Lobo narrando
continuação
Eu faço o mínimo de esforço para sorrir de volta, mas minha mente tá em outro lugar. Sofia. De novo.
Loira — E aí, chefe, vai deixar a festa esfriar ou vamos fazer a noite virar um caos?
Ela se aproxima mais, com aquele olhar provocador. A loira tem o tipo de atitude que é esperada aqui, é fácil. Ela é tudo o que eu costumava querer, mas hoje, no fundo, tudo o que eu queria era sair dessa maldita rotina.
Mas não podia. Eu sabia disso.
Fico ali parado, tomando um gole da minha bebida, tentando não olhar pro lado. Mas, é claro, foi impossível.
Ela chegou, como sempre, com uma confiança que podia ser cortada com faca.
Sofia.
Com o sorriso de sempre, se encaixando na multidão de risos e brincadeiras, mas com algo diferente na atitude dela.
Isso me destrói mais do que eu queria admitir.
Virei as costas e dei ordens aos meus parceiros. Precisava focar no trabalho, nas drogas, nas vendas. Qualquer coisa pra esquecer.
Mas não dava. Eu sabia que a Sofia tava observando de algum jeito. Ela sempre estava. Ela sabia mais do que eu queria admitir. Eu não podia continuar com isso.
A situação já tava tensa demais.
A festa rolava solta. Cerveja descendo, carne na brasa, todo mundo curtindo. Mas eu? Eu só fingia.
A loira continuava grudada em mim, rindo alto, jogando o cabelo pro lado, tentando chamar minha atenção. E talvez em outro momento, eu ia dar ideia. Puxar ela pra um canto e resolver ali mesmo.
Mas agora?
Agora minha mente tava presa na outra.
Na porra da Sofia.
Ela tava do outro lado da piscina, rindo com Marcela e umas meninas, um copo na mão e aquele olhar de quem sabia exatamente o que tava fazendo comigo.
Porque sabia.
Sofia não era burra.
Ela sabia que tava mexendo comigo, sabia que eu não gostava de me sentir fora do controle. E mesmo assim, tava ali, se divertindo, sem nem se importar.
Isso me f*dia.
— Que foi, chefe? Tá calado demais. — LK soltou, me cutucando com o cotovelo.
Bebi um gole da cerveja, tentando ignorar.
— Só observando.
— Observando o quê? — Ele riu. — A loirinha tá aí, só esperando um sinal seu.
A loira aproveitou e se encostou mais em mim, passando a mão no meu braço.
Mas ao invés de sentir aquele desejo de sempre, senti irritação.
Me afastei devagar, sem olhar pra ela.
— Vai curtir a festa, loirinha. Hoje tô de boa.
Ela fez bico, mas saiu. Não era novidade, já devia tá acostumada com meu jeito.
Voltei a olhar pra Sofia.
E foi aí que vi.
Ela não tava mais só com as meninas.
Tinha um cara ali agora.
Um dos parceiros do morro vizinho, um qualquer, um otário que teve a audácia de chegar perto dela.
E o pior?
Ela deixou.
Tava rindo, jogando charme, colocando aquela pose de quem queria provocar.
Minha visão escureceu na hora.
O sangue ferveu tão rápido que nem percebi quando já tava andando até ela.
O sangue já tava fervendo.
Eu via tudo em câmera lenta, cada detalhe da cena me deixando mais puto. O cara sorrindo pra ela, se aproximando, encostando a mão no braço dela como se tivesse liberdade.
E o pior?
Ela não se afastou.
Não tirou a mão dele, não cortou o papo. Pelo contrário, jogou o cabelo pro lado, sorriu de um jeito que eu conhecia bem. Um jeito que eu sabia que não era pra ele.
Era pra mim.
Ela sabia que eu tava olhando.
Sabia que eu ia surtar.
E fez mesmo assim.
Meus passos foram pesados, o copo de cerveja que eu segurava já era, joguei em qualquer canto sem nem olhar. Não ouvi ninguém me chamar, não liguei pro som alto, não pensei em mais p*rra nenhuma além de arrancar aquele cara de perto dela.
Quando cheguei, ele já tinha esticado o braço pra tocar na cintura dela.
Mas a mão dele nunca chegou lá.
Segurei o pulso dele no ar, apertando com força. O sorriso dele morreu na hora.
— Que p*rra é essa? — Minha voz saiu baixa, mas carregada de ameaça.
Ele me olhou, confuso, e depois olhou pra Sofia, como se tentasse entender.
Mas ela?
Ela não parecia surpresa.
Nem um pouco.
— Lobo, solta ele. — Ela disse, calma demais.
A raiva explodiu no meu peito.
— Você tá tirando com a minha cara, Sofia?
Ela cruzou os braços, me olhando de cima a baixo.
— Não. Você que tá achando que tem algum direito sobre mim.
Apertei mais o pulso do cara, que já tentava se soltar.
— Lobo, na moral… eu não sabia que ela era tua. — Ele disse, tentando amenizar.
Antes que eu respondesse, Sofia riu.
Um riso debochado, irritante, que me fez soltar o cara na hora só pra olhar pra ela direito.
— Eu não sou de ninguém. — Ela disse, olhando nos meus olhos.
Travei o maxilar.
Sofia tava brincando com fogo.
Mas se ela queria testar meus limites, então ela ia ver até onde isso ia dar.
— Some daqui. — Mandei pro cara.
Ele nem discutiu. Saiu rápido, aliviado por não ter tomado um tiro ali mesmo.
Mas eu não ia aliviar pra Sofia.
Puxei ela pelo braço, ignorando o protesto, ignorando qualquer coisa que falassem ao redor.
Levei ela direto pra parte mais afastada da casa, onde ninguém podia ouvir.
Fechei a porta atrás de nós e prendi ela contra a parede.
— O que você quer? — Perguntei entre os dentes.
Ela me olhou, desafiadora.
— Quero que você me deixe em paz.
Ri de canto, sem humor.
— Você não quer isso.
— E você acha que sabe o que eu quero?
— Sei. — Me aproximei mais, meu corpo colado no dela. — Sei que você não quer esse cara. Sei que você fez isso só pra me provocar. Sei que, por mais que diga que a gente não tem nada, você sente essa merda tanto quanto eu.
Ela engoliu seco, desviando o olhar por um segundo.
Mas eu vi.
Vi o jeito que ela respirou fundo. Vi o arrepio que passou pelo corpo dela quando minha mão apertou sua cintura.
— Fala. — Sussurrei perto do ouvido dela. — Fala que não sente nada.
Ela ficou em silêncio.
E isso era tudo que eu precisava saber.
Sofia ficou quieta. Respirou fundo, fechou os olhos por um segundo, como se tentasse se controlar. Mas eu via a respiração acelerada, via o peito subindo e descendo rápido.
Eu tava certo.
Ela sentia essa merda tanto quanto eu.
Passei a mão pela cintura dela, apertando devagar, sentindo o corpo dela arrepiar sob meu toque.
— Fala, Sofia. — Sussurrei contra a pele dela, perto do pescoço. — Fala que não sente nada.
Ela abriu os olhos, me encarando com raiva.
— Você é um babaca.
Sorri de canto.
— Isso não é um "não sinto nada".
Ela tentou se afastar, mas eu segurei seu pulso, mantendo ela no lugar.
— Você queria me provocar, né? — Apertei mais a cintura dela, sentindo ela se contorcer contra mim. — Conseguiu.
Ela bufou, tentando não demonstrar que tava cedendo, mas eu via no olhar dela que eu já tinha ganhado.
— Lobo, me solta.
— Fala que não sente nada. — Repeti, os olhos fixos nos dela.
Ela mordeu o lábio, desviando o olhar.
— Eu não vou jogar esse jogo com você.
Ri baixo, passando a mão pelo rosto dela, forçando-a a olhar pra mim.
— Você já tá jogando, Sofia.
Ela fechou os olhos de novo, como se quisesse fugir daquilo.
— Eu não quero ser mais uma.
Isso me pegou.
A voz dela saiu baixa, quase um sussurro, e pela primeira vez, vi algo além de provocação no olhar dela.
Ela realmente achava que eu ia tratar ela como qualquer uma.
Soltei devagar, deixando os dedos deslizarem pela pele dela antes de afastar completamente.
— Você não é mais uma.
Ela franziu a testa, me olhando, como se tentasse entender se eu tava falando sério ou só jogando mais um dos meus jogos.
Mas eu não tava.
Respirei fundo, passando a mão na nuca.
— Não sei lidar com isso, Sofia.
— Com o quê?
— Com você.
Ela abriu a boca pra responder, mas antes que falasse qualquer coisa, a porta foi aberta de repente.
Marcela.
Ela olhou pra nós dois, os olhos se estreitando na hora.
— O que tá acontecendo aqui?
Sofia se afastou de mim na hora, cruzando os braços.
— Nada. Eu já tava saindo.
E saiu.
Deixando pra trás só o cheiro dela e a bagunça que fez dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 27
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