O natal.

O clima natalino preenchia cada canto da mansão do complexo de luxo dos Mansur, uma tradição que minha mãe e minhas tias mantém seriamente.

O cheiro de canela e chocolate quente misturava-se ao som das risadas e conversas animadas. Crianças corriam entre os móveis, e a mesa farta já estava sendo organizada para a ceia. Tudo parecia perfeito... até a chegada de Vitto e Julio.

Eu não gostava muito do Vitto. Ele não era feio, mas a forma como se achava superior me irritava profundamente.

Ele entrou com aquele ar convencido de sempre, como se tivesse direito a tudo, e logo fixou os olhos em mim, Julio seu irmão queria qualquer menina, mas ciente de que o relacionamento entre Rússia e Itália era importante logo se afastou.

— Rafaela, finalmente nos encontramos — ele sorriu, estendendo a mão.

Aceitei por educação, mas mantive a expressão neutra. Meu pai preocupado com minhas crises de choro sugeriu que conversassemos um pouco no jardim.

Eu não queria, mas também não queria criar confusão. Segui Vitto para o lado de fora, cruzando os braços acompanhado do olhar duro do Matheu.

— Então, me diga, Rafaela — ele começou, encostando-se na parede. — Por que uma mulher como você ainda está solteira? Poderia ter qualquer homem que quisesse...

Foi impossível não bufar.

— Talvez porque não quero qualquer homem.

Ele sorriu, mas havia algo de presunçoso na forma como a olhava.

— Não se subestime. Uma mulher como você precisa de alguém à altura. Alguém como eu.

Eu me segurei, respirei me afastando e ia responder, mas, antes que conseguisse, senti a mão de Vitto segurando meu braço. O toque foi firme demais, e antes que pudesse reagir, ele tentou me beijar.

— Que diabos — me afastei em um tranco, o coração acelerado.

Antes que pudesse gritar, um vulto passou por mim, aquele perfume era claro. Matheu.

Ele avançou com tudo, derrubando Vitto no chão com um soco direto no queixo. O barulho do impacto foi seco, e Vitto caiu de costas, atordoado.

— FILHO DA PUTA! — Matheu rosnou, os olhos faiscando de ódio. — QUEM TE DEU PERMISSÃO PRA TOCAR NELA?!

Vitto cuspiu no chão, limpando o sangue do lábio e riu, debochado.

— Não sabia que ela já tinha dono. Mas faz sentido, um cachorro como você deve ter marcado território.

Matheu não pensou duas vezes antes de socá-lo de novo. Vitto tentou reagir, mas Matheu o jogou contra a parede, prendendo-o pelo colarinho.

— Escuta bem, seu merda — ele rosnou. — Se eu te ver chegar perto dela de novo, eu quebro cada maldito osso do seu corpo.

— Você não passa de um cachorrinho dos Mansur — Vitto cuspiu, tentando se soltar. — Será que eles sabem que você anda se engraçando com a princesinha deles? Aposto que Lorenzo e Noah iam adorar saber...

O meu sangue gelou. Matheu travou a mandíbula, a respiração pesada.

— VOCÊ NÃO OUSE FALAR DA HONRA DELA! — Matheu berrou, desferindo outro soco que fez Vitto tombar para o lado, gemendo de dor.

Foi quando meu pai, meu irmão e os outros chegaram, seguidos de outros soldados.

— MAS QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — Noah rugiu, furioso.

Corri até Matheu, segurando seu braço antes que ele avançasse de novo.

— Ele tentou me beijar — eu disse com a voz trêmula.

Noah virou os olhos para Vitto, que tentava se levantar, e depois para Matheu. A tensão era palpável.

— Escritório. Agora. — sua voz foi fria e afiada.

Meu pai me abraçou e perguntou se eu estava bem e assim que assenti ele foi junto.

Matheu soltou um suspiro pesado, mas obedeceu. Antes de entrar, lançou um último olhar para mim, ele queria saber se eu estava bem. Senti um arrepio percorrer minha espinha. O medo não era pelo que Vitto tinha feito, e sim pelo que poderia acontecer com Matheu depois daquela noite.

E, por Deus, eu não sabia o que faria se ele fosse punido por minha causa.

Eu mal tive tempo de recuperar o fôlego quando Noah me chamou. Seu tom era firme, sem espaço para discussão.

— Rafaela, vem comigo. Agora.

Meu coração disparou. Matheu e Vitto já tinham sido levados para o escritório, mas agora era a minha vez de encarar aquele tribunal familiar. Segui Noah até a mansão do complexo, sentindo cada músculo do meu corpo tenso. Eu já sabia o que me esperava.

O escritório era um ambiente pesado, com prateleiras de livros antigos e um aroma de madeira e conhaque. Meu pai estava sentado atrás da mesa, com um olhar indecifrável. Noah permaneceu ao seu lado, braços cruzados, olhos fixos em mim. Matheu estava encostado na parede, ainda ofegante, o maxilar travado, e Vitto... Bem, Vitto tinha sido dispensado. Isso não era mais sobre ele.

— Quero que me diga a verdade — Noah começou, direto. — Você tem algum sentimento pelo Matheu?

Engoli em seco. As palavras pareciam travar na minha garganta. Olhei para Matheu, mas ele não me deu nenhuma resposta. Estava tão paralisado quanto eu, não era medo que ele sentia, só essa cega fidelidade a minha família que o fazia sentir indigno.

— Rafaela — meu pai interveio, sua voz mais branda, mas ainda séria. — É por ele que você tem chorado todos esses meses?

As lágrimas ameaçaram cair, mas segurei. Então, sem poder evitar, assenti com um movimento quase imperceptível.

Foi o suficiente para ele levantar e, sem aviso, acertar um soco certeiro no rosto de Matheu. O barulho do impacto ecoou no escritório, e eu gritei, instintivamente dando um passo à frente.

— Papai, não! — tentei me por entre eles, mas meu irmão me segurou, Matheu já se endireitava, limpando o sangue do canto da boca sem sequer reclamar.

Meu pai o olhou com fúria, mas também com algo a mais... Respeito.

— Você foi um covarde esse tempo todo, Matheu. Deixou minha filha sofrer porque tem medo de mim e do Noah? Isso te torna fraco — ele cuspiu as palavras, mas respirou fundo antes de continuar. — Mas se ainda está aqui, é porque tem honra. Se quer Rafaela, se quer fazer parte da nossa família de verdade, então assuma sua posição. Case-se com ela e sirva essa família como um homem de verdade, sei que é mais do que fiel e a maior prova disso é cuidar dela.

Senti o ar escapar dos meus pulmões. Matheu piscou algumas vezes, como se processasse o que acabara de ouvir. Então, pela primeira vez, ele olhou diretamente para mim, e o que vi em seus olhos me fez tremer. Não era apenas desejo, não era só afeição. Era algo muito maior.

Ele deu um passo à frente, então outro, até estar diante de mim. Pegou minha mão com firmeza e caiu de joelhos, sem hesitação.

— Rafaela, eu juro, diante da sua família e de tudo o que eu sou, que sempre vou te amar, proteger e honrar. Você é minha, sempre foi. Eu estava cego e com medo, mas não vou mais fugir. Serei leal a você como sou a esta família. E se Lorenzo e Noah me aceitarem, prometo que nunca terão motivos para se arrepender.

O silêncio era absoluto. Meu peito subia e descia rápido, tentando processar tudo. Então, meu pai sorriu de lado e olhou para Noah, que bufou, revirando os olhos.

— Se quebrar essa promessa, Matheu — Noah apontou para ele — eu mesmo acabo com você. Entendido?

Matheu assentiu, sem hesitação.

Foi aí que eu sorri, aliviada, pela primeira vez em muito tempo. Finalmente, meu coração encontrou um lar.

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Comments

Andrea Freire

Andrea Freire

Que capítulo tenso e lindo ao mesmo tempo ❤️❤️

2025-03-10

0

Renata

Renata

até que fim kkkkk

2025-03-06

1

bete 💗

bete 💗

demais ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-03-06

1

Ver todos

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