O restante dos comerciantes que sonegavam impostos, ao verem o que Satoru tinha feito, tentaram correr. No entanto, Mary, que havia acabado de tomar seu café, apareceu diante deles. Seus cabelos brancos esvoaçavam enquanto segurava sua espada demoníaca.
— Não! Não, nãoooooooo! — gritaram alguns, apavorados.
— Socorro! Ahhhhh!!!
Mary, fria como gelo, não hesitou. Em poucos instantes, apenas corpos espalhados pelo chão restaram.
Satoru entregou um papel para Bia e disse:
— Quero que crie isso para mim. São roupas especiais para minha lobinha Nana, que vou domar.
Bia pegou o papel e arregalou os olhos.
— Caramba, esses traços… Você não tem pena, hein?
— Vou domar uma besta. É bom estar preparado — respondeu Satoru com naturalidade.
Sem mais perguntas, Bia foi até o ateliê para confeccionar as roupas.
Satoru avistou seu pai, Matias, e se aproximou.
— Pai, vamos conversar.
— Sem problemas — respondeu Matias.
Os dois começaram a caminhar pela vila.
— Uma guerra é a pior coisa que uma vila pequena como essa pode enfrentar. Mas não se preocupe, eu vou cuidar de tudo. Só preciso que o senhor supervisione. Afinal, nossos mantimentos serão nossa riqueza — disse Satoru com seriedade.
Matias assentiu.
— Obrigado, filho. Vou cuidar disso. Mas… meu filho… Ele morreu?
Satoru desviou o olhar por um momento antes de responder:
— Sim. Seu filho, Ananias, morreu. Desculpe… não queria esconder isso de você. Mas me chamo Satoru agora.
Matias ficou surpreso, mas logo sorriu.
— Obrigado por me contar. Eu vejo você como um filho. Não tem problema?
— Nenhum, senhor — respondeu Satoru.
— Então vamos ao trabalho. Não podemos passar fome — concluiu Matias.
Naquela manhã, toda a comida foi coletada. Grãos, carne salgada, tudo foi armazenado com segurança. Os moradores organizaram uma patrulha para proteger o armazém no centro da vila. O que ainda restava nos campos foi colhido, e os animais foram recolhidos.
Satoru então seguiu até a Companhia Raposa da Lua. Subiu para o escritório e, ao entrar, viu Camila.
— Olá de novo — disse ele.
Camila cruzou os braços e sorriu.
— Você está se preparando para a fome? Que engraçado. Até parece que sabia…
— Talvez — respondeu Satoru, mantendo a calma.
Eles se encararam por um instante antes de Camila perguntar:
— O que você quer?
— Quero arroz. E um anel junto com ele.
Camila soltou uma risada sarcástica.
— Está ficando maluco?! Sabe que está pedindo um tesouro que somente nobres de alto escalão possuem?
Satoru manteve o olhar fixo nela.
— Estamos negociando. E é para isso que a Companhia Raposa da Lua existe, não é?
Camila estreitou os olhos.
— Você está pedindo um Rin meu e ainda está rindo?!
A atmosfera ficou mais densa. Satoru deu um passo à frente, sua presença ficando ainda mais intensa.
— Você vai perder se não me ajudar agora. Eu te garanto isso.
A pressão no ambiente aumentou.
Satoru encarou Camila com um olhar frio e decidido. Ele não estava ali para pedir favores, mas sim para negociar com a Companhia Raposa da Lua. Camila, por sua vez, não gostou do tom dele e se sentiu ameaçada.
— Tá me ameaçando?! — ela rosnou.
Satoru manteve o olhar firme.
— Que maldade pensar isso. Somos amigos, mas preciso da sua ajudinha agora. Ou então… posso ser seu inimigo. E nem mesmo o vampiro que vocês idolatram vai te salvar.
Essas palavras foram a faísca que acendeu o combate. Sombras de assassinos surgiram ao redor, movendo-se em velocidades quase imperceptíveis. Camila também avançou com sua adaga. No entanto, Satoru não era um alvo fácil. Com os olhos brilhando em um tom vermelho intenso, ele esmagou um atacante à direita e, com um movimento ágil, girou no ar, derrubando o adversário que vinha de cima.
Camila aproveitou a brecha e disparou na direção dele, sua adaga cortando o ar em um golpe certeiro para o pescoço. Mas Satoru desviou com precisão, acertando uma joelhada poderosa nela.
— Por que ficou tão agitada? — ele provocou. — Eu sei que o vampiro da capital, o verdadeiro líder da Companhia Raposa da Lua, está traindo os demônios. É só questão de tempo até os lordes notarem. Vai me ajudar ou vai querer perder o seu vampiro bonzinho?
Camila caiu no chão, segurando o estômago, surpresa. Como ele sabe sobre o Patriarca? Esse era um segredo guardado apenas pelos executivos.
Satoru se virou, pronto para sair.
— Vocês só pensam em lucro. Não dão a mínima para a vida das pessoas. Mas eu quero proteger o que é meu. Se não vai me ajudar, pode ir embora.
Camila, rangendo os dentes, rastejou até sua mesa e puxou uma caixinha banhada a ouro. Com um gesto irritado, jogou-a para Satoru.
— Não compare o Patriarca com os lordes demônios. Ele é diferente.
Satoru pegou a caixinha e abriu um sorriso satisfeito.
— Agora estamos falando a mesma língua.
Ele saiu sem olhar para trás. Os assassinos derrotados se levantaram, confusos.
— Senhorita Camila… Ele não tem mana ou magia… Mas ainda assim, nós perdemos.
Camila passou a mão na testa, frustrada.
— Eu sei… Ele é um monstro fora da jaula. E o que mais me irrita… é pensar que ele sabe o futuro de tudo.
Camila sentia-se de mãos atadas pela primeira vez. Esse garoto não é Ananias… Isso é um fato. Ele é mais perigoso, e eu não consigo entendê-lo.
Ela refletia sobre tudo que havia acontecido. Ele comprou uma escrava que estava à beira da morte, e agora ela se tornou um monstro ao seu lado. Ele parece saber tudo o que vai acontecer, como se já tivesse visto o futuro. Seus olhos não vacilam, e isso é um problema. Quem tem mais informações sempre leva vantagem.
Camila olhou para a mesa, onde antes estava o anel que ela havia entregue a Satoru. Aquele anel era um presente para o príncipe da capital… O Patriarca vai ficar maluco quando souber que ele pegou.
No meio de seus pensamentos, o espelho do escritório brilhou. A imagem de um vampiro de cabelos brancos e olhos vermelhos apareceu. Sua presença emanava autoridade.
— O que aconteceu, Camila? — perguntou Vicente, o Patriarca. — Ouvi de informantes que foram atacados.
Camila suspirou antes de responder:
— Temos um problema… E um dos grandes. Alguém descobriu sua verdadeira identidade.
O semblante de Vicente ficou sério.
— Já o silenciou?
Camila apertou os punhos.
— É impossível matá-lo agora. Ele é um monstro no corpo de um humano.
Vicente franziu o cenho.
— Um monstro? Até mesmo para você, uma executiva?!
Camila assentiu.
— Sim… Eu perdi. Ele não tem mana nem magia, mas é brutal. Parece ficar mais forte à medida que fica com raiva.
Vicente cerrou os dentes, a pressão no ambiente aumentando.
— Maldito… E o anel do príncipe?
Camila hesitou antes de responder:
— Foi tomado.
A raiva de Vicente era palpável.
— Eu mesmo vou resolver isso.
Mas Camila ergueu a mão, tentando detê-lo.
— Patriarca… Acho que ele sabe o futuro. E eu sinto que ele vai parar a guerra na fronteira.
Vicente arregalou os olhos.
— Camila, essa guerra já matou milhares. O que uma única pessoa poderia fazer?
Camila suspirou.
— Ele é um monstro além da nossa compreensão. Se ele souber do futuro, o senhor pode estar em perigo. Por favor, deixe que eu resolva.
Vicente a encarou por um momento antes de ceder.
— Tudo bem…
A conexão mágica se encerrou.
No escritório da capital, Vicente olhava pela janela, preocupado.
— Um monstro apareceu… Que problema. Se até a Camila, a mais inteligente, reconhece que ele está em outro nível, então preciso de respostas.
Sem perder tempo, ele pegou sua capa e saiu pelas sombras da cidade. Ele seguiu por vielas escondidas até chegar a uma casa velha na favela da capital. Quando abriu a porta, encontrou Verônica, uma bruxa de magia negra, varrendo o chão.
Ela ergueu os olhos e sorriu.
— Já faz muito tempo que não te vejo, Vicente.
Ele retirou o capuz, revelando seu rosto pálido.
— Pois é… Já fazem vinte anos.
Verônica inclinou a cabeça.
— Um vampiro me visitando… Veio ver o futuro novamente?
Vicente cruzou os braços.
— Uma variável apareceu. Ele sabe da minha identidade secreta.
A bruxa caminhou até uma mesinha e retirou um pano negro que cobria uma bola de cristal.
— Vamos dar uma olhadinha…
Ela fechou os olhos e concentrou sua mana. A atmosfera ao redor começou a vibrar, e o ar ficou denso. Mas, de repente, seus olhos se arregalaram.
Uma sombra com olhos vermelhos apareceu na visão dela. Era como se a própria escuridão estivesse viva e a observando.
Verônica engasgou, cuspindo sangue no chão.
Assustada, segurou o peito e encarou Vicente com horror.
— Com quem diabos você mexeu?!
Vicente, alarmado, segurou seus ombros.
— O que você viu?!
A bruxa tremia.
— Eu… Eu só vi escuridão… E olhos vermelhos… A destruição desse mundo.
Vicente sentiu um arrepio na espinha. Pela primeira vez em séculos, ele estava genuinamente assustado.
Continua...
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Atualizado até capítulo 20
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PS Romântico
monster
2025-03-18
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