Nos dias que se seguiram após o aniversário de Matheu, tentei agir naturalmente, voltar a rotina agora tão bagunçada.
Me convenci de que havia feito o certo, que era melhor assim. Mas, em vez de sentir alívio, a sensação que me consumia era outra.
Sofia havia sumido dos meus olhos, como se o ar que nos cercava tivesse se tornado intransponível.
Ela evitava cruzar meu caminho, mantinha-se ocupada demais para qualquer troca de palavras além do necessário. No começo, achei que fosse coincidência, mas logo percebi o padrão. E aquilo me incomodava mais do que deveria.
Ela havia perdido o brilho. A menina cheia de vida que havia entrado naquela casa agora se resumia a um vulto discreto, alguém que apenas cumpria sua função, mas fui eu quem disse que ela era apenas uma babá em teste, mesmo que aquilo fosse uma mentira clara.
Eu via isso em seus olhos, nos pequenos sorrisos que não chegavam mais até eles. Algo dentro de mim se contorcia com aquela constatação.
Na noite que antecedeu a sua folga, vi que ela não saiu da mansão, amanheceu e constatei que ela não saiu. Era óbvio que ficara por medo de que Matheu sentisse sua falta, mas fingia que não era por isso.
Depois que coloquei Matheu para dormir, senti um cheiro adocicado vindo da cozinha. O aroma de chocolate preenchia o ar, carregando uma memória nostálgica que me fez seguir o rastro até lá.
— Quem fez? — perguntei, sentindo algo inquieto dentro de mim, uma sensação de família, de paz.
A governanta ergueu os olhos do que estava fazendo e sorriu de leve.
— Sofia. Ela disse que queria testar uma receita nova.
Minha mandíbula se contraiu ao ouvir seu nome. Antes que eu pudesse responder, a governanta pigarreou e pediu permissão para falar algo. Fiz um gesto para que continuasse, e suas palavras caíram sobre mim com peso inesperado.
— O senhor errou com aquela menina. Ela tem um bom coração, e suas intenções eram as melhores. Matheu melhorou tanto desde que ela chegou, cresceu, aprendeu… E agora está sofrendo com algo que o senhor disse. Ela está morrendo por dentro, corroída. — Ela fez uma pausa e me encarou com gentileza, mas sem hesitação. — O senhor sempre foi um homem justo, Luigi. Não acha que deve reparar isso? Os avós do pequeno príncipe o desprezaram por meses e você não o afastou daquilo,mas de quem o ama você vai afastar?
Engoli em seco. Eu sabia que ela estava certa.
Poucos minutos depois, meus pés me levaram até o jardim. Ela estava lá, de costas para mim, encarando o lago. Seus ombros levemente curvados denunciavam o peso que carregava.
Meu coração acelerou de um jeito irritante, como se minha própria consciência me castigasse pelo que fiz. Me aproximei, mas hesitei antes de falar. O medo de que fosse tarde demais me assombrou.
— Me perdoa por tudo que te disse.
Ela não se virou de imediato. O silêncio entre nós foi como uma lâmina cortante. Quando enfim falou, sua voz era baixa, mas carregava uma frieza que me atingiu como um golpe.
— Eu não guardo rancor, senhor. Apenas aprendi minha lição.
O peso da rejeição caiu sobre mim, mas eu me obriguei a aceitar. Afinal, não foi isso que eu quis desde o início? Criar um abismo entre nós? Então por que agora parecia impossível suportar a ideia de que talvez eu tivesse perdido a chance de recomeçar?
Suspirei fundo e dei um passo para trás, recuando. Me voltei para a mansão, mas antes de entrar, meus olhos captaram algo que me incomodou, fiquei com raiva claro, não queria admitir, mas porque ela sairia com alguém? E porque isso é da minha conta?
Sofia saía com um dos soldados em um dos carros pretos da segurança. Seu rosto exibia um sorriso radiante, um brilho que há dias eu não via. Meu peito se apertou ao perceber que aquele sorriso, antes direcionado a mim e a Matheu, agora era para outro. Eu conhecia bem aquela sensação, já a havia experimentado antes… Mas não fazia sentido. Ciúmes? De quê?
Atravessando a entrada da mansão, tentei me livrar daquele incômodo irracional. Caminhei até a cozinha novamente e me forcei a perguntar:
— Para onde Sofia foi?
A governanta sorriu, ajeitando um prato na bancada.
— Foi até a casa da família levar o restante do salário. Eles são muito pobres, e esta é a segunda vez que faz isso.
Senti um alívio imediato, mas algo ainda me intrigava. Por que ela não pediu a mim? Por que escolheu um segurança aleatório em vez de confiar em mim para ajudá-la? A resposta era óbvia…
Ela não queria nada vindo de mim.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Vilma Alice
Coitada da Sofia.Foi hostilizada só por dar carinho e amor ao bebê que só tinha regras e regulamentos para cumprir sem nem ter noção da situação.
2025-03-03
21
Anonymous
Ele sabe que ela é pobre, já foi na casa dela buscar ela pra ir no hospital qdo bebê teve febre… já ama ela mas como sempre esses Ceo não admitem
2025-03-25
0
bete 💗
você a magoou muito
tem que ser diferente ela não merecia isso
não demore autora por favor
não deixe eles assim
2025-02-08
4