Lobo narrando
Meu sangue ferve, minhas mãos ainda sujas de sangue do desgraçado que encostou nela. Não aceito que mexam no que é meu.
Quando olho pra Sofia, vejo o rosto dela pálido, os olhos marejados. Tá nervosa, assustada. Isso me dá mais raiva.
Marcela fala pra irem embora, e Sofia pega a bolsa na cadeira, pronta pra sair. Mas antes que dê um passo, seguro seu rosto. Ela tá chorando.
— Caralho... — respiro fundo, sentindo algo estranho no peito. Uma raiva diferente. Uma vontade de arrancar a cabeça de qualquer um que fizesse ela chorar de novo.
— Eu tô bem, calma pelo amor de Deus — ela diz, segurando meu braço. A respiração acelerada, o peito subindo e descendo rápido.
Meus dedos apertam levemente seu rosto, como se eu precisasse ter certeza de que ela tava ali, inteira.
— Tô bem — ela repete, e dessa vez, parece que tá tentando me acalmar.
Porra.
Pego na mão dela e saio com ela do bar. Marcela e os outros olham, mas ninguém tem coragem de falar nada.
Vou até minha moto, subo sem pensar duas vezes. Sofia hesita por um segundo, mas logo sobe também, agarrando minha cintura.
O toque dela me faz fechar os olhos por um instante.
Ligo a moto, e sem dizer nada, acelero, saindo dali como se o mundo tivesse parado ao nosso redor.
Acelero a moto sem rumo, sentindo as mãos dela apertadas na minha cintura. O vento bate no meu rosto, mas nada esfria a raiva que ainda tá queimando dentro de mim.
O sangue do filho da puta ainda tá nas minhas mãos, e eu não me arrependo nem um pouco. Ele teve sorte que eu não matei ali mesmo.
Sofia não fala nada. Sinto a respiração dela instável, mas ela se mantém firme, agarrada em mim.
Depois de alguns minutos, diminuo a velocidade e paro num ponto alto do morro. A vista daqui mostra a cidade inteira, cheia de luzes piscando. Mas meu foco não tá na cidade.
Desligo a moto e olho pra frente, tentando colocar os pensamentos no lugar.
— Por que me trouxe aqui? — a voz dela vem baixa, mas firme.
Desço da moto e viro pra encará-la.
— Porque precisava sair de lá antes que eu fizesse merda maior.
Ela desce também, ajeita a roupa e cruza os braços. Os olhos brilham no escuro, e agora que a adrenalina dela passou um pouco, vejo a fúria misturada ao medo.
— Você não pode sair batendo em todo mundo assim, Lobo.
Solto uma risada seca.
— Posso, sim.
Ela bufa, irritada.
— E se tivesse dado errado? E se tivessem puxado uma arma?
Dou um passo na direção dela.
— Eu sou o chefe, Sofia. Ninguém puxa arma pra mim e sai vivo.
Ela sustenta meu olhar, e porra, tem uma coragem nessa garota que me intriga.
— Você não manda em mim.
Arqueio uma sobrancelha, chegando ainda mais perto.
— Não?
Ela engole em seco, mas não recua.
— Não — repete. — Eu não sou uma das suas vadias que abaixam a cabeça e obedecem.
Solto um riso curto, balançando a cabeça.
— É... isso eu já percebi.
Ela suspira, olhando pro chão por um segundo, antes de voltar a me encarar.
— Obrigada... por me tirar de lá.
Fico em silêncio. Não sou de agradecer nem de receber agradecimento. Mas ouvir isso dela mexe comigo de um jeito estranho.
— Você tá comigo agora, Sofia — digo, sem pensar muito. — Ninguém encosta em você.
Ela franze a testa, confusa.
— O que isso quer dizer?
Passo a língua nos lábios, observando cada detalhe do rosto dela.
— Quer dizer que quem mexer contigo... morre.
Me aproximo dela, mas dessa vez não toco. Minhas mãos coçam pra segurar seu rosto de novo, mas me seguro. Essa mina tá mexendo comigo de um jeito que eu não tô acostumado.
— Tu tava dando moral pra ele dançando? — repito minha pergunta, minha voz saindo mais baixa, mas carregada de algo que nem eu entendo direito.
Ela desvia o olhar, encarando a cidade lá embaixo.
— Eu quero ir embora... vamos embora, por favor.
O tom dela não é de quem tá com medo, mas de quem tá tentando se afastar de algo. De mim.
Porra.
Me aproximo mais, até sentir o perfume dela misturado com o cheiro do vento da noite.
— Responde, Sofia — minha voz sai baixa, rouca.
Ela me encara. Os olhos brilham no escuro, e consigo ver o conflito dentro dela.
— Eu não tava dando moral pra ninguém, Lobo — ela diz, firme. — Eu só tava dançando com minha amiga, que é sua irma curtindo. Eu nem vi esse cara chegar.
Cruzo os braços, tentando segurar minha própria raiva.
— Mas tu viu o jeito que ele olhava pra você?
Ela solta um riso curto, sem humor.
— Eu vejo esse olhar o tempo todo na boca, na rua, em qualquer canto. Mas sabe qual a diferença? Nenhum deles tem coragem de encostar em mim... porque eu sou a "mulher do chefe", né?
O jeito que ela diz isso me faz travar o maxilar.
— E tu acha ruim?
Ela franze a testa.
— Eu acho que eu não sou sua mulher...e não sou
Aquilo me irrita de um jeito que não entendo. Avanço um passo, diminuindo o espaço entre a gente.
— Não é? Então me diz por que eu sou o único que pode encostar em você sem levar um tapa?
Ela abre a boca pra responder, mas nada sai. Eu tô certo e ela sabe disso.
— Para de tentar se enganar, Sofia — minha voz sai mais baixa, carregada de verdade. — Você já é minha, só ainda não percebeu..
Ela engole em seco, mas não recua.
— Eu não sou de ninguém, Lobo.
Solto um riso curto, inclinando a cabeça.
— Então por que eu sou o único que você deixa chegar perto?
O silêncio dela me dá a resposta.
Ela respira fundo, como se tentasse se recompor, e desvia o olhar.
— Vamos embora — repete, agora com a voz mais firme.
Seguro o impulso de puxá-la pra mim. De marcar de uma vez que ela é minha.
Mas só concordo com a cabeça e subo na moto.
Ela senta atrás de mim, as mãos segurando firme na minha cintura.
Acelero a moto, sentindo a tensão entre a gente pesar no ar.
Essa história ainda tá longe de acabar.
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Atualizado até capítulo 28
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