Satoru rasgou as roupas velhas de escrava de Mary e sentiu seu peito apertar ao ver o estado deplorável em que ela se encontrava. Seu corpo magro estava coberto de hematomas, cicatrizes e feridas abertas, e ela tremia levemente, seja de frio, dor ou medo. Era difícil dizer.
Mesmo assim, Mary manteve seu olhar vazio e apático. Sua voz saiu fraca, quase sem vida:
— Desculpe… A visão é desagradável, mestre…
Satoru fechou os olhos por um momento, respirando fundo. A maneira como ela dizia aquilo, como se fosse natural que alguém a visse como um fardo, o deixava ainda mais furioso—não com ela, mas com o mundo que a quebrou dessa forma.
Ele se abaixou na banheira de madeira e segurou o queixo de Mary com delicadeza, fazendo-a encará-lo.
— Está tudo bem. Eu só estava avaliando sua condição.
Ela não reagiu, como se estivesse acostumada a ser tocada sem vontade própria. Sem dizer mais nada, Satoru pegou uma poção de cura e a colocou contra os lábios dela.
— Beba.
Mary obedeceu sem hesitação. Assim que o líquido desceu por sua garganta, um brilho fraco e verde percorreu seu corpo. Sua respiração ficou pesada, e ela tremeu quando sentiu os efeitos da poção agindo por dentro, costurando feridas internas, restaurando parte de sua energia.
Satoru analisou o brilho fraco e cerrou os dentes.
— Como eu imaginei… Seus ferimentos são profundos demais. Essa vila não tem nada de qualidade. Vou ter que fazer isso do jeito tradicional.
Ele pegou um pote de pomada medicinal.
— Vire-se de costas para mim.
Mary, sem hesitar, se virou lentamente.
O que Satoru viu fez seu sangue gelar. Seu olhar endureceu enquanto encarava as marcas profundas de chicote e os cortes abertos. Algumas cicatrizes eram antigas, outras recentes, algumas infeccionadas. A pele pálida dela estava rasgada em tantos pontos que parecia que sua carne tinha sido moldada à base de dor.
Mary, ainda sem emoção, murmurou:
— Sinto muito por essa visão…
Satoru respirou fundo, tentando manter a calma. Em silêncio, começou a aplicar a pomada nas feridas. Assim que o remédio tocou sua pele, Mary estremeceu violentamente e soltou um pequeno gemido de dor, mas não reclamou.
— Aguente firme. Vai arder um pouco.
Ela apenas assentiu.
Enquanto deslizava os dedos sobre as cicatrizes, Satoru não pôde evitar pensar no destino que ela teria se ele não estivesse ali. Ele sabia quem Mary se tornaria—Rainha da Calamidade, um dos seres mais temidos da história. E agora… estava ali, frágil e machucada, sem esperança.
_"Agora eu sei porque você se aliou aos demônios…"
O pensamento veio como uma lâmina cortante. A humanidade nunca a viu como nada além de uma ferramenta descartável. Humanos são monstros que destroem a própria espécie.
Assim que terminou de tratar os ferimentos, Satoru pegou um rolo de bandagens e começou a enfaixar seu corpo com cuidado, garantindo que os curativos ficassem firmes, mas sem machucá-la ainda mais.
Enquanto fazia isso, Mary falou, sua voz um pouco mais forte:
— Mestre… Meu nome é Mary. Qual é o seu?
Satoru parou por um momento e então respondeu calmamente:
— Me chamo Satoru.
Ela piscou, parecendo surpresa.
— É um belo nome…
O silêncio caiu por um momento antes que ela perguntasse:
— Mestre… Por que está gastando tanto comigo? Eu não tenho nada… Não tenho valor… Até meu corpo não é mais puro…
Satoru terminou de enfaixá-la e então colocou as mãos nos ombros dela, fazendo-a olhar para ele. Seus olhos estavam calmos e sérios.
— Mary… Ninguém se importa com ninguém. O mundo sempre foi assim. Mas, para mim, você é importante. Eu gastaria toda a minha fortuna se isso significasse ter você ao meu lado.
Mary arregalou levemente os olhos. Foi a primeira vez que ele viu uma verdadeira reação nela.
Satoru continuou:
— Eu vou morrer em um futuro não tão distante. Afinal, estou mudando o destino, e tentar alterar o futuro tem consequências. Mas enquanto eu estiver vivo, vou lutar para criar uma realidade onde ninguém mais sofra como você sofreu.
Mary sentiu seu peito se apertar. Pela primeira vez em anos, algo dentro dela reagiu. Uma fagulha quente. Uma esperança que ela já havia enterrado há muito tempo.
Seus olhos, antes frios e mortos, brilharam levemente com uma nova determinação.
Ela se ajoelhou diante dele e abaixou a cabeça.
— Obrigada… É a primeira vez que alguém não mente para mim. Vou servir você de corpo e alma. Faça o que quiser comigo.
Satoru passou a mão na cabeça dela, bagunçando levemente seus cabelos.
— Bom saber. Obrigado por aceitar. Mas, só para deixar claro… Mesmo que tivesse recusado, eu não teria deixado você ir embora.
Mary não soube dizer por quê, mas ao ouvir aquelas palavras, sentiu uma estranha sensação de alívio.
Na sala ao lado, Bia, a costureira cega, continuava costurando, ouvindo tudo atentamente. Seus dedos deslizavam pelo tecido, e em sua mente, apenas um pensamento surgia:
"Eu tenho os olhos da alma… Mesmo sem enxergar, posso ver além das aparências. Mas esse ser dentro do corpo de Ananias… Eu só vejo sombras ao seu redor. Sombras… e, ao mesmo tempo, uma bondade intensa. Quem é você…?"
Continua...
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Atualizado até capítulo 20
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PS Romântico
quem somos ?!
2025-03-18
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