Cap. 8

Quando Alessandro chegou na mansão dos Vitale, o salão estava preparado para uma festa luxuosa. As mesas estavam cobertas por toalhas de linho, exibiam arranjos florais extravagantes, enquanto garçons deslizavam entre os convidados com bandejas de prata repletas de taças de champanhe e canapés refinados.

Com a ajuda de Matteo, seu braço direito e único homem em quem ainda confiava plenamente, Alessandro tinha substituído toda a sua equipe de seguranças, eliminando qualquer chance de traição interna. Ainda assim, um boato o perseguia como um sombra insistente. Diziam que ele não tinha pulso firme, que nunca seria um substituto à altura de Don Francesco, o lendário patriarca que comandara a família com mão de ferro. Alessandro sabia que precisava provar o contrário, mas primeiro queria a verdade. Ainda não tinha encontrado nenhuma evidência contra Lucca, mesmo analisando todas as câmeras da boate. Alessandro sabia que o que aconteceu naquele dia tinha sido muito bem orquestrado.

_ O que está acontecendo? Perguntou ao entrar e ver a casa cheia.

_ Hoje é a festa de noivado do seu primo. Parece que ele vai casar. Contou Matteo.

Alessandro ergueu uma sobrancelha, o canto da boca se curvando em um sorriso debochado.

_ Serio? Coitada da noiva... Disse vendo uma mulher no meio dos convidados que logo reconheceu.

Alessandro sentiu o ar escapar de seus pulmões no instante em que ele viu Giuliana, mas para sua surpresa ela estava ao lado de Lucca.

O estômago dele revirou. Uma onda de raiva, ciúme e algo mais primitivo e feroz  subiu por sua garganta. Seus punhos se fecharam instintivamente ao lado do corpo, os nós dos dedos branqueando sob a pressão.

Ele mal ouviu os cumprimentos formais ao seu redor. O salão, repleto de convidados, música e luxo, tornou-se um pano de fundo irrelevante. Tudo o que importava era ela.

Nos últimos dias, Giuliana havia invadido seus pensamentos como uma obsessão silenciosa. Ele se pegava voltando àquele momento na casa dela, quando ela cuidara dos ferimentos dele com mãos trêmulas, mas firmes. Os olhos castanhos dela, profundos e cheios de vida, que o desarmara completamente. O toque suave de seus dedos em sua pele machucada deixara uma marca que ele não conseguia apagar, assim como o cheiro adocicado de seu perfume, que se fixara em sua memória como uma droga da qual ele não queria se livrar.

E agora, ela estava ali, e seria de Lucca.

O sangue de Alessandro ferveu ao pensar naquela possibilidade. Ele lembrou-se, então, do que havia escutado escondido na casa dela. O tom desesperado de Giuliana, gritando que não queria se casar. O pai dela a obrigando, ameaçando-a, fazendo ele perceber que o casamento  não era uma escolha dela.

Uma ideia tomou forma em sua mente. Ele umedeceu os lábios, os olhos fixos nela, a mulher que, até poucas semanas atrás, era apenas uma estranha na multidão.

Se Lucca achava que sairia vitorioso dessa vez, estava muito enganado, ele não deixaria o primo ficar com ela.

Alessandro pegou uma taça de uísque de um garçom que passava, mas não bebeu. Seu foco estava em apenas um: Giuliana.

Ela estava ao lado do primo, cercada por convidados que a cumprimentavam como a futura esposa de Lucca. Mas Alessandro percebeu que ela não sorria. Seu corpo estava tenso, os olhos vazios, como se estivesse se preparando para um destino pior que a morte.

A raiva dentro dele se intensificou. Ele se moveu pelo salão com passos lentos e calculados. Queria que Lucca visse. Queria que ele soubesse que algo estava fora de seu controle.

Quando finalmente parou à frente dos dois, sorriu de lado, sarcástico.

_ Boa noite.  Eu não sabia que você estava noivo primo.

Lucca ficou visivelmente tenso ao ver Alessando, mas logo disfarçou com um sorriso forçado.

_Nem tudo precisa ser anunciado, Alessandro. Algumas conquistas simplesmente acontecem.

Alessandro girou o copo de uísque em mãos, observando o líquido  refletir as luzes douradas do salão. Seu olhar estava fixo nela que o olhou rapidamente.

Um sorriso despreocupado dançou em seus lábios enquanto seus olhos percorriam Giuliana lentamente, apreciando a forma como o vestido destacava suas curvas e como o brilho das joias parecia pálido comparado ao brilho que ele sabia que os olhos dela poderiam ter, se ela não estivesse presa naquele inferno.

Giuliana sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquele tom. Aquele olhar. Era impossível para ela esquecer. Giuliana ela tinha reconhecido Alessandro assim que escutou a sua voz.

_A noiva do meu primo é muito bonita.  Alessandro comentou, sua voz carregada de uma provocação sutil. _ Prazer, Alessando Vitale. Ele se apresentou estendendo a mão para cumprimentá-la.

Ela pensou nele todos aqueles dias, desejando saber se ele estava bem. Na forma como Alessandro a desafiou a confiar. Na sensação de segurança, mesmo quando tudo nela gritava para manter distância. Na proposta de ajuda que ele fez, mas que ela recusou.  E agora, descobriu que ele era primo de Lucca, E pior, ele também era um mafioso de quem já tinha escutado falar.

A esperança que tinha internamente de que ele pudesse ajuda-la  se dissolveu no instante em que percebeu isso.

Ela sabia como essas famílias funcionavam. O sangue e a lealdade estavam acima de tudo. Não importava o que Alessandro havia dito ou sugerido naquela noite,  se ele realmente quisesse ajudá-la, não faria nada que pudesse se voltar contra sua própria família.

Giuliana chegou a conclusão que continuava sozinha.

Ela forçou um pequeno sorriso, como se estivesse acostumada a receber elogios vazios.

_Obrigada. Disse suavemente, sem ousar demonstrar qualquer reação.

Mas Alessandro não parou de olhar para ela, percebendo a tensão sutil de seu corpo.

Lucca envolveu a cintura de Giuliana, puxando-a para mais perto em um gesto possessivo que beirava a agressividade.

_É por isso que eu a escolhi. Disse, lançando um olhar de superioridade para Alessandro. _Afinal, eu só escolho o melhor.

Alessandro sorriu, mas seus olhos estavam frios como gelo.

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