Ela me escolheu.

Eu me abaixei até a altura das meninas, passando a mão de leve pelos cabelos de algumas delas. O choque ainda estava nos rostinhos delicados, mas havia um pouco mais de calma agora, ver que elas estavam bem me deixou mais calma também.

— Vocês foram muito corajosas — murmurei, olhando para cada uma delas. — E agora, quero que saibam que vão receber muitos presentes, doces, comidas deliciosas e muito carinho, só precisam ser calmas, obedientes, e tomar os remédios.

Algumas sorriram timidamente.

— Vocês nos avisam quando pudermos ir para casa? — uma delas perguntou baixinho. — acho que a mamãe quer descansar, ainda vamos para o hotel?

Respirei fundo, tentando manter a voz estável.

— Logo vocês vão, sim vão para o hotel, prometo que será melhor ainda, e precisam amar e ajudar muito as amiguinhas que as duas mamães foram para o céu. — falei e elas se olharam tristes.

Elas assentiram, confiando em mim, e isso me deu forças para continuar.

Me afastei um pouco, inspirando fundo antes de ir até as duas pequenas que haviam perdido suas mães.

E então vi Alana.

Ela estava parada ali, os olhos marejados, um braço cruzado sobre o estômago como se tentasse conter algo dentro de si.

No momento em que nossos olhares se encontraram, eu entendi.

Ela era mãe.

Ela sentia aquilo como se fosse com suas próprias filhas.

— Eu não consigo imaginar… — Alana sussurrou, desviando o olhar para as duas pequenas. — Eu não consigo…

Engoli em seco e me aproximei, tocando seu braço com delicadeza.

— Elas ainda têm chance. Nós podemos dar essa chance a elas.

Alana fechou os olhos por um instante, respirando fundo.

— Noah precisa deixar que elas fiquem no complexo. Lá elas terão tudo, elas não podem ir com as outras crianças, só uma mãe entende uma crise de choro, manha, falta de fome, dor, como deixaremos elas nas mãos de uma babá.

— Então vamos falar com ele.

Noah se aproximou logo depois, seu olhar pousando sobre nós duas antes de desviar para as meninas.

— O que foi? — Ele perguntou, desconfiado.

Alana se virou para ele, segurando sua mão com firmeza.

— Por favor, Noah, leve as meninas para o complexo. Elas precisam de cuidado, precisam estar cercadas de pessoas que possam ajudá-las.

— Lá elas terão médicos, segurança e uma nova chance… — completei. — E eu quero ajudar.

Noah analisou por um momento, seu maxilar travado.

— Elas terão tudo o que precisarem, eu juro — continuei, determinada. — Minha mãe e minhas tias também vão ajudar, sem contar que isso nos manterá lá dentro por um período maior.

Ele passou a mão pelo rosto, como se tentasse decidir o que fazer.

O médico se aproximou e pigarreou antes de falar:

— As meninas estão estáveis. A menor, Ana, tem uma costela fissurada, mas com repouso e cuidados, ela ficará bem. A mais velha, Laura, teve um pequeno traumatismo, mas sem danos graves. Se desejarem levá-las para casa, eu não vejo impedimentos médicos.

Noah e Matheu se entreolharam.

A decisão estava com eles.

Mas então Ana, a pequena de três anos, puxou minha blusa levemente.

— Tia Rafa… — sua vozinha frágil me fez abaixar até ela.

Seus grandes olhos castanhos me encaravam cheios de esperança.

— Você vai ser minha nova mamãe?

O mundo ao meu redor pareceu parar.

Alana levou a mão à boca, tentando conter as lágrimas.

Meu coração se apertou de um jeito que eu nunca tinha sentido antes, olhei para Matheu que também parecia emocionado.

Aquelas palavras saíram com uma confiança inocente, como se aquela menina soubesse, de alguma forma, que o laço que nos unia agora nunca mais poderia ser quebrado.

Engoli o nó na garganta e sorri entre as lágrimas.

— Se você quiser, eu nunca vou sair do seu lado.

Ana sorriu, aliviada, e se jogou em meus braços.

E naquele momento, eu soube.

Ela era minha.

O caminho até o complexo foi silencioso, exceto pelos murmúrios ocasionais das meninas e as batidas ritmadas do meu próprio coração. Ana e Laura estavam bem acomodadas apesar da dor em seus ferimentos, e eu não soltava a pequena de três anos por nada no mundo.

Quando chegamos, tia Laura já nos aguardava ansiosa, parada na entrada com um brilho emocionado nos olhos.

Minha tia mais nova sempre teve um instinto maternal aguçado, mas, depois de Theo, ela nunca teve outro filho. Assim que soube da situação da pequena Laura, não hesitou em preparar um quarto lindo, acolhedor e cheio de detalhes para a nova hóspede, era a filha pequena que ela não teve.

Ela se aproximou imediatamente, abaixando-se na altura da menina de cinco anos.

— Oi, meu amor — sua voz era doce, tranquila. — Eu sou Laura também, esse é o tio Suzan, e esse príncipe aqui é o Théo. Mas pode me chamar nos chamar de tia, tio, como quiser se quiser.

A menina piscou algumas vezes antes de assentir levemente.

— Arrumei um quarto muito especial para você. Quer ver?

Laura hesitou por um momento e então olhou para mim.

— Você vem também?

Apertei sua mão.

— Claro que sim.

Ela respirou fundo e assentiu.

Minha tia sorriu e, antes de levá-la, passou a mão delicadamente pelos cabelos escuros da menina.

— Você não está sozinha, querida.

Laura seguiu com minha tia, e eu me permiti relaxar por um instante. Mas então, olhei para Ana.

Ela não dizia nada, somente me segurava firme enquanto seus olhos percorreram o grande portão do complexo, os carros, os homens armados.

Ela estava com medo.

— Vamos para casa, meu amor — sussurrei para ela, acariciando seus cabelos.

Fomos direto para a casa do meu pai. O ambiente sempre fora um refúgio, e eu sabia que Ana precisaria de um lugar que transmitisse paz.

A pequena andava devagar, com passos cuidadosos, como se a qualquer momento precisasse se esconder e ainda estava machucada.

Foi então que Matheu, ao meu lado, se abaixou diante dela, estendendo a mão grande e firme.

— Você está segura aqui, pequena. Eu prometo.

Ana hesitou por um momento, seus olhos castanhos refletindo algo entre dúvida e esperança.

— Eu não tenho um papai — ela murmurou baixinho, sua voz quase um sussurro perdido ao vento.

Meu coração parou.

Matheu, no entanto, não hesitou.

Com a mesma paciência e ternura de sempre, ele segurou sua pequena mão e sorriu.

— Agora você tem.

Ana piscou algumas vezes e então, num movimento tímido, seus dedinhos se fecharam ao redor da mão de Matheu.

Ali, naquele momento, ficou claro.

Ela era nossa.

A recepção dentro do complexo foi algo que eu jamais esqueceria.

Minha mãe foi a primeira a se aproximar, seu olhar carregado de emoção.

— Minha filha… — ela me envolveu num abraço forte antes de olhar para Ana. Seus olhos marejaram. — Olá, querida.

Ana a analisou com cuidado, como se tentasse entender quem era aquela mulher que me abraçava.

— Ela é minha mãe, pequena — expliquei suavemente.

A menina assentiu devagar, se agarrando à minha mão.

Em seguida, foram chegando os outros.

Cassandra, minha tia, se aproximou com um sorriso gentil.

— Ela é tão linda…

Aylla e Belinda vieram logo depois, ambas visivelmente emocionadas.

— O que você gosta de brincar, Ana? — Belinda perguntou com doçura. — meus bebês estão aqui, você me ajuda a cuidar dos três?

A pequena encolheu os ombros timidamente.

— Bonecas eu gosto, mas ajudo com seus bebês, acho mais legal…

— Temos muitas delas aqui — Aylla garantiu, — e bebês também.

Ana parecia impressionada com a atenção, mas não disse nada, apenas olhou ao redor com cautela.

E então, os homens chegaram.

Primeiro, meu pai.

— Essa é a pequena netinha que minha filha decidiu adotar sem nem me consultar? — Sua voz saiu provocativa, mas seus olhos estavam cheios de ternura.

Minha mãe lhe deu um tapa no braço, mas ele somente riu.

— Brincadeiras à parte… — Ele abaixou-se ao lado de Matheu e olhou para Ana. — Você tem sorte, pequena. Rafaela é a melhor pessoa que poderia ter escolhido.

Ana apertou minha mão com mais força.

E então, Noah se aproximou.

— Eu sou Noah, e minha casa também é sua agora.

Os olhos de Ana analisaram cada um deles.

Tio Cesare e tio Antony vieram logo depois.

— Você tem sorte, pequena. A partir de agora, está cercada de gente que nunca vai deixar nada acontecer com você — tio Antony afirmou.

Ana finalmente soltou um sorrisinho tímido.

E então, para surpresa de todos, ela se virou para Matheu e levantou os braços, pedindo colo.

Ele nem hesitou.

A ergueu do chão e ela se aninhou contra ele, os olhos já meio fechados pelo cansaço.

Meu coração se aqueceu.

Naquele momento, não importava mais o que havíamos passado.

Ana era nossa.

E nós seríamos dela para sempre.

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Comments

Renata

Renata

ha se a realidade fosse assim
agora e juntar os cacos Rafa e lutar porque a Ana e sua ..mais o lixo tá vivo ainda

2025-03-07

2

Marta Ginane

Marta Ginane

Ana ganhou uma bela família e será sempre protegida.

2025-03-08

1

Marina lopes

Marina lopes

que lindo ,ganhou uma família

2025-03-07

1

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