A manhã estava quente e iluminada, mas meu coração continuava pesado. Foi minha primeira folga desde que cheguei, a ansiedade parecia um nó apertado no estômago. Apesar de saber que era apenas um dia, a ideia de sair sem Matheu deixava tudo mais difícil.
Estava na cozinha, terminando um chá, quando a governanta entrou. Ela havia se tornado uma espécie de confidente, me incentivava com amor e cuidado, me mostrava possibilidades e gostava dos avanços e sorrisos que o menino dava.
— Não parece muito animado para sua folga. — comentou, colocando um bolo recém-assado sobre a mesa.
Suspirei, empurrando a xícara para longe. — Não é bem isso...
Ela é generosa, aquele sorriso compreensivo que só as mães ou avós dão.
— Quer tentar explicar?
Olhei para a xícara, tentando organizar os pensamentos.
— É estranho. Eu deveria ser animada por ter um dia para mim, mas não consigo. Não quero sair daqui sem Matheu. Preferia passar o dia com ele, levar à praia, brincar na areia, comer um sorvete... — minha voz começou a falhar.
— Ele é tão pequeno. Como um bebê de um ano entenderá que não foi abandonado? E se ele sentir minha falta? E se achar que não voltarei?
Ela se mudou e segurou minha mão com firmeza.
— Sofia, é só um dia. Você tem direito a descansar e ver sua família.
— Mas enquanto isso? — insisti, a voz trêmula. — Ele vai sentir minha falta. E eu já sinto falta dele.
A governanta abriu minha mão de novo, como se quisesse transmitir um pouco de sua força e gentileza.
— Matheu é um bebê inteligente. Ele ficará bem, principalmente porque você já plantou algo nele: segurança. Ele sabe, lá no fundo, que você sempre volta.
Antes que eu pudesse responder, o segurança se aproximou da porta.
— Senhorita Sofia, há um homem esperando por você no portão.
Meu coração acelerou, e senti uma mistura de nervosismo e curiosidade. Assenti lentamente.
— Já estou indo.
Levantei-me, mas, ao passar pelo corredor, meus passos hesitaram. Sem perceber, parei diante da porta entreaberta do quarto de Matheu. Lá dentro, Luigi estava com ele no colo, falando em um tom surpreendentemente carinhoso.
— Está tudo bem, filho. — disse Luigi, com uma calma que não combinava com sua postura habitual. — Você não está sozinho. Hoje vamos nos divertir, que tal? A piscina é legal, lembra? A Sofia mostrou como é divertido.
Encostei-me na parede ao lado da porta, deixando escapar um pequeno sorriso. Luigi estava tentando. Ele estava realmente tentando se conectar com o filho. Isso me deu um pouco de paz.
Respirei fundo e segui para o portão, ainda pensando no que havia acabado de ouvir. Talvez... ele estivesse aprendendo.
Do lado de fora, meu irmão me aguardava, encostado em um carro simples, mas cheio de significado para nós. Seu sorriso iluminou meu coração, mesmo que a saudade ainda apertasse.
— Você está linda, Sofi. — ele disse, abrindo os braços para me envolver em um abraço apertado.
— Ah, para com isso. — brinquei, rindo enquanto o abraçava de volta.
— Está tudo bem aí? Você parece diferente.
Dei de ombros:
— Talvez porque eu esteja cuidando de um bebê.
Ele arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Não é "seu" bebê, Sofia.
Suspirei, desviando o olhar:
— Eu sei. Mas é difícil não me apegar. Ele é tão pequeno, tão inocente...
Meu irmão sincero, mas com uma seriedade que não era comum.
— Sabe quem mais sente sua falta? Seus irmãos.
Olha para ele, surpresa.
— Nós sentimos sua falta, Sofia. Você sempre foi o coração da casa.
Meu coração se abriu. Não sabia que precisava tanto ouvir isso. Abracei-o de novo, mais forte.
— Eu também sinto muita falta de vocês.
Ele beijou minha testa, um gesto que fez desde que éramos crianças.
— Vamos. Mamãe preparou um café da manhã especial.
Chegar em casa foi como um abraço quente em um dia frio. O aroma de pão fresco e café recém-passado preenchia o ar. A mesa estava repleta de frutas, bolos e sucos, e minha mãe veio correndo me abraçar.
— Minha filha! — ela exclamou, apertando-me com um abraço de mãe que confesso que precisava — estava morrendo de saudades.
— Eu também, mãe — respondi retribuindo seu abraço.
— Eu soube ontem que você teria uma folga e queria fazer algo especial. — disse ela, segurando meu rosto entre as mãos e me olhando como se quisesse guardar aquele momento para sempre.
— Está maravilhoso, mãe. Obrigado.
Passamos a manhã rindo, contando histórias e relembrando momentos da infância. Meus irmãos estavam mais a vontade e riam brincando enquanto nós falávamos, entreguei ao meu pai um valor de adiantamento que a governanta me entregou e ele sorriu.
— Não precisa filha, sua mãe recebeu sua saída ontem, deu um bom valor, inclusive está aqui guardado se precisar levar, seu irmão ganhou um aumento e eu trabalho né — ele falou.
— Pai, eu quero que você pare de trabalhar, eu vou ganhar 5 x mais lá e não tenho gastos, deixarei dois salários aqui com vocês, e guardarei o necessário para alguma emergência, vocês cuidaram de nós, agora é nossa vez — falei e ele ficou emocionado, abraçou minha mãe e só agradeceu com a cabeça.
Quando a campainha tocou ao final da tarde, meu coração disparou. Minha mãe foi atender e voltou com Luigi e Matheu nos braços. Matheu parecia doente, o rosto pálido, mas seus olhos se iluminaram ao me ver. Ele esticou os braços para mim, como se eu fosse a única coisa que ele precisava.
— Ele está com febre. — disse Luigi, visivelmente preocupado. — Acho melhor levá-lo ao hospital, mas sentia que ele queria você.
Peguei Matheu nos braços, sentindo o calor de sua febre contra minha pele.
— Vou com vocês, estou aqui meu amor, não vou te deixar — falei para ele e percebi minha família toda tensa, eles temiam que eu me apegasse? Era claro que isso já acontecia.
No carro, segurei Matheu o tempo todo, sussurrando palavras tranquilizadoras enquanto Luigi dirigia em silêncio.
No hospital, enquanto esperávamos o médico, senti um laço invisível se formando entre nós. Luigi parecia um homem diferente, mais humano, mais vulnerável.
Talvez, pensei, esse fosse o começo de algo novo. Algo que eu não conseguia definir, mas que me fazia querer ficar.
O tempo parecia se arrastar. Estávamos na sala de espera, eu com Matheu no colo, embalando-o suavemente enquanto Luigi observava em silêncio. Ele não parecia o homem frio que conheceu no primeiro dia, mas um pai cheio de medos e incertezas.
— Ele vai ficar bem. — sussurrei, sem olhar para Luigi. — Crianças têm febres às vezes.
— Eu sei. — respondeu ele, mas seu tom era incerto.
Matheu se mexeu no meu colo, soltando um gemido baixo. Passei a mão pelos seus cabelos, cantando baixinho uma música infantil que ele parecia gostar acabei chorando, sentia medo por um anjo que conheci a apenas uma semana, mas que já dominava meu coração.
No hospital, a espera foi mais longa do que eu esperava. Mesmo com a febre de Matheu já sumindo ele ainda estava em meus braços, meu coração permanece apertado. Luigi estava ao meu lado, inquieto, andando de um lado para o outro. Ele parecia dividido entre o pânico e a impaciência, mas seus olhos sempre voltavam para mim e Matheu.
Finalmente, o médico entrou no consultório com um sorriso tranquilo.
— Bem, já verificamos todos os sinais pertinentes. Não há nada de errado fisicamente com Matheu. — disse ele, enquanto eu o observava atentamente. — Pelo que vejo, parece ter sido uma febre emocional. É algo que acontece com crianças pequenas às vezes, especialmente quando há mudanças na rotina ou no ambiente.
Soltei o ar que nem percebi estar prendendo, e Luigi, ao meu lado, também relaxou visivelmente.
— Então ele está bem? — quis saber, ainda segurando Matheu, que já estava mais calmo em meus braços.
— Sim, ele está bem. Pode ser apenas sensibilidade ou um momento de carência. Ele já parece muito melhor agora. Só mantenha a hidratação e observe.
Agradecemos ao médico e voltamos para casa.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
se o Luigi viu o encontro dos irmãos no portão confundiu o carinho entre irmãos com um namoro e deve ter ficado com ciúmes, aproveitou a febre do Matheo e foi atrás da Sofia.🤭🙃
2025-04-06
2
Daisy Conceicao
ela mentiu pra família dizendo que estava com saudades sem nem está, ela nem queria ir ver a família de tão apegada a uma criança que nem dela é
2025-02-25
3
Ana Lúcia De Oliveira
Sofia é uma fonte de amor puro e singelo. O bebê Matheus não tinha sentido ainda esse amor por parte das pessoas que o rodeavam
2025-03-26
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