Capítulo 5: Quem é você?!

Bia, ao terminar de costurar, passou os dedos pelo tecido macio do sutiã. Mesmo sem enxergar, sentiu cada detalhe da peça com precisão. Com um suspiro impressionado, murmurou:

— Que coisa linda… Parece ser de outro mundo.

Satoru apareceu ao seu lado, pegando uma das peças e analisando o trabalho.

— Você conseguiu fazer igual. Obrigado.

Bia inclinou a cabeça, ainda segurando o sutiã com curiosidade.

— Essas peças realmente não são comuns… Posso usar?

Satoru sorriu de canto.

— Claro, eu já ia pedir para você produzir mais. Vai ajudar muitas mulheres com a postura. Se os músculos ficarem bem sustentados, a coluna sofre menos pressão.

Bia assentiu, absorvendo a informação, enquanto Satoru pegava o uniforme de empregada recém-costurado e se dirigia até Mary.

No provador, Mary olhava para ele com um misto de curiosidade e hesitação.

— Mary, isso se chama sutiã. — Ele levantou a peça para que ela visse.

— Sutiã? — Ela repetiu, franzindo a testa.

— Sim. Vira de costas.

Mary obedeceu sem questionar. Satoru colocou a peça cuidadosamente em seus ombros e ajustou as alças.

— É assim que se usa. Com o tempo, você mesma poderá vestir sozinha.

Mary se virou para o espelho e arregalou levemente os olhos.

— Mestre… Minha postura está reta. E não é desconfortável.

Satoru cruzou os braços e sorriu satisfeito.

— Esse é o propósito. Algo que deixe as mulheres à vontade, sem causar dor ou incômodo.

Mary tocou levemente a peça, absorvendo a novidade. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu algo diferente… Um pequeno resquício de conforto.

Satoru estendeu o uniforme para ela.

— Agora você já pode se vestir.

Ele fechou a porta do provador e saiu, caminhando de volta para onde Bia estava.

Bia, ainda segurando um dos sutiãs recém-costurados, ficou em silêncio por um momento. Seu coração acelerou, e sua mente refletiu sobre algo que até então parecia impossível.

"Eu tenho os olhos da alma, mesmo sendo cega… Mas esse ser no corpo de Ananias… Eu vejo apenas sombras. Sombras… e ao mesmo tempo, bondade. Quem é você realmente?"

Bia sentiu a presença de Satoru se aproximando e franziu a testa.

— Você parece me conhecer… Mas tenho certeza de que nunca senti seu cheiro na minha vida.

Satoru observou a mulher com atenção. Bia, uma ex-soldada do Império… Mesmo sendo cega, seus olhos da alma enxergam as sombras das pessoas.

Ele cruzou os braços e respondeu calmamente:

— Eu sei o futuro… Ou melhor, eu sabia. Antes de tudo mudar, eu morria como bucha de canhão em uma guerra.

Bia ficou em silêncio por um momento, absorvendo aquelas palavras.

— Entendo… Então você conhece o futuro e quer mudá-lo. Sabe que isso é perigoso, certo?

Satoru deu de ombros.

— Sei. Mas algumas pessoas não merecem o destino que terão. O seu, por exemplo… Você morre velhinha nas linhas de frente.

Bia sorriu de canto, com ironia.

— Tenho 25 anos e alguém já está tentando decidir meu futuro? Que engraçado.

Mas seu sorriso desapareceu quando Satoru continuou:

— Eu te proíbo de sair desta vila.

Bia arqueou as sobrancelhas, surpresa.

— Proíbe?

— Sim. Eu preciso de você para que meu plano dê certo… Ou pelo menos para tentar.

Bia suspirou, passando a mão na cabeça.

— Tá bom, tá bom… Eu não vou embora. Mas, em troca, quero novos modelos de roupas.

Satoru sorriu de lado.

— Tudo bem. Vou desenhar depois.

Bia inclinou a cabeça, pensativa.

— Então… Você quer ser o herói dessa história?

O olhar de Satoru se tornou frio e intenso.

— Não quero ser herói. Já tem vários por aí. Mas se alguém ousar tocar no que é meu… Eu mostro que sou Brutal.

Bia sentiu um calafrio. A pressão daquela presença era esmagadora. Mesmo sem enxergar, ela viu—pela primeira vez—uma sombra que parecia engolir tudo ao redor.

Continua...

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