O ambiente na sala era sufocante.
Nik ainda sentia a pele latejando da mordida de Loki.
O gosto metálico de sangue ainda estava em sua boca.
Mas ninguém ali parecia ligar para isso.
Porque havia algo mais acontecendo.
Algo ainda pior.
Reed deslizou os dedos pelo próprio copo, tranquilo, como se estivesse apenas jogando conversa fora.
Mas seus olhos estavam afiados como lâminas.
O garoto algemado encarava Reed com ódio absoluto.
Os punhos cerrados. Os olhos queimando.
Mas Reed?
Reed apenas sorria.
— Você já sabe por que está aqui, não sabe?
A voz dele era baixa, perigosa.
O garoto não respondeu.
Mas Reed não se importava.
Ele pegou um charuto do bolso interno do paletó, acendeu-o com calma e soltou a fumaça no ar como se nada estivesse acontecendo.
— Vou te dar uma última chance.
Ele inclinou-se na poltrona, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Onde está o meu dinheiro?
O garoto trincou os dentes.
— Eu vou pagar.
Reed riu.
Um riso curto. Divertido.
Ele se inclinou ainda mais perto.
— Ah, é?
Ele cruzou os braços.
— E como? Você não tem nada. Não tem casa, não tem carro, não tem um maldito centavo no bolso.
O garoto não respondeu.
Reed soltou mais uma baforada de fumaça.
— Então eu acho que vou ter que aumentar os juros.
O garoto arquejou.
— O quê?!
Reed sorriu.
— Você ouviu.
Ele pegou um pedaço de papel do bolso e jogou sobre a mesa.
— Agora você me deve o dobro.
O garoto sentiu o corpo inteiro tremer.
— Você é um desgraçado.
Reed arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa.
— Oh… você ainda tem dignidade?
Ele sorriu mais.
— Bom. Vamos ver até quando.
Ele se recostou na cadeira, cruzando as pernas.
— Porque eu ainda tenho uma segunda opção para você.
O silêncio na sala foi ensurdecedor.
Nik sentiu o estômago afundar.
Ele já sabia o que vinha a seguir.
Reed girou o charuto entre os dedos.
— Trabalhe para mim.
O garoto bufou de raiva.
— Eu já disse que vou pagar!
Reed sorriu mais.
— Sim, mas eu estou te dando uma maneira mais rápida de resolver isso.
Ele inclinou a cabeça.
— Se torne minha prostituta.
O sangue do garoto gelou.
Nik sentiu o próprio coração parar por um segundo.
Ele olhou para Loki, esperando alguma reação, mas Loki apenas sorria.
O garoto grunhiu.
— Nem morto.
Reed riu.
— Ah… mas você já está quase morto, não está?
Ele se levantou, caminhando lentamente até onde o garoto estava.
Quando ficou diante dele, segurou seu queixo com força.
— Você acha que tem escolha?
O garoto tentou se soltar, mas Reed o segurava firme.
Seus olhos eram frios.
— Você acha que o mundo se importa com você?
Ele se inclinou ainda mais perto.
— Você acha que eu me importo?
O garoto sentiu os olhos arderem.
Mas não cedeu.
— Foda-se você.
Reed soltou seu queixo e riu mais.
— Certo.
Ele deu um passo para trás, como se tivesse acabado de decidir algo.
— Então você vai trabalhar na mansão de Loki.
Nik sentiu o peito apertar.
O quê?!
O garoto arregalou os olhos.
— O quê?!
Reed sorriu.
Ele olhou para Loki, como se estivesse fechando um negócio casual.
— O que acha, Loki? Você pode usá-lo para qualquer coisa.
Loki riu.
Ele cruzou os braços, olhando para o garoto algemado como se analisasse um novo brinquedo.
— Pode ser interessante.
Reed bateu palmas, satisfeito.
Ele olhou para o garoto.
— Agora você tem um novo lar.
Ele sorriu de lado.
— E Nik não vai mais ficar sozinho.
Nik prendeu a respiração.
Ele não queria isso.
Não queria mais ninguém envolvido nisso.
Mas Reed…
Reed estava apenas se divertindo.
E Loki…
Estava aproveitando o jogo.
O garoto grunhiu, puxando as algemas.
— Isso é um inferno.
Reed sorriu mais.
— Sim.
Ele deu um tapinha no ombro do garoto.
— E agora você mora nele.
Nik sentiu o coração afundar.
Porque ele sabia…
Nada bom viria disso.
A noite caiu sobre a mansão, mas o ambiente dentro dela era um inferno à parte.
O jantar já havia terminado há horas, mas Loki, Reed e Kix continuavam na sala de jogos.
As garrafas de uísque se acumulavam sobre a mesa.
A fumaça dos charutos e dos cigarros preenchia o ar, tornando a atmosfera pesada, intoxicante.
E então…
Eles decidiram levar tudo para outro nível.
Nik e o novo garoto estavam do lado de fora da sala.
Ouvindo.
Observando.
Mas sem se atrever a entrar.
Porque sabiam que algo estava errado.
Algo terrivelmente errado.
Lá dentro, Loki e Reed estavam jogados nos sofás de couro, cada um com um copo na mão.
Os olhos vermelhos de álcool e algo mais.
Kix estava rindo sozinho, os pés sobre a mesa, tragando um cigarro como se fosse oxigênio.
E então…
Reed pegou um pequeno frasco do bolso do paletó.
Loki olhou para ele, curioso.
— Isso é novo.
Reed sorriu.
— Eu sempre trago algo interessante.
Ele levantou o frasco, girando o líquido transparente dentro dele.
— Você quer experimentar?
Loki pegou o frasco, analisando-o por um segundo.
Então, sem hesitar, ele abriu e puxou uma seringa.
— O que isso faz?
Reed riu baixo.
— Te faz esquecer do tempo.
Kix apoiou os cotovelos nos joelhos, interessado.
— Eu gosto disso.
Loki encheu a seringa e injetou no próprio braço sem nem piscar.
Ele jogou a cabeça para trás, sentindo o efeito subir instantaneamente.
Reed sorriu.
Ele pegou outra seringa, injetou em si mesmo e então passou para Kix.
E assim, os três caíram ainda mais fundo.
Do lado de fora…
Nik e o novo garoto trocaram um olhar.
Ouvindo a risada dos três homens lá dentro, o som das garrafas batendo, das palavras arrastadas e desconexas.
O cheiro de álcool e fumaça escapando pela fresta da porta.
— O que eles estão fazendo? — O garoto perguntou, a voz baixa.
Nik engoliu seco.
— Se destruindo.
O garoto ficou em silêncio.
E então…
Um som alto.
Algo quebrando.
Eles se assustaram.
E, antes que pudessem reagir, a porta se abriu.
E Loki estava ali.
Louco.
Os olhos vermelhos, as pupilas dilatadas, a expressão fora de controle.
Ele ria.
Mas não era um riso normal.
Era caótico.
Ele segurou a maçaneta da porta, os dedos tremendo.
Reed apareceu logo atrás, do mesmo jeito.
Kix cambaleava, segurando um copo vazio e rindo de algo que nem existia.
Nik sentiu o estômago afundar.
Loki olhou para ele.
E então…
Avançou.
Nik tentou recuar, mas Loki o segurou pela cintura e o puxou para dentro da sala.
O novo garoto tentou impedi-lo, mas Reed apenas riu e o empurrou contra a parede.
— Relaxa. — Reed murmurou. — A noite só está começando.
Nik sabia.
Nada de bom viria daquilo.
Mas ele já estava preso.
Preso com três homens que já haviam passado do limite.
E agora…
Ele não sabia o que aconteceria a seguir.
O sol entrava fracamente pela janela do quarto de Loki. Seu corpo inteiro estava dolorido, pesado.
Ele abriu os olhos devagar, sentindo a cabeça latejar como se alguém estivesse martelando por dentro.
A boca seca. O gosto amargo de álcool ainda presente.
Ele passou a mão pelo rosto, tentando lembrar da noite anterior.
Mas havia um problema.
Ele não lembrava de nada.
Loki se sentou na cama, piscando algumas vezes, tentando clarear os pensamentos.
A única coisa que sabia era que Nik não estava ali.
Ele olhou ao redor. Nenhum sinal dele.
E então, o primeiro fio de pânico surgiu.
Lentamente, Loki se levantou, sentindo os músculos rígidos. Ele saiu do quarto e caminhou pelo corredor.
— Nik?
Nenhuma resposta.
Ele foi até o quarto de hóspedes. Vazio.
Foi até o banheiro. Nada.
Foi até a cozinha. Ninguém.
Loki sentiu algo se contorcer dentro dele.
Nik não estava na casa.
E isso não fazia sentido.
Ele deveria estar ali.
Ele sempre estava ali.
E então…
A resposta veio.
Um dos seguranças apareceu na entrada da sala, a expressão tensa.
— Senhor…
Loki olhou para ele, o coração batendo mais forte do que gostaria.
— O que foi?
O segurança parecia hesitante.
Mas então, ele falou:
— Os dois garotos estão internados no hospital mais próximo.
Loki sentiu o estômago afundar.
Que porra?
Ele deu um passo à frente, o olhar escurecendo.
— O quê?
O segurança engoliu em seco.
— Senhor… vocês passaram do limite.
Loki sentiu algo frio subir por sua espinha.
— Do que você está falando?
O segurança respirou fundo.
— Os senhores… há dois dias… deixaram os dois garotos em estado crítico.
O mundo de Loki parou.
Dois dias?
Ele piscou.
— Do que você está falando? — Sua voz estava mais baixa agora. Mais perigosa.
O segurança parecia nervoso.
— O senhor não lembra?
Loki não respondeu.
Porque a verdade era simples e horrível.
Ele não lembrava.
De nada.
Dois dias haviam passado.
E Nik estava em um hospital.
Loki sentiu um peso no peito que nunca havia sentido antes.
Ele precisava descobrir o que diabos havia feito.
E, acima de tudo…
Precisava ver Nik.
Loki não perdeu tempo.
Assim que recebeu a informação, pegou seu casaco e saiu de casa.
Seu corpo ainda estava cansado, pesado da ressaca, mas nada disso importava.
Nik estava no hospital.
E Loki precisava vê-lo.
O carro preto cortava as ruas rapidamente. Ele quase não piscava.
Seu maxilar estava trincado, as mãos apertando o volante com força.
O que diabos ele havia feito?
O que aconteceu naquela maldita noite?
Ele tentava lembrar.
Mas tudo era um borrão.
A única coisa que sabia…
É que se Nik estava internado, ele havia passado do limite.
Hospital Geral da Cidade.
O cheiro de desinfetante, a luz fria dos corredores, os passos apressados dos médicos e enfermeiros.
Loki entrou com passos pesados.
Os olhos imediatamente buscaram o balcão de atendimento.
A recepcionista olhou para ele e pareceu hesitar.
Afinal, ele não era alguém comum.
A presença de Loki exigia atenção.
— Nik Laurent. — Sua voz foi direta. Fria.
A mulher verificou o sistema.
— Quarto 314.
Loki não agradeceu.
Apenas seguiu.
A porta do quarto estava fechada.
Loki parou por um segundo.
Algo dentro dele estava inquieto.
Mas ele não podia recuar agora.
Então… ele abriu a porta.
E o que viu fez seu peito apertar de um jeito estranho.
Nik estava na cama, coberto de ataduras.
Seus braços tinham roxos e cortes. O rosto estava machucado.
Havia um acesso intravenoso em seu braço, o soro pingando lentamente.
E seus olhos…
Estavam fechados.
Loki sentiu algo frio dentro dele.
Por um momento, ele não se moveu.
Não sabia o que fazer.
Então… ele se aproximou.
Os passos lentos.
Até que estava diante da cama.
E Nik abriu os olhos.
Os olhos dele estavam vazios.
Sem raiva.
Sem medo.
Sem nada.
Loki não gostou daquilo.
Porque Nik sempre reagia a ele.
Sempre.
Mas agora… ele não parecia mais importar-se.
Loki abriu a boca para falar.
Mas Nik foi mais rápido.
A voz dele saiu baixa, quebrada.
— Você veio…
Loki trincou os dentes.
— O que aconteceu?
Nik piscou devagar.
E então… sorriu.
Mas não foi um sorriso feliz.
Foi um sorriso amargo.
— Você não lembra, não é?
Loki sentiu um arrepio subir por sua espinha.
Nik riu baixinho.
— Engraçado. Eu lembro de tudo.
Loki apertou os punhos.
— Me diga.
Nik virou o rosto para o lado.
— Não precisa. Os hematomas já falam por si.
Loki sentiu algo contorcer dentro dele.
Porque ele odiava essa sensação.
Essa sensação de que não estava no controle.
Ele se inclinou sobre a cama, os olhos cravados nos de Nik.
— Fale.
Nik o encarou.
Por longos segundos.
Até que finalmente disse:
— Você me quebrou.
Loki sentiu o peito apertar.
E pela primeira vez…
Ele não soube o que fazer.
CONTINUA.....
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Atualizado até capítulo 20
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