Tarde na piscina

O som dos passos leves ecoando pelo corredor chamou minha atenção antes mesmo que a batida na porta soasse.

— Entre — disse, ainda olhando para os papéis em minha mesa.

Quando levantei os olhos, vi Sofia entrando com Matheu em seus braços. Ele estava rindo, um som alegre que parecia aquecer o ambiente mais do que qualquer raio de sol.

— Senhor Bellini, posso falar com o senhor?

Assenti, tentando ignorar o brilho suave no olhar dela.

— Claro.

Ela ajeitou Matheu no colo, que continuava brincando com os dedos dela, completamente alheio à seriedade do ambiente.

— Eu queria pedir permissão para levar Matheu à piscina. Acho que seria uma experiência agradável para ele.

A ideia me pegou de surpresa. Nunca havia considerado algo assim.

— Piscina? — perguntei, franzindo o cenho. — Você tem noção de que não é nada que estava na rotina dele?

— Sei disso, senhor. E também sei que fui além das regras em alguns momentos — respondeu, com a voz calma, mas firme. — Porém, acredito que algumas mudanças podem ser benéficas para ele.

— Mudanças? — repeti, cruzando os braços.

Ela assentiu, segurando meu olhar.

— Matheu é um bebê incrível, senhor Bellini, mas acho que ele precisa de mais do que apenas horários rígidos. Ele precisa de estímulos, de experiências que o façam sorrir e crescer de maneira saudável.

Por um momento, pensei em repreendê-la, mas a convicção em sua voz me desarmou.

— Certo, Sofia. Vou permitir, mas sob uma condição.

— Qualquer coisa, senhor — disse ela, inclinando levemente a cabeça, como se estivesse prestes a receber uma ordem militar.

— Você terá liberdade para fazer algumas mudanças, mas terá que me provar que Matheu estará mais feliz e que isso não atrasará seu desenvolvimento.

Ela sorriu, e por um instante percebi o quanto esse simples gesto a tornava... luminosa.

— Obrigada. Prometo que o senhor verá resultados.

Quando se virou para sair, com Matheu ainda rindo em seus braços, ela disse em um tom quase cantarolado:

— Vamos, Matheu! É hora de botar sua roupa de banho.

As palavras me incomodaram mais do que deveriam. Algo na ideia de Sofia e meu filho juntos na piscina me deixou inquieto. Assim que ela saiu, peguei o telefone e dei ordens diretas.

— Tire todos os seguranças da área da piscina. Não quero ninguém por lá enquanto Matheu estiver com a babá.

Desliguei, ainda com a cena dela segurando Matheu gravada na minha mente.

Mais tarde, posicionei-me discretamente em um ponto da casa de onde podia ver a piscina. Lá estavam eles. Sofia havia vestido um maiô simples e Matheu usava uma pequena sunga azul. Ela o segurava com cuidado, molhando os pezinhos dele na água enquanto ele ria alto, encantado.

A leveza com que ela se movia, o tom carinhoso em sua voz e a paciência com que tratava meu filho eram quase hipnotizantes. Era tudo tão diferente de Bianca, que sempre fora intensa, decidida e envolvente de uma forma avassaladora. Sofia era o oposto: doce, tranquila e gentil.

Mas, inesperadamente, essa diferença começou a me atrair de um jeito que eu não estava preparado para admitir.

Observei enquanto ela segurava Matheu, dizendo algo que o fez rir novamente. Sua presença parecia transformar completamente o ambiente, preenchendo-o com uma energia que há muito tempo eu não via nesta casa.

De repente, percebi que estava sorrindo. Não por mim, mas pela felicidade evidente no rosto de Matheu. E, talvez, um pouco pela presença dela.

Sofia:

O sol brilhava com intensidade, refletindo na água da piscina enquanto Matheu ria em meus braços. Ele parecia um passarinho descobrindo o voo pela primeira vez, e eu aproveitava cada momento daquela tarde que, para ele, era apenas diversão, mas para mim era um verdadeiro privilégio.

A alegria, no entanto, foi interrompida pela figura tensa da governanta que apareceu na beira da piscina. Ela parecia hesitante, mas seus olhos revelavam que algo não estava bem.

— Senhorita Sofia, sinto interromper, mas... Matheu tem visita.

A frase me fez franzir o cenho. Eu não esperava ninguém, e a escolha de palavras da governanta não me agradou.

— Visita? Quem seria? — perguntei, ajeitando o roupão ao redor de Matheu enquanto ele brincava com as pontas do tecido.

A governanta olhou para os lados como se tivesse medo de que alguém pudesse ouvi-la.

— São os pais da senhora Bianca, os avós de Matheu.

A tensão em sua voz me deixou alerta.

— Isso não é algo bom? — questionei, tentando compreender sua inquietação.

Ela suspirou e baixou os olhos antes de responder:

— Eles nunca vêm. Não gostam de Matheu. E... ele sempre chora quando os vê. As regras quase militares que a senhorita tanto questiona vieram deles.

Senti um incômodo tomar conta de mim. Como alguém poderia não gostar de um bebê tão doce quanto Matheu? Ainda mais sendo avós?

— Obrigada por me avisar. Vou subir com ele para vesti-lo — respondi, tentando soar calma, mas por dentro, o desconforto me corroía.

Ela assentiu e deu um passo para trás, enquanto eu envolvia Matheu no roupão e o segurava firme.

Quando cheguei à sala, o ambiente parecia tomado por uma energia quase sufocante. Lá estavam eles: um homem de aparência severa, de terno impecável, com cabelos grisalhos perfeitamente alinhados, e uma mulher com a postura rígida, coberta por joias que mais pareciam armaduras.

Era como olhar para figuras esculpidas em pedra. A frieza em seus olhares parecia congelar o ambiente.

— Com licença — disse, tentando soar educada. — Vou subir para vestir o pequeno.

— Faça isso — respondeu o homem, sem sequer disfarçar o tom de desdém.

Enquanto subia as escadas, ouvi um sussurro cortante vindo da mulher:

— Em vez de estar cumprindo a rotina, está na piscina. Que perda de tempo.

As palavras me atingiram como uma rajada de vento gelado. Respirei fundo, tentando não deixar a raiva transparecer. Segurei Matheu com mais firmeza e sussurrei para ele:

— Não se preocupe, meu amor. Estou aqui com você.

Matheu, alheio à tensão, encostou a cabeça em meu ombro, e o gesto simples me deu força. Subi o restante das escadas determinada a protegê-lo, não importa o que acontecesse.

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Comments

Anonymous

Anonymous

Credo! eu paparica demais os meus netos e nem por isso deixam de ter limites. Quem sabe até se a Sofia não está viva. Acho que ela quis é fugir dessa base militar tanto dos pais quanto do marido, que vivem como se estivessem em uma caserna militar.

2025-04-07

2

Euridice Neta

Euridice Neta

Porque os avós maternos quem determinou a forma como.o pequeno deve ser educado? E porque regras tão rígidas?

2025-02-23

0

Renata Boaro

Renata Boaro

os pais de Bianca que tratar , o neto como tratava a filha com essas regras militares. Lógico que criança tem que ter limites, mas tem que ter lazer tbm.

2025-02-08

2

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Atualizado até capítulo 62

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