Foi um erro.

O jardim estava iluminado por luzes suaves, refletindo na piscina e criando um cenário até agradável se não fosse pela companhia. Depois do filme escolhido — um suspense — Lógico que seria esse o escolhido, uma tentativa infantil de fazer meninas os abraçarem com medo, todos decidiram comer algo ali fora, aproveitando a brisa noturna.

Rafaela usava uma bermuda soltinha e uma blusa mais larga estava sentada com a perna para cima. Ela sentou-se à mesa com as amigas, enquanto ambos os conquistadores da noite, Gabriel e Lorenzo, decidiram que seria uma ótima ideia tirar as camisas e mergulhar na piscina. Claro.

Cruzei os braços, encostado em uma das colunas, observando Lorenzo de canto de olho. Ele não apenas lançava olhares para Rafaela, mas fazia questão de ser óbvio ele a queria e eu não gostava daquilo.

E então, como se a situação não estivesse me irritando o suficiente, ele saiu da piscina, ainda molhado, e caminhou diretamente até ela.

— Acho que está muito quente aqui fora... Que tal se refrescar um pouco? — Ele sorriu, antes de segurá-la pela cintura e tentar levantá-la.

Eu já estava em movimento antes mesmo de perceber.

Minha mão agarrou o braço dele antes que ele tivesse a chance de jogá-la na água.

— Solta ela. Agora.

Lorenzo virou o rosto devagar para me encarar, o sorriso ainda no lugar, mas seus olhos avaliavam a situação com uma provocação óbvia.

— Matheu... — Rafaela interveio, com calma. — Está tudo bem.

Mas não estava.

Lorenzo soltou uma risada curta e debochada.

— Relaxa, cão de guarda, eu não ia machucar sua princesinha.

Eu já ia responder, mas Rafaela se adiantou, o olhar dela escurecendo de irritação, ela era a minha princesinha, mas o termo a incomodava demais.

— Já está tarde. Podem ir, não sou uma princesinha Lorenzo e não quero que zombe de alguém que cuida tão bem de mim.

O tom foi definitivo.

As meninas puxaram Lorenzo e Gabriel, claramente querendo evitar que a situação piorasse, e logo os dois estavam deixando o jardim, ainda soltando risadas abafadas.

Assim que a porta da casa se fechou, o silêncio tomou conta do ambiente.

Senti Rafaela me olhando, e quando virei para encará-la, encontrei seus olhos brilhando sob a luz suave.

— O que foi isso, Matheu? — Ela perguntou, cruzando os braços. — Por que essa reação toda?

Passei a mão pelo rosto, tentando aliviar a tensão.

— Porque não é certo tocarem em você desse jeito.

Ela arqueou uma sobrancelha, um pequeno sorriso brincando nos lábios.

— Não era nada de mais.

— Você pode achar que não. Mas no mundo real... Nem todo toque é inofensivo.

Ela me olhou por um instante, talvez tentando entender o que eu queria dizer.

E, por algum motivo, eu desejei que ela nunca precisasse entender.

Rafaela permaneceu ali, em silêncio, me observando como se tentasse decifrar algo. O vento soprou suavemente, bagunçando algumas mechas soltas do seu cabelo.

— Se você acha que não é certo tocarem em mim... — ela começou, os braços ainda cruzados. — Então talvez a gente devesse falar sobre o que aconteceu no estúdio.

Minha expressão se fechou instantaneamente.

O beijo foi delicioso, mas totalmente irresponsável, não podia ter acontecido e eu sucumbi a vontade que deveria estar morta dentro de mim.

— Foi um erro. — Disparei sem hesitar.

Os olhos dela brilharam por um instante, como se eu tivesse acabado de desferir um golpe certeiro.

— Um erro. — Rafaela repetiu, soltando uma risada curta e descrente. — Ótimo, Matheu. Então, se foi um erro, não tem motivo para você se meter em quem eu for beijar ou com quem eu converso, certo?

Eu trinquei os dentes.

Ela deu um passo à frente, me desafiando com o olhar.

— E se isso se repetir — continuou, a voz firme —, eu vou falar com Noah para que ele me designe outro soldado.

Algo dentro de mim explodiu.

Antes que eu pudesse reagir, Rafaela virou as costas e entrou na casa, pisando firme, os ombros tensos de raiva.

Eu fiquei ali, parado no jardim, o sangue fervendo e os punhos cerrados.

Ela queria me trocar?

Trocar a mim?

Fechei os olhos por um segundo, tentando controlar a fúria absurda que subia pelo meu peito. Eu precisava socar alguma coisa. Precisava descarregar essa raiva antes que fizesse algo idiota.

Porque, no fundo, eu sabia que Rafaela tinha razão.

Mas isso não significava que eu ia aceitar isso facilmente.

Eu precisava extravasar.

Sem pensar duas vezes, caminhei direto para o galpão de treino. Não me importei em trocar de roupa ou colocar luvas, só queria sentir meus punhos acertando alguma coisa.

— Preciso de um treino. Agora. — Minha voz saiu carregada de raiva.

Um dos soldados, um cara alto e forte chamado Vicente, se levantou do banco e estalou os dedos, como se estivesse esperando exatamente por isso.

— Vamos nessa.

Não trocamos mais nenhuma palavra. Assim que ele ergueu a guarda, eu ataquei. Meus socos vinham rápidos e pesados, impulsionados por algo muito maior do que somente o treino. A cada golpe, eu via o rosto de Lorenzo debochando, via Rafaela me desafiando, via a forma como ela me fazia perder o controle sem nem precisar tentar.

Vicente tentou revidar, mas eu estava rápido demais, feroz demais. Soco após soco, eu o empurrava para trás, sentindo o impacto reverberar nos meus ossos.

— Matheu! — Alguém gritou ao longe, mas eu ignorei.

Vicente tropeçou para trás, e antes que ele pudesse se equilibrar, eu acertei mais um golpe certeiro no estômago, seguido de um no rosto. Ele caiu de joelhos, ofegante.

Foi então que senti um par de mãos fortes me segurando pelos ombros, me afastando à força.

— Já chega!

Minha respiração estava descompassada, e só então percebi que eu tinha ido longe demais.

Soltei um palavrão baixo, fechando os olhos por um segundo. Minha fúria ainda estava ali, queimando sob minha pele, mas uma única imagem se sobressaiu em meio ao caos:

Rafaela.

Seu olhar desafiador. O jeito que seus lábios se curvaram em um sorriso quando percebeu que estava me deixando louco.

Droga.

Eu estava caindo nessa armadilha.

E, para piorar, ela nunca esteve tão linda quanto agora, enquanto me fazia perder a cabeça.

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Comments

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

Pobre do Vicente! Pagou caro por algo que nem sabe!!🤣🤣🤭

2025-03-29

0

bete 💗

bete 💗

muita emoção ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-03-06

0

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