Aquela noite estava tranquila, apesar do caos das últimas horas. No quarto, Rafaela estava deitada na cama com a pequena Ana aninhada ao seu lado. A luz suave do abajur iluminava o rosto delicado da menina, que brincava com os dedos da minha noiva enquanto ouvia sua voz suave narrando uma história.
— Era uma vez uma linda princesa chamada Rafaela, que vivia em um reino encantado, mas um dia, um terrível dragão apareceu e levou a princesa para longe… — Rafa começou, seus olhos brilhando com ternura enquanto acariciava os cabelos escuros da menina.
Ana arregalou os olhos, totalmente imersa na história.
— Mas então, a princesa ficou com medo? — perguntou baixinho, sua voz carregada de inocência.
— Um pouco, mas ela era muito corajosa. E sabia que um príncipe muito forte e valente viria salvá-la…
— O príncipe Matheu! — Ana exclamou, empolgada, me lançando um olhar animado.
Cruzei os braços e me escorei no batente da porta, observando-as com um sorriso.
— Sim! — Rafa concordou, rindo. — O príncipe Matheu era muito corajoso. Ele atravessou florestas sombrias, escalou montanhas e enfrentou o dragão com toda sua força. E sabe o que aconteceu?
Ana negou com a cabeça, os olhos brilhando de expectativa.
— Ele venceu! — Rafa exclamou, sorrindo. — Ele resgatou a princesa, levou ela para o castelo, onde ela foi cuidada e protegida para sempre.
Ana bateu palminhas e se aconchegou ainda mais na cama.
— E depois? — perguntou, os olhinhos sonolentos, mas ainda curiosos. — O príncipe e a princesa Rafa se beijaram?
Rafaela riu, corando levemente, e olhou para mim. Me aproximei e me sentei ao lado delas, tocando de leve o rostinho da pequena antes de beijar sua testa com carinho.
— Claro que sim, mocinha. Afinal, todas as histórias terminam com um beijo e um “felizes para sempre” — murmurei, piscando para Rafa, que apenas sorriu, mexendo nos cabelos da menina.
Beijei o rosto da minha noiva e encostei a boca em seu ouvido.
— Vou procurar a família dela. Se houver alguém, vamos trazê-los. Se não… — fiz uma pausa, observando a expressão serena de Ana, agora quase dormindo — vou ajeitar os papéis da adoção.
Rafa me olhou com tanto carinho que quase me fez perder a razão ali mesmo.
— Vou torcer para que ela tenha alguém — sussurrou. — Mas, se não tiver…
Ela não terminou a frase. Apenas sorriu e ajeitou melhor a menina ao seu lado.
Levantei-me e, antes de sair, observei as duas uma última vez. Rafaela era feita para o amor, para acolher. E agora, segurando aquela menina como se fosse um pedaço dela, percebi que Ana já não era somente um nome ou uma criança resgatada. Ela era nossa.
— Boa noite, minhas princesas — murmurei, apagando a luz suavemente.
E fechei a porta, sabendo que, de alguma forma, tudo ficaria bem.
Desci ao escritório de Lorenzo antes de ir até meu quarto, a luz do abajur era a única coisa iluminando a mesa onde ele estava sentado escrevendo no caderno. Eu caminhava de um lado para o outro, esperando alguma novidade. Não era difícil imaginar Rafaela e Ana dormindo juntas naquela noite, completamente alheias ao que acontecia ali.
— Alguma coisa? — perguntei cruzando os braços, ele estava procurando pessoas ligadas a Ana e aquilo era decisivo para a alegria da minha noiva.
Lorenzo suspirou e recostou-se na cadeira, massageando as têmporas.
— Só um nome — respondeu, batendo os dedos na mesa. — Ó pai.
Meu maxilar enrijeceu.
— Quem é ele?
— Um traficante. Nível médio, nada comparado a nós — Lorenzo explicou. — Mas esses caras sempre podem sumir se quisermos. Se ele decidir fazer mal a ela, não será difícil desaparecer do mapa.
Me aproximei, apoiando as mãos na mesa.
— E a mãe, ela não tinha pais? Tio? Algum outro parente?
Lorenzo negou com a cabeça.
— Nada. O nome da mãe não consta nos registros, e nenhum outro parente próximo apareceu.
Um silêncio pesado caiu entre nós. Eu já sabia qual seria o desfecho, mas ainda assim, ouvir aquela confirmação me fez soltar um longo suspiro.
— Rafaela quer a menina — disse, a voz mais firme do que eu esperava.
Lorenzo apresenta uma sobrancelha, um sorriso discreto se formando em seus lábios.
— Claro que quer — ele disse, divertido. — Você viu o jeito que ela olhou para a pequena hoje? Já era óbvio.
Passei a mão pelo rosto e joguei na poltrona à frente dele.
— E agora?
Ele se declarou, pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de um pouco antes de responder.
— Agora a gente resolva isso. O processo de adoção já está em andamento — ele foi começado. — Vai ficar pronto para ser assinado no dia do casamento, falaremos com o pai amanhã.
Meu olhar se fixou no dele.
— Está falando sério?
— Totalmente — Lorenzo confirmou, apoiando-se na mesa com um sorriso satisfeito. — Em menos de um mês, vocês serão casados, e Ana será oficialmente filha de vocês.
Um nó se formou na minha garganta. Eu já tinha me confirmado que aquela menina era nossa, mas ouvir Lorenzo falar isso, saber que tudo já estava sendo resolvido, tornou tudo real.
— Eu nunca achei que isso aconteceria — murmurei, rindo baixo.
— A vida tem dessas coisas Matheu — Lorenzo respondeu. — Mas, sinceramente? Acho que você nasceu para isso.
Soltei um suspiro profundo e, pela primeira vez naquela noite, senti que tudo estava exatamente onde deveria estar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments
Andrea Freire
Começando a leitura hj 09/03/25,já amando a história, posta mais autora
2025-03-10
0
Marina lopes
Ana já considera eles com pais ,que fofo
2025-03-08
1
Marina lopes
posta mais
2025-03-09
1