As Regras da Casa

A luz do amanhecer entrava pelas cortinas finas, pintando o quarto em tons suaves de dourado e cinza. Nik acordou com o corpo rígido, o estômago embrulhado e a sensação de peso no peito que já se tornara familiar.

Ele estava sozinho na cama.

Loki não estava mais ali, mas o travesseiro ao lado ainda guardava o calor do corpo dele, e o lençol estava amassado onde Loki havia deitado.

A prova silenciosa de que tudo aquilo não fora um sonho.

Nik passou a mão pelos próprios braços, como se tentasse se reconectar consigo mesmo. Mas sua pele ainda trazia a lembrança do toque de Loki — e aquilo fez seu estômago revirar novamente.

Ele se levantou, a camisa larga deslizando sobre seus ombros, e saiu do quarto. O silêncio da casa nova era opressor. Cada passo sobre o piso gelado soava alto demais, como se a casa própria respirasse junto dele.

Na cozinha, encontrou Loki.

Sentado à mesa, calmamente tomando café, vestindo apenas uma calça de moletom cinza e descalço. Ele parecia absolutamente relaxado, como se fosse o dono de tudo — da casa, da manhã, e da própria alma de Nik.

— Bom dia, príncipe. — Loki disse, sem sequer olhar para ele.

Nik não respondeu. Apenas ficou ali parado, perto da porta, tentando entender como aquele homem conseguia alternar entre torturador e marido caseiro com tanta facilidade.

Loki virou a página de um jornal que estava sobre a mesa, tomou mais um gole do café e, finalmente, ergueu os olhos para Nik.

— A gente precisa conversar.

Nik sentiu o estômago afundar.

Lá vem.

Loki bateu os dedos sobre a mesa, num ritmo calmo e constante, como se cada batida fosse uma vírgula.

— Agora que você mora aqui, algumas regras são necessárias. — O sorriso de Loki era leve, quase amigável, mas os olhos… aqueles olhos ainda eram os de um predador.

Nik permaneceu em silêncio.

— Primeiro. — Loki ergueu um dedo. — Você nunca, em hipótese alguma, entra no meu quarto. Aquela porta estará sempre trancada, e se eu te pegar lá dentro, as consequências vão ser severas. Entendido?

Nik assentiu lentamente, sem desviar os olhos.

— Segundo. — Loki ergueu outro dedo. — Você não sai dessa casa sem a minha permissão. Não importa se for para o jardim ou para a varanda. Você me pede. E se eu disser não, é não.

A garganta de Nik ficou seca, mas ele não reagiu.

— E, por último. — Loki se inclinou um pouco para frente, os cotovelos apoiados na mesa. — Eu não quero você andando por aqui de shorts. Nunca.

Nik franziu o cenho.

— O quê?

Loki sorriu.

— Você só usa camisa e cueca dentro dessa casa. Só. Nada de calças folgadas, nada de shorts. Quero você assim. — Ele fez um gesto com a mão, apontando para Nik, que vestia apenas uma camisa comprida e uma cueca branca. — Gosto de ver minhas coisas.

O rosto de Nik queimou de vergonha e raiva.

— Você é doente.

Loki deu um sorriso mais largo.

— Você já sabia disso. E mesmo assim, aqui estamos.

Nik queria gritar. Queria jogar aquela xícara de café na cara dele, queria fazer qualquer coisa que quebrasse aquela calma sufocante de Loki. Mas sabia que, por enquanto, não podia.

— Mais alguma coisa? — Nik perguntou, a voz seca e amarga.

Loki balançou a cabeça.

— Apenas siga as regras. Facilita para todo mundo. Especialmente para você.

Nik virou-se para sair da cozinha, mas Loki falou de novo, sua voz baixa e cortante.

— Ah, e Nik…

Nik parou no meio do corredor, sem se virar.

— Se tentar quebrar alguma dessas regras… — A voz de Loki ficou quase doce. — Eu posso ser muito mais criativo do que já fui. E você sabe disso.

Nik fechou os olhos, engolindo em seco.

Ele sabia.

E era exatamente por isso que, por mais que odiasse, ele seguiria as regras.

Pelo menos por enquanto.

Mas no fundo, algo crescia em Nik.

Uma raiva surda, uma fúria contida.

Loki achava que tinha controle sobre ele.

Mas Nik estava aprendendo a fingir.

E logo, seria a vez de Loki não saber o que esperar.

Os corredores daquela casa eram longos demais. Frios demais. Cada parede de concreto parecia observar Nik enquanto ele caminhava descalço, a camisa larga e a cueca branca sendo a única camada entre ele e a vulnerabilidade completa.

O chão gelado arrepiava sua pele, mas o que realmente o sufocava era o silêncio.

Um silêncio preenchido pela presença invisível de Loki.

Mesmo quando Loki não estava por perto, Nik sentia-o em cada canto. Cada porta, cada janela, cada sombra da casa parecia ter sido marcada por ele. Como se a própria casa fosse uma extensão da mente de Loki — e Nik estivesse preso lá dentro.

E foi nesse vazio opressor que Nik começou a falar.

Baixo, primeiro para si mesmo, depois para qualquer ouvido invisível que estivesse escutando.

— Por que você faz isso? — Sua voz ecoou pelo corredor.

Ele parou no meio do caminho, olhando para a própria mão tremendo.

— Por que eu? Por que me escolheu? Por que me destruiu e depois me trouxe de volta?

Seus olhos ardiam. Ele respirou fundo, mas não conseguiu segurar.

— Você podia ter me matado e acabado com isso. Mas me trouxe aqui. Me colocou nessa casa como se fosse meu marido, como se eu fosse uma porra de troféu. E eu não entendo!

Sua voz cresceu, ficando trêmula.

— Eu não sou ninguém! Eu nunca fui nada pra ninguém! Meus pais me venderam como se eu fosse lixo, você me tratou como um brinquedo… Eu não sei o que você quer de mim!

As lágrimas começaram a escorrer, quentes e pesadas, descendo pelo rosto de Nik enquanto ele tremia, os punhos cerrados ao lado do corpo.

— Eu só quero entender… eu só quero saber por que eu não posso simplesmente desaparecer. Por que você me quer aqui? Por que você me quer perto?!

Ele não percebeu quando Loki apareceu atrás dele.

O silêncio dele era uma arma.

Loki ficou ali, ouvindo cada palavra, cada soluço, cada pedaço de dor escorrendo da boca de Nik.

E quando Nik caiu de joelhos no meio do corredor, chorando de verdade — sem resistência, sem máscara, apenas Nik quebrado e exposto — Loki agiu.

Ele se aproximou e, sem uma palavra, ajoelhou-se atrás de Nik e o abraçou.

Os braços fortes envolveram Nik por trás, puxando-o contra seu peito quente e nu. As mãos de Loki deslizaram devagar pelos braços trêmulos de Nik, segurando-o firme, mantendo-o no lugar.

Nik tentou se soltar, mas não tinha força.

E, no fundo, uma parte dele não queria se soltar.

— Shhh… — Loki murmurou perto de seu ouvido, a respiração quente contra sua pele fria. — Eu tô aqui.

Nik chorava, o corpo inteiro tremendo, as lágrimas encharcando a camisa.

— Eu te odeio… — Nik sussurrou entre soluços.

Loki sorriu, apertando-o ainda mais.

— Eu sei.

Nik tentou afastar o rosto, mas Loki segurou seu queixo, virando-o de leve, obrigando Nik a encarar seus olhos.

— Mas você sabe o que é pior? — Loki murmurou, o tom baixo e hipnótico. — Você me odeia… mas se eu te soltar agora, você vai me querer de volta.

Nik apertou os olhos, como se quisesse negar, mas as palavras de Loki encontravam um eco incômodo dentro dele.

— Você me transformou nisso. — Nik sussurrou, a voz falha. — Eu era uma pessoa antes de você. Eu era… alguma coisa. Agora eu só existo esperando o que você vai fazer comigo.

Loki passou a mão pelos cabelos de Nik, puxando-os de leve, um toque entre carinho e posse.

— Você sempre foi meu, Nik. Antes mesmo de saber. Eu só te mostrei quem você realmente é.

Nik não aguentou.

Seu corpo cedeu, desabando contra o peito de Loki.

E Loki, sempre oportunista, aceitou o peso.

Ele abraçou Nik como se aquele fosse o lugar natural dele — nos braços de seu próprio monstro.

E ali, no meio do corredor frio, entre o medo e a familiaridade, Nik chorou até não ter mais lágrimas.

E Loki sorriu.

Porque cada lágrima era uma corrente invisível.

E cada corrente só o prendia mais perte.

Nik ainda estava nos braços de Loki. O peito dele subia e descia devagar, enquanto Nik tentava controlar a própria respiração. O choro finalmente havia cessado, mas seu corpo ainda estava fraco, pesado, como se cada músculo tivesse desistido de lutar.

Os dedos de Loki deslizavam lentamente por seus cabelos, um gesto quase carinhoso, mas que trazia consigo algo muito mais profundo: posse.

Nik sentiu um nó no peito.

Ele precisava perguntar.

Mesmo que tivesse medo da resposta.

Ele virou o rosto contra o ombro de Loki, a voz saindo baixa e rouca.

— Por que você faz isso?

Loki não respondeu de imediato. Continuou passando a mão pelos cabelos de Nik, como se saboreasse o momento.

— Fazer o quê, príncipe?

Nik cerrou os punhos contra o tecido da calça de Loki.

— Me prender. Me quebrar. Me trazer de volta quando eu tento fugir.

Loki suspirou, como se achasse a pergunta óbvia demais.

— Porque você é meu.

Nik fechou os olhos com força.

— Mas por quê?! — Sua voz tremeu de frustração. — Por que você me escolheu? O que eu sou pra você?!

Loki segurou seu queixo, puxando-o para encará-lo de perto. Seus olhos eram profundos, escuros, impossíveis de decifrar.

— Você quer a verdade?

Nik engoliu em seco.

— Quero.

Loki inclinou-se, seus lábios a centímetros dos de Nik.

— Porque eu gosto de você.

O tempo parou.

Nik sentiu o coração explodir no peito.

Ele olhou nos olhos de Loki, tentando encontrar uma mentira ali. Tentando encontrar qualquer sinal de que aquilo fosse apenas mais um jogo.

Mas não encontrou.

Loki o encarava com a mesma intensidade de sempre, mas dessa vez, havia algo a mais. Algo frio. Algo real.

Nik sentiu o ar faltar.

— Não… não pode ser. — Ele balançou a cabeça, tentando se afastar, mas Loki não o deixou ir.

Os dedos dele apertaram a cintura de Nik, mantendo-o firme.

— Eu gosto de você. — Loki repetiu, dessa vez mais baixo, mais rouco. — Mas não como essas pessoas que dizem “eu te amo” esperando algo em troca.

Nik sentiu um arrepio subir por sua espinha.

Loki inclinou-se mais, seu nariz roçando a bochecha de Nik, sua respiração quente contra sua pele.

— Eu gosto de você do meu jeito.

Nik tremeu.

— O seu jeito… é me destruir.

Loki sorriu.

— É o único jeito que eu conheço.

Nik não soube o que dizer.

Porque, no fundo, ele já sabia.

Ele já sabia que Loki não era alguém capaz de amar como as outras pessoas.

Ele já sabia que, para Loki, gostar significava tomar, possuir, controlar.

Mas saber disso não tornava nada mais fácil.

Seu corpo ainda reagia ao toque de Loki.

Sua mente ainda se enroscava na confusão de querer fugir e querer ficar.

Loki segurou seu rosto com ambas as mãos, os polegares deslizando contra sua pele manchada pelas lágrimas.

— Eu não vou te deixar ir, Nik. Nunca. Você é meu.

Nik cerrou os olhos, tentando silenciar o caos dentro de si.

— Isso não é amor.

Loki riu baixinho.

— Eu nunca disse que era.

CONTINUA.....

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