Quando a governanta entrou no meu escritório com passos rápidos e a expressão tensa, senti meu peito se apertar. O semblante dela nunca denunciava alarmismo sem razão.
— Senhor Bellini, precisamos falar. Uma das empregadas foi pega maltratando o pequeno Matheu.
Por um momento, tudo ao meu redor pareceu silenciar. A raiva que tomou conta de mim foi instantânea, quase incontrolável.
— Quem? — perguntei com um tom baixo e cortante.
— Angela. A mesma que sugeri dispensar semanas atrás — respondeu a governanta.
Levantei-me, respirando fundo para conter o ímpeto de tomar atitudes extremas naquele momento.
— Traga-a aqui agora.
Enquanto esperava, minha mente trabalhava rápido, cada imagem de Matheu em mãos erradas me tirava a concentração. Quando Angela entrou na sala, hesitante, com os olhos arregalados, mal conseguia encarar-me.
— Senhor Bellini... eu...
— Silêncio! — interrompi, minha voz ecoando pela sala. — Explique-se. O que aconteceu?
Ela começou a balbuciar, mas suas desculpas não faziam sentido. Era claro que sabia que estava errada.
— Pegaram você maltratando meu filho, brigando com um bebê indefeso! Você entende o que significa trabalhar nesta casa? É o meu filho!
Angela recuou, seus olhos marejados pela certeza de que não havia escapatória.
— Senhor, eu juro que...
— Basta! — interrompi novamente. — Você está demitida e agradeça por sair viva. Pegue suas coisas e saia agora.
Ela deixou o escritório amedrontada e em silêncio, e, naquele momento, prometi a mim mesmo que nunca mais permitiria que algo assim acontecesse novamente.
Logo depois, a governanta retornou, desta vez com um tom mais ameno.
— Senhor, sei que o dia começou mal, mas há algo que precisa saber. Matheu aceitou o colo da senhorita Sofia instantaneamente, e sorriu.
Fiquei estática.
— Ele sorriu? — perguntei, incrédulo, meu filho raramente sorria, ele tinha tudo, mas era tão pequeno e sério que me deixava angustiado, Bianca saberia como fazer, ela saberia o que fazer.
— Sim, senhor. Foi a primeira vez que vi isso. Ele geralmente é tão calmo, mas reservado. Estranha qualquer um que não seja o senhor.
Aquela informação ficou comigo pelo resto do dia. Sofia parecia estar trazendo algo que há muito tempo estava ausente nesta casa.
Passei a observar Sofia mais atentamente. Era impossível não notar como ela havia mudado completamente a rotina do meu filho. As regras rígidas que eu tinha imposto, como uma espécie de armadura, estavam sendo ignoradas com uma ousadia que, curiosamente, não me incomodava.
Eu a vi brincando com Matheu no jardim, cantarolando algo enquanto ele ria. Depois, durante a tarde, ela improvisou uma brincadeira com utensílios da cozinha. Meu filho estava... feliz.
Por mais que eu tivesse insistido na organização perfeita, agora via que talvez estivesse errado. Cada sorriso de Matheu era uma pequena vitória que eu nunca tinha visto antes.
Quando me aproximei da sala de jantar para o almoço, fui surpreendido. Matheu estava sentado em sua cadeirinha, na mesa, como se aquilo fosse completamente natural. Sofia estava ao lado dele, segurando um pequeno brinquedo enquanto lhe dava comida com um cuidado que me deixou surpreso.
Por um momento, fiquei parado na porta, incapaz de avançar. A cena era tão diferente de tudo o que eu esperava ver. Pela primeira vez em muito tempo, parecia que tudo estava no lugar, que tudo estava como deveria ser.
Meu filho sorriu quando me viu, balançando as perninhas de maneira animada.
— Senhor Bellini, quer que eu leve Matheu para o quarto? — perguntou Sofia, notando minha presença e parecendo nervosa.
— Não — respondi rapidamente, tentando esconder meu próprio embaraço. — Podem ficar.
Sentei-me à mesa, sentindo o clima leve e quase familiar que ela havia criado. Pela primeira vez, não era o silêncio pesado que dominava a casa. Havia risos, espontaneidade.
Enquanto comíamos, percebi algo que não sentia há muito tempo: uma faísca de esperança. Sofia havia trazido algo novo para minha casa. Não apenas para Matheu, mas, talvez, para mim também.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Vera Lucia Berlanda de Andrade
eu olhei várias antes de decidir por essa e não me arrependo
2025-03-20
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Vó Ném
História maravilhosa .Ela vai aos poucos conquistando o pai
2025-03-14
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Maria Helena Macedo e Silva
lembrei do filme clássico "a noviça rebelde"💖
2025-04-06
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