Visitas em casa.

Chegar em casa trouxe de volta um peso que eu tentava ignorar. A leveza da dança se dissipou assim que cruzei a porta, substituída pelo clima de tristeza que pairava sobre todos nós. Minha prima ainda estava desaparecida, e mesmo os momentos de distração pareciam errados, dei um beijo em minha mãe e minha cunhada Alana que estava ali com os trigêmeos.

Depois subi para o meu quarto sentindo a tensão se espalhar pelo meu corpo. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre mim, tentando afastar aquele aperto no peito. Mas a verdade era que não havia banho quente o suficiente para lavar a preocupação e a dor que todos estávamos sentindo.

Ao sair do banheiro, vi o celular sobre a cama e me lembrei da ligação de antes. Peguei o aparelho e retornei.

— Até que enfim! Achei que tinha me esquecido de mim — a voz animada de Alice soou do outro lado.

— Desculpa, eu precisava de um tempo. — Suspirei, sentando na beira da cama. — Eu não vou no encontro de vocês hoje. Acho que não seria certo com tudo isso acontecendo...

Do outro lado, Alice ficou em silêncio por um momento antes de falar com suavidade:

— Então a gente pode ir até a sua casa. Se não quiser ficar sozinha, podemos nos reunir aí, nossa formatura foi um sucesso e devemos comemorar em nosso grupo, vamos ver um filme.

A ideia me aqueceu um pouco. Eu precisava de companhia, mas sem aquela euforia que normalmente envolvia nossos encontros, sim, eu vou aos encontros do nosso grupo sempre com segurança, é sempre na casa da Alice ou no clube de piscinas que tem para os associados, Alice é filha de um político aliado a nossa família, e isso faz com que ela seja sempre aceita aqui, é uma boa menina.

— Vou perguntar para a minha mãe. Espera um pouco.

Desci as escadas encontrando minha mãe na sala.

— As meninas querem vir aqui em casa hoje, tudo bem?

Ela assentiu sem hesitar.

— Claro, meu bem. Talvez te faça bem.

Antes que eu pudesse voltar para avisar Alice, meu pai surgiu no cômodo e olhou para mim com interesse.

— Quantos virão?

— Quatro meninas e dois meninos. — Respondi, já prevendo a reação dele.

Ele trocou um olhar significativo com Matheu, que estava sentado próximo, aparentemente desinteressado na conversa, mas ainda assim atento.

— Matheu, fique de olho. — Meu pai decretou antes de se virar para a empregada. — Prepare o cinema da casa para eles.

Revirei os olhos, mas não discuti. Sabia que meu pai era protetor, e Matheu era praticamente a sombra dele.

— Vou confirmar com elas. — Falei, subindo novamente e finalizando a chamada com Alice.

Enquanto caminhava para o banheiro para lavar o rosto, fazer minha higiene e ver uma maquiagem básica, meus pensamentos me traíram. Eu ainda sentia o peso do olhar de Matheu sobre mim no carro, sobre o beijo quente e forte que me deixou sem ar e completamente zonza. Sua voz grave ainda ecoava na minha mente, carregada de algo que eu não sabia bem como nomear.

Suspirei, fechando os olhos por um instante.

A verdade era que, por mais que eu tentasse ignorar... aquele momento entre nós ainda fazia meu coração acelerar.

Terminei rápido no banheiro ignorando a sensação de fogo que consumia minha intimidade e vesti uma roupa básica, uma bermuda leve e uma camiseta.

As meninas chegaram primeiro, animadas e carregadas de petiscos que haviam trazido de casa. Não demorou muito para os dois rapazes aparecerem também, sempre pontuais e, claro, sempre com aquele ar exageradamente cortês que os tornava quase cômicos.

— Senhoritas, uma noite tão bela quanto esta se ilumina ainda mais com a presença de vocês. — Gabriel, o primeiro dos conquistadores, disse enquanto pegava delicadamente a mão de minha mãe e depositava um beijo no dorso, depois repetindo o gesto com Aylla e, claro, comigo.

— Perdoe-me a ousadia, mas acho que o céu está mais vazio esta noite... — O outro, Lorenzo, fez o mesmo com Alana e Cassandra, sorrindo com um charme ensaiado. — Afinal, cinco estrelas fugiram de lá para estarem aqui, os homens não gostavam muito dessa interação, mas eles têm só 18 anos e muito o que aprender ainda, então meio que ignoram.

As meninas riram, se divertindo com o exagero, enquanto eu revirava os olhos, embora admitisse que eles sabiam ser charmosos.

— Vocês ensaiam isso no espelho? — provoquei, cruzando os braços.

— Somente apreciamos a arte de fazer uma dama sorrir. — Gabriel piscou, sentando-se confortavelmente no sofá.

Seguimos para a sala de cinema, onde as luzes baixas e a enorme tela tornavam o ambiente aconchegante. Depois de uma breve discussão, decidimos assistir a um filme de suspense, algo que não fosse pesado demais, mas que ainda prendesse nossa atenção.

Foi então que percebi o olhar de Lorenzo, o nosso segundo conquistador, se desviando para o canto da sala. Matheu estava ali, encostado na parede, de braços cruzados, o semblante impassível enquanto observava tudo com atenção.

Lorenzo soltou um pequeno riso debochado.

— E esse aí? Não sabia que tinha um guarda-costas pessoal até dentro de casa.

Suspirei, já antecipando o rumo da conversa.

— Ele é meu segurança, sim, em casa sempre que temos estranhos aqui.

— Estranhos? — O tom dele carregava descrença, misturada com diversão. — Rafa, eu jamais faria algo que você não quisesse.

As palavras eram inofensivas no contexto comum, mas dentro do mundo em que eu vivia, sabia que a realidade era muito diferente.

— Nem todo mundo pensa assim. — Respondi, olhando diretamente para ele.

Lorenzo me observou por um momento, como se ponderasse a resposta, e então deu de ombros.

— Se você diz...

Voltei minha atenção para a tela, mas, por um instante, meus olhos desviaram para Matheu. Ele continuava no mesmo lugar, porém, a tensão nos ombros e a forma como apertava os punhos não passaram despercebidas.

Algo me dizia que ele não gostou nem um pouco do tom de Lorenzo.

E, de alguma forma, isso me fez sorrir.

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Comments

Marina lopes

Marina lopes

pq ela não pediu ele pra sentar

2025-03-07

0

bete 💗

bete 💗

demais ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-03-06

0

Ver todos

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