspirou e, sem hesitar, se encolheu contra nós duas. Eu olhei para Rafaela, e vi algo nos olhos dela que me atingiu com força: amor. Amor puro, real e inegável.

Suzan sabia que Laura não tinha ninguém, então os destinos delas estavam decididos.

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Comments

Andrea Freire

Andrea Freire

Que bom que as crianças vão ser adotadas

2025-03-10

0

bete 💗

bete 💗

adorando ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-03-11

0

Ver todos

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