Uma conversa Franca.

Ele me beijou.

Ele me beijou.

E o pior… eu amei.

Meu coração batia descompassado enquanto ainda sentia seus lábios nos meus, o gosto dele misturado ao meu, a respiração quente contra minha pele. Eu deveria ter me afastado, desviei de ter dito algo, desviei de fazer alguma coisa para impedir o que eu tanto queria, mas tudo o que fiz foi encará-lo, perdida na intensidade do momento.

O silêncio entre nós era denso, carregado de tudo o que não era dito. Quando finalmente consegui recuperar um pouco do ar, murmurei:

— Eu… eu preciso limpar os cacos. — Fui descer e ele me segurou.

Logo franziu a testa, balançando a cabeça em negativa.

— Não. Eu limpo. Afinal, eu causei isso.

Me levantei, decidi ajudar, mas no instante em que pousei o pé no chão, um ardor agudo subiu pela minha perna. Arfei, olhando para baixo e vendendo um caco de vidro fincado na sola do meu pé.

— Merda, Sofia! — Luigi bufou, os olhos escuros cheios de exasperação. — Você é teimosa demais.

Antes que eu pudesse protestar, ele me pegou no colo com facilidade, como se eu não pesasse nada. Meus braços se agarraram ao seu pescoço instintivamente enquanto ele subia as escadas, me carregando até seu quarto.

Quando eu sentei sobre a cama, peguei a babá eletrônica e olhei a tela. Matheu dormia profundamente.

— Ele dificilmente acorda à noite — comentou.

— Tenho medo que a febre volte — respondi com minha voz ainda um pouco trêmula.

Luigi concordou em silêncio, pegando um kit de primeiros socorros. Meus olhos seguiram cada um de seus movimentos enquanto ele se ajoelhava à minha frente e pegava minha perna com delicadeza.

— Isso pode arder um pouco — avisou, concentrado.

Assenti, mordendo os lábios ao sentir o toque do algodão embebido em antisséptico. Mas a ardência da ferida não era nada comparada à sensação do toque dele, da forma como seus dedos passavam sobre minha pele com uma gentileza que eu nunca imaginei vinda de Luigi.

O silêncio se prolongou até que, de repente, sua voz corta o ar entre nós.

— Eu sei que errei com você.

Levantei o olhar para encontrá-lo. Seus olhos estavam sombrios, mas havia algo diferente ali. Um peso, uma confissão preparada para vir.

— Lidar com o medo, o luto, a insegurança… — ele parou por um instante, como se precisasse tomar fôlego. — A sensação de ver Bianca se apagando ainda dói.

Meu peito se apertou.

— Ela não deve se apagar, mas não pode voltar, então pelo bem do seu filho precisa recuperar a alegrai de viver, não vim para tomar o lugar dela. — falei.

— Eu nunca consegui imaginar que seria capaz de sentir algo de novo. Nunca quis sentir. Mas você… — ele soltou um suspiro cansado, passando a mão pelos cabelos. — Você foi a primeira pessoa a despertar em mim a vontade de amar outra vez.

A intensidade de suas palavras me atingiu como uma onda avassaladora, e antes que percebesse, lágrimas quentes escoriam pelo meu rosto.

O silêncio entre nós pesava, mas dessa vez, eu sabia que não poderia simplesmente ignorar tudo o que estava acontecendo dentro de mim.

Limpei rapidamente as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto e respirei fundo antes de finalmente reunir coragem para falar:

— Eu também tenho medo, Luigi.

Ele ergueu o olhar imediatamente, atento a cada palavra que eu dizia.

— Medo por mim, por Matheu… por você.

Seus olhos se estreitaram, mas ele permaneceu em silêncio, esperando que eu continuasse.

— Eu não sei lidar com tudo isso. Eu não sei o que fazer com o que sinto — confessei, mordendo os lábios, nervosa. — Mas eu admito… eu gosto de você. Mesmo que seja confuso.

Ele ficou me observando, a mandíbula trabalhada, como se digerisse cada uma das minhas palavras. Meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu tentava criar coragem para dizer a última parte.

— E tem outra coisa… — engolir em seco, sentindo minhas mãos suarem. — Eu nunca… nunca beijei ninguém antes de você.

Seus olhos se arregalaram por um breve momento.

— Você é virgem? — Sua pergunta veio em um impulso, sua voz era rouca, quase como se ele não acreditasse no que estava ouvindo.

Baixei o olhar e respondi que sim, mas estava muito envergonhada.

Um som grave escapou da garganta de Luigi antes que ele se inclinasse e me beijasse de novo. Mas dessa vez, foi diferente. Ainda era intenso, ainda era cheio de desejo, mas, ao mesmo tempo… era cuidadoso. Como se ele quisesse que eu me sentisse segura, como se quisesse me mostrar que não precisava ter medo.

Quando nossos lábios se separaram, ele encostou a testa na minha, respirando fundo antes de murmurar:

— Você precisa descansar. Amanhã teremos uma longa conversa.

Minha boca se entreabriu em protesto, mas ele simplesmente ignorou, me pegando no colo de novo e me carregando até o quarto de Matheu.

— Luigi… — tentei dizer algo, mas ele me interrompeu, me colocando de pé com delicadeza.

— Não diga nada agora. Não quero que essa noite pareça uma despedida.

E então, antes que eu pudesse questionar o que ele queria dizer com isso, Luigi me beijou mais uma vez. Um beijo mais lento, mais profundo… como se quisesse marcar aquele momento em minha pele.

Quando finalmente se afastou, virou-se para a cama e depositou um beijo suave na testa de Matheu, que dormia tranquilo.

— Boa noite, Sofia — ele murmurou, fechando a porta atrás de si e me deixando ali, com o coração acelerado e a cabeça completamente bagunçada.

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