um tapa

Lobo narrando:

Chego na boca e explico pra Sofia como tudo funciona. Passo os valores, as gramas, como deve entregar e cobrar. Não tenho paciência pra repetir nada, então espero que ela entenda de primeira.

Enquanto ela trabalha, fico de olho nos vapores e faço os cálculos das bocas que estão vendendo mais. É um trabalho constante, dinheiro entrando e saindo o tempo todo.

-- Leandra tá aí, chefe. -- um dos vapores me avisa.

Essa puta, essa hora? Mas já entendi, hoje tem pagode.

-- Manda entrar.

Ele sai e logo Leandra entra, praticamente nua, como sempre.

-- Diz o que tu quer.

Ela sorri maliciosa, andando devagar até mim.

-- Precisa de um alívio?

Me ajeito na cadeira, já abrindo o zíper da calça. Ela vem pra me beijar, mas viro o rosto.

-- Não beijo boca de ninguém, tu sabe disso.

Ela só concorda com a cabeça e faz o que tem que fazer. Gozo, pego 300 reais e jogo pra ela. Sem cerimônia, ela se veste e sai, como se nada tivesse acontecido. Levanto e vou ao banheiro, me limpando antes de voltar ao foco.

Sento e começo a revisar tudo de novo, recalculando, pensando no próximo carregamento. Quando olho o relógio, já são mais de 15h.

Vou até a janela e vejo Sofia ainda vendendo. Os noia tão em cima dela, olhando como se fossem devorar. Ela percebe meu olhar e me encara de volta. Por algum motivo, não desvia.

Desvio primeiro e saio da sala, indo até ela.

-- Almoçou não? -- pergunto.

-- Tô sem fome... -- ela responde, sem parar o serviço.

Um noia chega, pega a droga e entrega o dinheiro. Antes de sair, solta gracinha.

-- A princesa tá devendo quanto pro chefe?

Encaro ele no mesmo instante. Ele percebe na hora e some sem dizer mais nada. Sofia não diz nada também, só segue o trabalho.

Fico ali por um tempo, observando o movimento, garantindo que ninguém passe do limite. Depois de um tempo, ela se levanta.

-- Terminei...

Olho pra ela e concordo. Entramos na sala. Ela me entrega o dinheiro, e eu conto tudo rápido. Tiro uma parte e entrego o pagamento dela.

Um vapor entra sem bater. É o Rato.

-- Chefe. -- Ele olha direto pra Sofia, demorando mais do que devia.

Ela se afasta, indo pra janela, se mantendo fora do alcance.

-- Diz, Rato. Qual foi?

-- Cheguei da missão que você me mandou. As coisas tão no QG...

Aceno com a cabeça, aprovando.

-- Beleza, tô indo lá olhar.

Ele sai, mas antes, lança outro olhar pra Sofia. Não gosto disso.

Ela tá na minha área agora. E ninguém toca no que é meu.

-- Bora, vou te deixar.

-- Vamos.

Ela responde e eu abro a porta, deixando ela passar na frente. Sou alto e forte, ela na minha frente parece ainda menor. Caminha sem chamar atenção, ninguém olha, ninguém percebe. Pequena demais pra esse mundo.

Ela entra no carro e eu entro logo em seguida. O silêncio toma conta. Percebo que ela tá nervosa, mas não fala nada.

-- Amanhã tem baile... sabe o que é isso?

Ela nega com a cabeça.

-- Festa. Amanhã você trabalha na festa.

Ela me olha com um misto de surpresa e irritação.

-- Você vai me colocar pra trabalhar na festa?

Paro o carro em frente de casa.

-- Claro. Amanhã você não precisa ir pra boca.

Ela cruza os braços.

-- Prefiro trabalhar na boca. Melhor do que em festa.

Franzo a testa e olho pra ela com seriedade.

-- Por quê? Tu gostou de algum macho da boca?

Antes que eu possa reagir, sinto o tapa estalar no meu rosto.

O tapa estala no meu rosto e o silêncio no carro pesa. Viro o rosto devagar, meus olhos cravando nos dela. Ela tá com a respiração acelerada, mas não recua. Desafiadora.

Seguro o volante com força, minha vontade é dar um jeito nela, mas ao mesmo tempo... sinto uma pontada estranha dentro de mim. Raiva? Surpresa? Não sei.

-- Cê perdeu a noção, é? -- minha voz sai baixa, mas carregada de ameaça.

-- E você perdeu o respeito, né? -- ela rebate, os olhos brilhando de raiva. -- Acha que pode falar qualquer merda pra mim?

Fico encarando, analisando. Ela não é como as outras, que abaixam a cabeça pra mim. Se fosse qualquer outra, já teria mandado sumir da minha frente, mas algo me faz segurar a onda.

Solto um riso curto, sem humor.

-- Tá se achando corajosa, né, princesa?

-- Não sou princesa.

-- Não? Então o que é?

Ela aperta os lábios, não responde. Tá de birra. Mexo no câmbio e desligo o carro.

-- Vai descer ou tá esperando eu abrir a porta pra você?

Ela revira os olhos e sai do carro sem dizer nada. Fico observando enquanto ela entra em casa. Respiro fundo, ainda sentindo o ardor do tapa na cara.

Essa menina... vai me dar trabalho.

Entro em casa e dou de cara com a cena: Sofia chorando e Marcela abraçada com ela, como se estivesse protegendo a garota de algo. Assim que me percebem, Sofia levanta o rosto e limpa as lágrimas rápido, tentando disfarçar.

Cruzo os braços, encaro sem paciência.

-- Eu que levo o tapa e tu que chora?

Ela me olha com aqueles olhos desafiadores, cheios de raiva e dor misturadas.

-- Se você ou qualquer outro me faltar com respeito, é isso que vai acontecer. Eu não tenho medo de você, Lobo.

Minha sobrancelha arqueia no mesmo instante. A ousadia dessa garota me surpreende a cada segundo. Marcela, sempre metida onde não é chamada, logo se coloca na frente dela, me encarando com cara de poucos amigos.

-- Já chega! -- ela diz firme. -- Ela não vai mais trabalhar em canto nenhum! Se eu soubesse que era pra ser assim, eu nunca teria convidado a Sofia pra vir pra cá.

Dou um passo à frente, minha irmã não recua.

-- Você tá esquecendo de quem manda aqui, Marcela?

-- E você tá esquecendo que ela não é uma das suas funcionárias, nem uma das mulheres que você usa e descarta.

Sofia continua em silêncio, mas sei que tá ouvindo cada palavra. A respiração dela ainda tá pesada, mas os olhos, mesmo vermelhos, continuam me desafiando.

Passo a língua nos dentes e respiro fundo. Não vou discutir com Marcela agora, mas essa história ainda não acabou.

-- Faz o que quiser. Mas se essa garota continuar aqui, vai ter que seguir as regras da casa.

Dou as costas e subo pro meu quarto, minha mente ainda presa naquela frase dela: "Eu não tenho medo de você."

Pela primeira vez em muito tempo, sinto algo diferente.

E isso me irrita pra caralho.

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