Proteger elas.

Eu mantinha Rafaela perto de mim enquanto caminhávamos pelo caminho estreito de terra batida até o estúdio de dança. O lugar era simples, mas bem cuidado, e quando passamos pela porta, o som das risadas infantis encheu meus ouvidos.

As meninas estavam ali, todas elas, junto com suas mães. Um grupo de mulheres que, apesar da vida dura, mantinham a cabeça erguida. Respeitavam Rafaela como se ela fosse um anjo caído do céu, e talvez, para elas, fosse mesmo, já que minha noiva mantinha muitas casas ali e trazia além de comida, brinquedos, roupas e esperança para elas.

Rafaela respirou fundo antes de falar, tentando soar calma:

— Quero conversar com vocês sobre algo importante. — Sua voz era doce, mas firme. — Conseguimos uma oportunidade para todas vocês ficarem hospedadas em um hotel por um tempo. Um lugar equipado com piscina, sauna, boa comida… todo o conforto que vocês merecem.

As mulheres se entreolharam, surpresas. Algumas já exibiam sorrisos hesitantes.

— Enquanto vocês aproveitam esse tempo, suas casas passarão por reformas. — Rafaela continuou, olhando nos olhos de cada uma. — Tudo será coberto, inclusive qualquer necessidade extra que vocês tiverem. Não precisam se preocupar com nada.

Houve um momento de silêncio. Então, uma das mães, de cabelos presos em um coque e um bebê no colo, deu um passo à frente.

— Isso é sério, Senhorita Rafaela? Podemos mesmo ir?

Rafaela sorriu.

— Sim. E podem sair ainda nesta manhã, sei que todas vocês passam muito trabalho aqui, os homens que deveriam proteger as famílias fugiram como covardes, mas essa oportunidade será perfeita para que descansem e vivam um pouco de paz e despreocupação.

As mulheres começaram a falar entre si, animadas. Algumas abraçaram os filhos, outras passaram as mãos nos cabelos, como se tentassem entender se aquilo era real.

Eu sentia o orgulho pulsar no peito ao ver como Rafaela mudava a vida daquelas pessoas.

Mas minha atenção foi desviada quando o rádio no meu ouvido chiou.

— Avistamos um carro dos Barcello passando na estrada abaixo da entrada da comunidade, não pararam, mas os homens olhavam aqui para cima.

Meu corpo ficou tenso na hora.

Eu virei para Rafaela e assim que as mulheres começaram a sair cientes que um ônibus as buscaria e segurei firme em seu braço, os olhos cravados nos dela.

— Precisamos ir. Agora.

— Aconteceu algo né? — me questionou.

— Sim, homens do Vitto estão passando aqui na estrada abaixo da entrada da comunidade, precisamos sair agora, não posso te botar em risco. — falei e ela aceitou, pegou na minha mão e quando estávamos saindo vimos o ônibus estacionar para levar as crianças.

— Quero que vão junto com eles, após os deixar em segurança no hotel voltem para o complexo para a seleção de homens que vai fazer a segurança lá. — falei para Otto o soldado que bufou.

— Já se acha dono? Não manda em mim, não foi passado nada sobre obedecer você, então sinto muito. — falou ele cruzando o braço, ia responder quando ouvi a voz de Noah atrás de mim.

— Você vai obedecer a ele sim, não só você como todos os outros, Matheu é parte da família e uma afronta a ele ou a minha irmã é uma afronta direta a mim. — falou ele.

Acenei com a cabeça e logo entramos no carro.

O ronco do motor soava como um trovão enquanto eu guiava o carro pela estrada, mantendo a velocidade controlada, mas sempre atento ao que acontecia ao redor. O carro de Noah segue logo atrás, uma sombra protetora. Rafaela estava ao meu lado, tensa, os dedos entrelaçados no próprio colo.

— Vai ficar tudo bem. — Murmurei, lançando um olhar rápido para ela. — Elas estão bem e nós vamos para casa.

Mas então, algo mudou.

Os faróis de dois carros surgiram do nada, acelerando ferozes em nossa direção. Meu coração martelou no peito. Do retrovisor, vi mais dois fechando o caminho de Noah, eles sabiam que estávamos juntos e que Noah sempre andava fortemente armado.

— Merda.

Antes que pudesse reagir, os veículos nos cercaram, bloqueando qualquer saída. Meu instinto foi imediato: soltei o volante e me joguei sobre Rafaela, abaixando-a no banco.

— Fica abaixada, temos companhia, não posso te deixar em risco, seu irmão e os outros estão reagindo.

O vidro blindado do carro impediu os primeiros tiros de entrar, mas o impacto foi forte, rachaduras mínimas surgindo. O carro sacudiu com as investidas laterais de um dos atacantes.

— Matheu! — Rafaela gritou com medo, a voz embargada pelo pânico.

Noah e os soldados não perderam tempo. O som de tiros ecoou como trovões, e a batalha começou lá fora. As balas zuniam contra os carros, faíscas iluminando a noite. Minha rádio chiou:

— Estamos segurando eles! Mantenha o automóvel em movimento!

Agarrei o volante de novo, jogando o carro para frente com força, tentando encontrar uma brecha. Rafaela se encolheu contra o banco, tremendo, os olhos arregalados.

— Olha pra mim! — Ordenei, apertando sua perna em um aperto firme. — Confie em mim, Rafaela. Eu vou tirar a gente daqui.

Ela assentiu rápido, mas o medo ainda a consumia.

A estrada se tornou um campo de guerra. Corri o máximo que pude, desviava dos carros buscando chegar logo, e passaram 5 minutos vi o carro dele nos acompanhando, minha noiva olhava para trás e não conteve a cara de alívio quando viu o irmão.

— Já estamos chegando amor, se segura firme. — falei e ela sorriu fraco, minha menina nunca foi atacada diretamente ou viveu essas situações comigo, foi vítima duas vezes de soldados mau-caráter, mas antes da minha chegada, todos sucumbiam aos desejos de tomar ela e iam caindo um a um, só de lembrar disso quero que eles renasçam para poder arrancar suas cabeças novamente.

— Entramos amor, respira que entramos. — gritei para que ela buscasse respirar e acalmar seu nervosismo.  Desci do carro e abri a porta para ela que assim que Noah desceu correu para o abraçar aliviada.

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