Elas confiavam em mim.

O coração ainda martelava no meu peito, e minhas mãos estavam frias, apesar do calor sufocante no carro. A emboscada havia sido rápida, brutal, e tudo o que eu conseguia pensar era no som das balas atingindo a lataria.

A estrada parecia infinita enquanto Matheu mantinha as mãos firmes no volante, dirigindo em alta velocidade para nos tirar dali. Eu queria acreditar que estávamos seguros agora, mas a tensão no ar dizia o contrário.

Meus olhos foram para o retrovisor, buscando o carro de Noah. Ele estava ali, intacto. Quando vi o rosto do meu irmão, senti um aperto sufocante no peito. Eu queria tanto abraçá-lo. Queria sentir que aquilo tinha passado de verdade, que não éramos mais alvos de um homem enlouquecido.

Mas a imagem do carro cercado ainda estava viva na minha mente. O medo de morrer ainda estava grudado em mim.

Engoli em seco, fechando os olhos por um instante. As crianças. Meu Deus, e se tivessem conseguido nos parar? E se aquele ataque tivesse sido antes, quando ainda estávamos na comunidade?

Abri os olhos de novo, buscando Matheu ao meu lado. Ele estava tenso, os olhos escuros focados na estrada à frente, uma mão ainda segurando minha perna, como se quisesse me garantir que eu estava ali, ele sempre foi assim protetor, mas agora era como meu noivo, meu herói, meu amor.

O portão da propriedade surgiu diante de nós, e só quando ele se fechou atrás do carro senti que podia respirar um pouco melhor.

Matheu parou o carro perto da entrada principal. Noah e os outros chegaram logo atrás. Quando saí, minhas pernas pareciam de borracha, mas forcei-me a andar.

— Rafaela… — Noah chamou meu nome, e quando nossos olhares se cruzaram, eu não aguentei. Corri até ele e o abracei forte, sentindo meu peito se soltar em um soluço abafado, meu irmão sempre esteve ali.

Eu só queria que aquele pesadelo acabasse.

— Está tudo bem agora, Rafaela. — A voz de Noah era firme, mas carregava um tom protetor. — Você está em casa.

Fechei os olhos, tentando acreditar nas palavras do meu irmão. O calor do abraço dele me trouxe lembranças de outra época, outro pesadelo.

Eu era uma adolescente quando um soldado tentou me encurralar nos fundos da propriedade. Lembro do nojo que senti quando ele tentou me tocar e do alívio avassalador quando Noah apareceu. Eu só ouvi o som seco do disparo, e quando olhei para ele, o homem já estava no chão. Foi a primeira vez que vi meu irmão matar alguém, ele me defendeu de uma mesma situação quando eu tinha sete anos, mas essa eu não lembro.

Ele não hesitou, não tremeu. Apenas me puxou para trás e disse: “Ninguém vai te tocar.”

Hoje, tantos anos depois, ele ainda estava aqui para me proteger.

Quando finalmente soltei Noah, Matheu segurou minha mão, guiando-me para dentro. Meus dedos tremiam, e eu sentia que, se soltasse ele, minhas pernas cederiam.

Assim que entramos no hall principal, o som de passos apressados ecoou. Não tive tempo de reagir antes de sentir braços se fechando ao meu redor.

— Meu Deus, meu amor! — A voz da minha mãe estava embargada. — O que aconteceu?

Fechei os olhos, permitindo-me afundar no abraço materno por alguns segundos.

— Foi uma emboscada — sussurrei, sentindo meu peito apertar.

— Meu Deus… — Tia Duda se aproximou, segurando minha mão.

Cassandra, Aylla e Belinda também estavam ali, todas com expressões preocupadas, me senti mal por trazer esse clima, tantos bebês para alegrar a casa e eu assim.

— Vocês estão bem? — Belinda perguntou, seus olhos indo de mim para Matheu, e então para Noah, que acabara de entrar.

— Estamos vivos — Matheu respondeu, tenso.

— O que aconteceu exatamente? — Cassandra cruzou os braços. — Foi aquele desgraçado do Vitto?

Assenti, sentindo meu estômago revirar.

— Ele armou uma emboscada para a gente na estrada. Se Noah e os soldados não tivessem reagido tão rápido, não sei o que teria acontecido… — minha voz falhou.

— Aquele maldito… — Aylla murmurou, com raiva.

Minha mãe segurou meu rosto com as mãos trêmulas, seus olhos marejados.

— Isso não vai ficar assim, meu amor, seu pai, seu noivo e seu irmão vão cuidar disso, o noivo de Aylla está no escritório e aqui você sabe como é, mexe com um, mexe com todos. — ela prometeu.

Eu sabia que não ficaria. Meu pai, meu irmão e agora Matheu não deixariam.

Ele passou o braço ao meu redor e me deu um beijo olhou para Lorenzo e Noah, que se aproximavam do escritório.

— Precisamos conversar amor — ele disse, sua voz branda.

Eu assenti, mesmo que meu corpo ainda estivesse fraco pelo susto. Mas eu precisava ouvir o que viria a seguir.

A sala parecia pequena demais para a tensão que crescia no ar. Matheu ainda mantinha o braço ao meu redor, mas meu corpo já estava tenso demais para sentir, a ansiedade subindo como uma onda prestes a me engolir.

Noah passou a mão pelo rosto, seu olhar sombrio.

— O ônibus foi atacado.

O tempo parou. Meu coração errou uma batida.

— O quê? — Minha voz saiu num sussurro frágil.

— Eles estavam seguindo para o hotel quando os bastardos dos Barcellos alcançaram o ônibus na estrada, assim que vocês saíram com o veículo eles debandaram, achamos que iam recuar, mas foram atrás do ônibus. — meu pai disse nervoso e com medo da minha reação — Jogaram um carro contra eles. O motorista tentou segurar o controle, mas o ônibus capotou.

O ar sumiu dos meus pulmões.

— Não…

— Nenhuma das meninas morreu — Noah continuou, a voz baixa, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

Mas eu sabia que não era só isso.

Eu soube antes mesmo dele dizer.

— Mas… duas mães… — Sua voz falhou. — Elas não conseguiram.

Foi como se o chão tivesse desaparecido. Um grito saiu da minha garganta antes que eu pudesse controlar.

— NÃO!

Minhas pernas falharam, e meu corpo caiu de joelhos. Matheu me segurou, mas eu não sentia mais a minha perna.

— Não, não, não… — Meus dedos se cravaram no tapete, minha visão girando.

Elas confiavam em mim. Eu prometi que seria seguro. Eu menti.

Um soluço rasgou meu peito, meu corpo tremendo descontroladamente.

— Rafaela… — Matheu se ajoelhou ao meu lado, segurando meu rosto. — Olha para mim, não é sua culpa amor, ele vai pagar caro, não faça isso com você.

Mas eu não conseguia.

Eu só via os rostos das mulheres, os sorrisos esperançosos quando contei sobre o hotel, os olhos brilhando ao pensarem na possibilidade de uma nova vida.

E agora elas estavam mortas.

Mortas por minha culpa.

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Comments

bete 💗

bete 💗

tem que matar todos que fizeram principalmente esse tal de Vitto
quanta maldade
❤️❤️❤️❤️❤️❤️

2025-03-07

1

Renata

Renata

tudo bem mais ta na hora da Rafa ficar mais forte por ela tem que vingar estas mães

2025-03-07

0

Marta Ginane

Marta Ginane

Rafaela precisa de treinamento p vingar essas mães.

2025-03-08

1

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