Nik atravessou os corredores da mansão como se estivesse fugindo de uma explosão. Os ecos das vozes e risadas falsas da sala de jantar ficavam para trás enquanto seus passos apressados ecoavam pelo chão de mármore.
O coração batia forte, não só de medo — mas de algo pior.
Ansiedade.
Excitação doentia.
Ele entrou no quarto e puxou a porta para fechar com força, mas antes que pudesse trancá-la, uma mão firme segurou a borda da porta.
Loki.
O homem deslizou para dentro do quarto sem pedir permissão, fechando a porta atrás de si.
Nik recuou, tropeçando levemente na beira da cama, mas manteve-se de pé. O peito subia e descia, os dedos tremendo ao lado do corpo.
Loki estava perfeito.
Terno alinhado, cabelos impecáveis, perfume caro e sutil envolvendo o ar entre eles.
Mas os olhos…
Os olhos eram os mesmos.
Os olhos do homem que o prendeu, quebrou e moldou.
— Sentiu minha falta? — Loki perguntou, o tom suave, como se eles fossem velhos amigos se reencontrando.
Nik abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.
Porque sim.
Porque não.
Porque ele mesmo não sabia.
Loki deu um passo lento à frente, a mão deslizando pelo próprio colarinho, desabotoando o botão superior do terno com uma naturalidade que parecia ensaiada.
— Eu senti a sua. — Loki continuou, a voz mais baixa. — Você é difícil de esquecer, príncipe.
Nik deu um passo para trás, mas a cama o impediu de ir longe.
Loki avançou.
Os dedos frios de Loki tocaram o tecido fino da camisa de Nik, deslizando por baixo dela com uma facilidade assustadora, como se aquele corpo fosse uma propriedade que Loki conhecia de cor.
Nik estremeceu.
— Para… — A voz de Nik saiu falha, sem força.
— Para? — Loki repetiu, com um sorriso torto. — Você não quer que eu pare. Você quer que eu te lembre de quem você é quando estamos sozinhos.
Os dedos de Loki subiram pelo peito de Nik, roçando a pele quente e ainda marcada por cicatrizes sutis. Ele apertou de leve, não o suficiente para machucar — mas o suficiente para lembrar.
Para lembrar quem era o dono daquele corpo.
Nik tentou afastar a mão de Loki, mas sua força era inútil.
— Você não pode estar aqui… Não aqui. Não na minha casa.
Loki inclinou-se, os lábios roçando a orelha de Nik.
— Mas eu estou. E o melhor de tudo… sua própria família me convidou para ficar.
Nik fechou os olhos, lutando contra a vertigem de sentimentos que o arrastava. Medo, nojo, desejo, raiva. Tudo misturado como veneno e açúcar.
Loki afastou-se apenas o suficiente para encará-lo.
— Você pode fingir que me odeia na frente de todos. Mas aqui… — Sua mão deslizou pelo abdômen de Nik, descendo perigosamente pela linha da cintura. — Aqui você sempre foi honesto comigo.
Nik finalmente reagiu, empurrando Loki com força.
— Vai se foder, Loki! Eu não sou seu brinquedo!
Loki deu um passo para trás, apenas para rir.
Aquele riso baixo e cheio de controle, como se Nik fosse exatamente o que ele esperava.
— Claro que é. — Loki disse, ajustando o punho da camisa de grife. — E eu sou o seu.
Nik abriu a boca para responder, mas não havia resposta.
Porque era verdade.
Por mais que o odiasse, por mais que Loki fosse o monstro que destruiu sua vida…
Nik ainda estava preso nele.
Loki girou nos calcanhares, indo em direção à porta.
— Durma bem, príncipe. A gente vai se divertir bastante enquanto eu estiver aqui.
Ele abriu a porta, mas antes de sair, olhou por cima do ombro.
— E não adianta correr. Eu sempre te encontro.
A porta se fechou.
Nik deslizou até sentar no chão, o corpo tremendo, a cabeça entre as mãos.
O pesadelo recomeçava.
Mas dessa vez, o mundo inteiro achava que Loki era um santo.
E Nik estava completamente sozinho.
Os dias seguintes foram uma lenta tortura para Nik.
Durante o dia, a mansão Laurent parecia funcionar como um palco de teatro requintado. Loki circulava pelos corredores, sorria educadamente para Eleanor, apertava a mão de Victor em reuniões no escritório privado e até elogiava a comida servida pelos chefs da casa.
Ele era o visitante perfeito.
O filho modelo de uma família poderosa.
Mas quando a noite caía, Loki mostrava sua verdadeira face.
O primeiro aviso veio na segunda noite.
Nik havia descido para beber água depois da meia-noite. A casa estava silenciosa, os empregados dormindo, e a luz da cozinha era a única acesa.
Quando Nik virou para sair, Loki estava parado no corredor, encostado na parede como se fizesse parte da decoração.
— Perdido, príncipe? — Loki perguntou, a voz baixa e suave, mas carregada daquele tom venenoso que Nik conhecia tão bem.
Nik não respondeu. Tentou passar por ele, mas Loki segurou seu braço, os dedos apertando com força o suficiente para deixar marcas.
— Lembra da nossa regra? — Loki sussurrou, aproximando-se. — Você não fala nada para ninguém. Não conta nenhuma historinha trágica. Você finge que nada aconteceu.
Nik tentou puxar o braço, mas Loki o empurrou contra a parede, o antebraço pressionando seu peito.
— E se você esquecer… — Loki apertou o rosto de Nik entre os dedos, forçando-o a encará-lo. — Eu te lembro.
E lembrou.
Naquela noite, quando Nik voltou para seu quarto e trancou a porta, não demorou para Loki entrar.
O som da chave girando — Loki já tinha acesso a todos os cômodos da casa.
Ele entrou sem pressa, fechando a porta com cuidado atrás de si, como se fosse apenas mais uma conversa casual entre velhos amigos.
— Eu vi aquele olhar na mesa do jantar. — Loki disse, a voz baixa, mas afiada. — Aquele olhar de quem quer gritar e apontar o dedo.
Nik recuou até a beira da cama, os punhos cerrados.
— Por que você está aqui? Você já me destruiu. Você venceu. Por que não me deixa em paz?
Loki sorriu — aquele sorriso torto e perigoso.
— Porque eu não terminei.
Com um movimento rápido, Loki puxou Nik pela camisa, jogando-o de costas sobre a cama. Ele subiu sobre ele, o joelho pressionando a coxa ainda sensível, o peso completo sobre o corpo magro de Nik.
— Você ainda respira. Ainda acha que pode ter uma vida fora de mim. Isso me irrita.
Nik tentou se soltar, mas Loki segurou seu rosto de novo, dessa vez batendo a lateral da cabeça de Nik contra o colchão.
— E se você abrir essa boca pra alguém…
O primeiro tapa veio sem aviso. Rápido e seco.
Nik mordeu o lábio para não reagir.
— Se você chorar, vai ser pior. — Loki avisou.
O segundo tapa veio, dessa vez mais forte, fazendo a cabeça de Nik virar para o lado. A pele ardeu instantaneamente.
— Você é meu segredo. Meu brinquedo. — Loki sussurrou no ouvido dele. — Se você tentar escapar disso, vou destruir tudo o que sobrou de você.
Os olhos de Nik brilharam de ódio e dor, mas ele não gritou. Não implorou. Apenas encarou Loki de volta — e isso irritou Loki ainda mais.
— Acha que é forte, não é? Acha que ainda tem alguma dignidade pra salvar?
Loki o empurrou de novo contra a cama e ficou de pé.
— A dignidade é a primeira coisa que eu tirei de você naquela casa. E eu posso tirar o resto quando eu quiser.
Ele virou-se para sair, mas parou com a mão na maçaneta.
— Durma bem, príncipe. Eu ainda estou aqui. E vou ficar quanto tempo eu quiser.
A porta se fechou.
Nik ficou deitado no escuro, o rosto ardendo, a respiração travada.
Ele sabia que não poderia contar nada para sua mãe.
Não poderia buscar ajuda.
Porque agora, Loki estava dentro da casa. Dentro da família.
E cada porta, cada chave, cada corredor…
Pertencia a ele.
Mas o que Loki não sabia é que, enquanto Nik limpava o sangue seco do canto da boca, algo dentro dele se recusava a morrer.
E, pela primeira vez, Nik pensou:
Talvez seja hora de parar de fugir… e começar a jogar também.
O sol da manhã entrava pelas janelas imensas da mansão Laurent, pintando o mármore branco com tons dourados. Lá fora, o jardim era perfeitamente cuidado, como se nada dentro da casa pudesse jamais quebrar o brilho impecável da fachada.
Mas dentro do quarto de Nik, o caos era silencioso.
Ele estava sentado na beira da cama, a lateral do rosto ainda marcada pelo tapa de Loki da noite anterior. Sua boca cortada, uma fina linha de sangue seco no canto. A dor física já era secundária — ele havia aprendido a conviver com dor.
Mas sua mente…
Essa, finalmente, começava a se movimentar.
Loki estava dentro da casa, cercado pelo prestígio e pela confiança de seus pais, intocável aos olhos do mundo. Ele andava pelos corredores como se fosse o dono de tudo, e cada vez que Nik cruzava com ele, aquele mesmo sorriso torto aparecia.
Era um lembrete.
Você é meu. Você nunca vai escapar.
Mas Nik não era mais só aquele garoto quebrado na mesa cirúrgica. Algo dentro dele mudou.
Cada tapa, cada humilhação, cada noite amarrado naquela mesa transformou Nik numa coisa nova. Algo que Loki não conhecia ainda.
E Nik decidiu: não vai fugir dessa vez.
Se Loki queria brincar, ele também ia jogar.
Durante o dia, Loki era perfeito.
Nos almoços, ele elogiava a comida de Eleanor com palavras doces e educadas em inglês, dizendo o quanto sentia falta de uma refeição caseira como aquela.
— You have a beautiful home, Mrs. Laurent. And your cooking is incredible. I feel lucky to be here.
(Você tem uma casa linda, senhora Laurent. E sua comida é incrível. Me sinto sortudo por estar aqui.)
— Oh, you’re too kind! — Eleanor respondia, radiante. — I hope Nik can learn some manners from you.
Nik ouvia aquilo com o sangue fervendo, mas mantinha a expressão neutra.
Victor também parecia encantado. Loki dominava as conversas sobre negócios em inglês, sugerindo melhorias e elogiando a visão de mercado da Laurent Enterprises.
— Your son is very impressive, Mr. Laurent. You must be proud.
(Seu filho é muito impressionante, senhor Laurent. Você deve estar orgulhoso.)
Victor, claro, adorava aquilo.
— We’re very proud of Nik, indeed.
(Estamos muito orgulhosos de Nik, sem dúvida.)
Nik queria rir.
Mas apenas apertou os talheres, até seus dedos ficarem brancos.
As visitas de Loki ao quarto de Nik eram constantes. Sem aviso, sem motivo aparente — apenas para lembrar Nik quem ainda mandava ali.
Uma noite, Nik tentou trancar a porta.
Loki entrou mesmo assim, girando a chave extra que ele sempre carregava.
— Você nunca aprende, não é? — Loki disse em português, a voz baixa e preguiçosa, como se Nik fosse uma criança teimosa.
Nik não respondeu.
Loki o empurrou contra a parede, prendeu seus pulsos acima da cabeça com uma mão só, enquanto a outra deslizava sob a camisa, os dedos frios tocando a pele quente de Nik.
— Tão fácil. Tão previsível.
Nik virou o rosto, tentando se soltar, mas Loki apertou mais.
— Você não vai contar nada, não é? Porque sabe o que acontece se você abrir essa boca.
O primeiro tapa veio sem aviso, ecoando no quarto silencioso.
Nik apertou os olhos, mas não chorou.
— Você já sabe o que fazer pra me agradar, não sabe? — Loki murmurou, os lábios roçando o ouvido de Nik, E colocar a mão só te a bunda.
Nik respirou fundo, a raiva crescendo debaixo da pele.
Mas ele não reagiu.
Durante o dia, ele não se escondia mais. Caminhava pelos corredores, cruzava com Loki, e quando seus pais estavam por perto, Nik sorria.
Ele sorria como se Loki fosse apenas um convidado querido.
Respondia suas provocações com respostas sutis em inglês, exatamente como seus pais esperavam.
— It’s nice having someone my age around here.
(É bom ter alguém da minha idade por aqui.)
Loki retribuía.
— It’s my pleasure. Your family is very welcoming.
(É um prazer. Sua família é muito acolhedora.)
Mas quando estavam sozinhos…
— Você acha que tá no controle agora? — Loki sussurrava em português, com a mão deslizando pelas costas de Nik em um corredor vazio.
— A gente vai ver quem quebra primeiro.
E Nik sorria.
Porque, pela primeira vez, Loki sentia medo.
Não medo de Nik fisicamente.
Mas medo de perder o controle sobre ele.
E no final, era isso que sempre moveu Loki.
Controle.
E Nik sabia exatamente como tirá-lo.
Mas o medo real ainda existia.
Cada vez que Nik via a sombra de Loki cruzar a porta do seu quarto à noite, o corpo dele congelava. O trauma não sumiu.
Mas a vontade de vencer estava crescendo.
E dessa vez, Nik não ia fugir.
Dessa vez, ele ia afundar com Loki — ou sair da mansão livre.
E pela primeira vez, Nik começou a sorrir de volta para Loki.
E aquele sorriso…
Era o verdadeiro começo da vingança.
CONTINUA...
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Atualizado até capítulo 20
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