apresentação do LK

Capítulo 3

LK narrando

Sou LK desde moleque fui chamado assim, meu pai que colocou .

Sou sub do morro do Alemão

Tenho 29 anos, alto, forte, tatuado.

A mente sempre aberta. É oque importa. Sou moreno.

Tenho um passado , que não esqueci, com uma mina da hora. Mas a minha escolha, fez agente se perde, ela foi embora estudar. Mais tá de volta.

( ... )

O dia nunca é o mesmo no Alemão. Aqui, você acorda sabendo que qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento. Acordei cedo, como sempre, e já sabia o que me aguardava. Lobo tava com aquele olhar de quem tinha algo importante pra resolver.

Ele nunca fala muito, mas você sente quando o clima tá pesado.

Eu não sou de complicar as coisas. Pra mim, a vida sempre foi simples: se você não tiver medo de pegar a estrada e enfrentar o que vem pela frente, tudo se resolve. E no meu caso, resolver sempre envolveu uma pitada de 'cachorrada'. Não sou de amarras, nunca fui. Mas o Lobo... ele é diferente. Não só por ser meu chefe, mas por ser meu irmão de criação, alguém em quem confio, mesmo que ele nunca me peça isso em palavras.

Marcela, a irmã dele, voltou pro morro. A doutora agora. Fiquei sabendo que ela já é um nome conhecido, e isso me fez pensar. Quando ela me olhou, vi um pedaço do passado dela tentando me reconhecer. Ela nunca esqueceu de mim, mesmo com toda a vida que ela construiu longe daqui. E eu? Bom, nunca fui de prender ninguém. E ela... sempre foi mais do que eu poderia oferecer.

Mas voltando pro que interessa... o Alemão não para. O tráfico, os inimigos, a luta pelo controle. As coisas estão se complicando. Sei que Lobo tá tentando manter a paz, mas aqui, paz é luxo.

Fui até o QG mais tarde, Lobo tava lá, ainda com aquele olhar distante.

— Tá tudo certo, LK? — ele

perguntou sem me olhar, mas eu sabia que ele tava esperando algo.

— Tava passando pelos pontos... nada de novo. Mas tem gente se mexendo do lado de fora. Parece que a coisa vai esquentar.

Ele me olhou então, mais sério que nunca. Não preciso de palavras pra saber que ele já tava planejando o que fazer.

É assim com o Lobo. A guerra é constante. E ele, bem, ele é o líder. E todo mundo sabe que quem tá ao lado dele tem que estar pronto pra qualquer coisa.

Saí do QG já sabendo que o dia ia ser longo. As ruas do Alemão não deixam você relaxar, e nem eu me permito fazer isso. O morro nunca pára. Acontece que, em algum momento, o dia te surpreende. No meu caso, a surpresa foi no posto de saúde.

Fui lá por causa de uns recados que tinham chegado, umas queixas da comunidade. Quando entrei, a primeira coisa que vi foi Marcela. Ela tava lá, com aquele jaleco branco, atendendo um paciente. Ela sempre foi diferente, desde criança. O jeito, a postura, a forma de olhar... tudo nela é tranquilo, como se o mundo fosse menos complicado. Algo que eu nunca consegui entender.

Mas o que me chamou a atenção não foi só o fato dela estar lá, fazendo o papel de doutora. Foi a forma como ela se movia, como ela olhava pra todo mundo com uma certa confiança. Ela se adaptou rápido a esse lugar, mais rápido do que eu esperava. E ali, naquele momento, alguma coisa me pegou. Um pedaço do passado dela me atravessou como um soco no estômago.

Ela me viu e deu aquele sorriso discreto, que só ela sabe dar, mas não demorou muito pra perceber que eu não tava ali só por causa do trabalho.

— LK. O que tá fazendo aqui? — ela perguntou, sem tentar disfarçar a surpresa na voz.

Eu dei de ombros.

— Vim dar uma olhada, ver como você tava se virando com o posto.

— Eu olhei ao redor, tentando não focar nela por muito tempo. Mas não consegui. Algo tava estranho, como se tivesse algo mais naquela cena.

Ela tentou disfarçar, mas eu sei como ela é. No fundo, Marcela me conhece. E o que ela não sabe, é que eu também a conheço bem demais.

Se tem uma coisa que aprendi na vida, é que nada nesse morro acontece por acaso. Cada movimento, cada olhar, cada escolha tem um preço. E eu sabia que o Lobo tava certo. Ele me conhece tão bem quanto eu conheço ele. Só que o problema não era o passado com a Marcela. O problema era o agora.

Saí do QG com aquela conversa na cabeça. O Lobo pode até tentar bancar o frio, mas no fundo, ele se preocupa. Sempre foi assim com a irmã dele. E eu não podia negar que Marcela sempre foi diferente. Só que agora ela tava de volta, e eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

Andei pelo morro sem pressa. A noite já tinha caído, mas o Alemão nunca dorme. O som das motos, as vozes, a fumaça subindo dos becos. Era meu território, onde eu me sentia em casa. Mas, dessa vez, minha mente tava longe.

Sem perceber, meus passos me levaram de novo pro posto. Lugar que eu nunca pisava, mas que, de repente, parecia estar no meu caminho. Parei na entrada e vi ela ali dentro, ainda atendendo. O posto já devia estar fechando, mas Marcela continuava. Sempre foi teimosa.

Fiquei encostado na parede, observando. Ela tava terminando de atender uma criança, e o olhar dela era o mesmo de anos atrás. Aquele olhar de quem realmente se importa. Diferente de mim.

Quando ela finalmente saiu, me viu ali e parou, surpresa.

— Tá me seguindo agora, LK?

Sorri de canto.

— Quem? Eu? Imagina. Só tava passando.

— Sei... — ela cruzou os braços. — O que você quer?

Olhei pra ela por um segundo, tentando entender porque diabos eu tava ali. Mas, no fundo, eu já sabia. Suspirei e fui direto:

— O que tá pegando com você, Marcela? Tá diferente. Vi isso no posto hoje.

Ela desviou o olhar, como se tentasse esconder algo.

— Não é nada. Só tô tentando fazer meu trabalho.

— Não mente pra mim, doutora. Te conheço.

Ela ficou quieta por um momento, depois soltou um suspiro cansado.

— Tem uma criança doente, LK. Tá mal, e a avó não tem dinheiro pra comprar os remédios. Isso me deixou mal.

— E você acha que consegue salvar todo mundo?

Ela me olhou séria.

— Se eu não tentar, quem vai?

Fiquei encarando ela, e naquele momento percebi que Marcela não era mais a garota que eu conheci. Ela tinha crescido, se transformado em alguém que realmente queria fazer a diferença. E isso mexeu comigo mais do que eu esperava.

— O que precisa? — perguntei, quebrando o silêncio.

Ela franziu a testa.

— Como assim?

— O que precisa pra ajudar essa criança? Quanto custa esse remédio?

Ela hesitou. Sabia que qualquer coisa que envolvesse dinheiro e o nome do Lobo podia ser complicado. Mas, no fim, ela respondeu.

— Uns duzentos, trezentos reais...

— Então considera resolvido. Amanhã de manhã esse remédio vai estar aqui.

Ela me olhou desconfiada.

— LK, não quero que você faça nada errado por causa disso.

Ri fraco.

— Relaxa, doutora. Só tô resolvendo do meu jeito.

Antes que ela pudesse insistir, saí andando. Eu não era santo, nunca fui. Mas, por algum motivo, naquele momento, queria ajudar. E talvez, só talvez, isso tivesse mais a ver com ela do que com qualquer outra coisa.

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