Desci com Matheu nos braços, vestido com uma roupa confortável, mas ainda um pouco inquieto. Ele parecia sentir a tensão que pairava no ar. Assim que nos aproximamos da sala, o silêncio pesado voltou a me atingir.
Luigi estava de pé, com o semblante impassível, e os avós de Matheu mantinham a mesma postura rígida de antes. O olhar severo da mulher percorreu cada detalhe como se analisasse uma mercadoria.
— Entregue o menino para a avó — ordenou Luigi, com a voz firme e autoritária.
Meu coração acelerou, e Matheu, como se soubesse o que viria, apertou os pequenos dedos em meu cabelo. Ele começou a resmungar e, em seguida, o choro irrompeu.
— Ele não quer ir — murmurei, olhando para Luigi com súplica.
Mas ele apenas assentiu com a cabeça, como se dissesse para que eu obedecesse. Relutante, soltei Matheu dos meus braços. Ele agarrou meus cabelos com força, como se estivesse se agarrando à última coisa que o confortava.
— Está tudo bem, meu amor — sussurrei, tentando acalmá-lo, mesmo que meu coração doesse por entregá-lo.
A avó o pegou, mas o fez desajeitadamente, como quem segura algo de pouco valor. Matheu chorava ainda mais alto agora, e minha vontade era de tirá-lo dali. Ela o olhou de cima a baixo, sem emoção, examinando-o como se ele fosse um objeto a ser avaliado.
— Manhoso demais para a idade — comentou, com o tom cortante que já começava a me irritar.
Antes que eu pudesse me conter, as palavras escaparam dos meus lábios:
— Ele tem apenas um ano. Está amedrontado.
O comentário fez o silêncio na sala ficar ainda mais pesado. A mulher ergueu os olhos para Luigi, como se esperasse que ele tomasse alguma atitude. Luigi não disse nada por um momento, apenas olhou para mim, a expressão impenetrável.
— Suba, Sofia — ordenou ele finalmente, com a voz controlada, mas firme.
Olhei para Matheu, que estendia os bracinhos para mim entre os soluços, e meu coração se partiu.
— Sim, senhor Bellini — murmurei, com um nó na garganta.
Enquanto me afastava, sentia os olhares dos três pesarem sobre mim. Subi as escadas, mas não consegui afastar a preocupação. Deixá-lo ali parecia errado, como se eu estivesse abandonando-o e seu olhar para mim era de quem se sentia abandonado..
Assim que cheguei ao quarto, fiquei arrasada e foi impossível não chorar, parecia errado uma avó não amar o neto, e mais errado ainda Luigi compactuar com aquele absurdo.
Eu não sabia o que Luigi faria a seguir, mas uma coisa era certa: eu não descansaria enquanto não soubesse que Matheu estava seguro.
Luigi:
Ver Matheu esticar os braços para a escada, soluçando em busca de Sofia, apertou algo dentro de mim. Ele mal a conhecia, mas a preferia à presença dos próprios avós. E como culpá-lo?
— Pare de chorar, menino! — ordenou o pai de Bianca, com a voz áspera e sem paciência.
As palavras me irritaram profundamente. Levantei antes que pudesse pensar e tirei Matheu das mãos da avó, segurando-o contra o peito. Ele se agarrou em mim, ainda choramingando, mas já começava a se acalmar.
— Luigi, assim você vai criar um afeminado — disse o homem, cruzando os braços.
Fingi que não ouvi. Minha paciência já estava no limite.
— Essa mulher, essa... Sofia, está apagando a imagem de Bianca — disse a mãe dela, a voz fria e cortante. — Uma babá tão presente assim só vai confundir o menino. Sugiro que a mande embora imediatamente.
Essa última frase foi demais para mim. Senti a raiva crescendo como um maremoto. Passei Matheu para os braços da governanta, que se aproximava discretamente.
— Leve-o para o quarto com a babá e diga que ela não desça até eu terminar aqui — ordenei.
Ela assentiu rapidamente e saiu, carregando Matheu, que já estava mais tranquilo. Voltei meu olhar para os dois, deixando transparecer a fúria que eu sentia.
— Vocês estão aqui por algum motivo válido ou vieram apenas para criticar a maneira como eu cuido do meu filho? — comecei, com a voz fria e controlada.
— Estamos aqui porque Matheu precisa seguir uma rotina rigorosa. Ele será um homem forte, como criamos Bianca para ser forte — disse o pai dela, como se aquilo fosse incontestável.
— Bianca morreu! — rebati, sentindo a dor familiar apertar meu peito. — Ela morreu, e isso me destrói diariamente. Mas vocês querem saber o que ela disse no leito de morte?
Eles se entreolharam, desconfortáveis com minha explosão, mas não responderam.
— Ela disse: ‘Cuide dele por nós. Não faça dele um robô.’ Essas foram as últimas palavras dela sobre Matheu. E o que vocês estão sugerindo vai completamente contra isso.
— Não estamos sugerindo nada ruim, Luigi — insistiu a mãe, tentando manter a pose. — Apenas queremos o melhor para ele.
— O melhor? — Minha voz subiu um tom, algo raro em mim. — Vocês o tratam como um projeto, não como um menino. Não o querem feliz, querem que ele siga regras absurdas e sem sentido para a idade dele, mas errado sou eu que aceitei isso até hoje, agora acabou, ele será criança e brincará como uma.
— Estamos apenas pensando no futuro — o pai tentou argumentar, mas eu o interrompi.
— Não quero vocês aqui, não assim. Se não têm um motivo válido, então não precisam voltar. Matheu é meu filho, e eu não vou permitir que vocês o maltratem ou o transformem em algo que ele não é.
Os dois ficaram em silêncio, atônitos com minha atitude. Eu nunca havia falado com eles dessa forma, nunca havia questionado diretamente suas opiniões, fazer isso era como ferir o amor a Bianca, mas estava completamente errado.
Finalmente, sem mais argumentos, eles se levantaram e saíram. A mãe de Bianca lançou um último olhar de reprovação, mas o pai parecia mais abalado do que irritado.
Quando a porta se fechou atrás deles, soltei o ar que não percebera estar segurando. A ação de Sofia havia aberto meus olhos para algo que eu não queria admitir: eles estavam machucando meu filho, e eu estava permitindo. Isso terminava hoje.
Passei a mão pelo rosto e subi até o quarto de Matheu. Ele estava no colo dela, mas logo me viu e estendeu os bracinhos. Peguei-o com cuidado e sussurrei:
— Vai ficar tudo bem, pequeno. Papai está aqui.
—Obrigado por me fazer enxergar, mandar eles embora parecia ser igual mandar Bianca embora, mas ela não desprezaria nosso filho assim, ela não ia querer. — falei beijando a cabecinha dele e reparando que ela estava com os olhos molhados.
— Você chorou? — questionei.
— Sim, desculpe, a sensação de abandonar Matheu lá embaixo era terrível e dolorida, o olhar que ele me lançou parecia demonstrar isso, mas já passou — ela sentia dor em achar que ele pensava isso sobre ela? Ele saberia sim que ela o ama, sua atitude mostra isso e eu não a deixaria pensar nisso.
— Ele não pensaria isso, não se preocupe. — finalizei.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Anonymous
O pedido de Bianca, foi exatamente pensando no que os pais dela podia fazer com a criação do seu próprio filho, seria exatamente igual ela foi criada. Não acho certo os avós interferirem dessa forma na criação de uma criança. Até porque, o que eles estão fazendo não é cuidado, e sim controlar.
2025-03-27
4
Euridice Neta
Talvez Bianca não fosse tão feliz quanto se pensava era mais uma fachada imposta pela rigidez e autoridade dos pais vai saber...
2025-02-23
4
Cleide Oliveira
Ter um pai é uma mãe dessa deve ser horrível, a falta de amor é terrível, deixa marcas profundas na criança, ainda bem que ele reagiu.
2025-04-10
0