Agradecemos ao médico e voltamos para casa. O silêncio no carro era quebrado apenas pelo som suave da respiração de Matheu, que dormia profundamente em meu colo.
Luigi dirigiu com as mãos firmes no volante, mas sua expressão era indecifrável, os olhos fixos na estrada.
Quando finalmente chegamos, Luigi estacionou e virou-se para mim. Seus olhos encontraram os meus por alguns instantes, e havia algo diferente neles.
— Sofia... — começou, a voz mais baixa do que de costume, quase hesitante. — Hoje, quando vi você com Matheu no hospital, segurando-o como se sua vida dependesse disso, chorando enquanto dizia que tudo ficaria bem...
Fiquei em silêncio, surpresa pela abertura dele. Ele respirou fundo, olhando para o bebê que ainda dormia no meu colo.
— Foi ali que eu entendi o que significao sentimento que tem por ele e ele por você. — ele continuou com a seriedade em cada palavra. — Você estava vulnerável, mas ainda assim tão forte. Dizia a ele que ficaria tudo bem, mesmo quando eu via que você mesma não sabia se ficaria.
Meu coração apertou com suas palavras, mas antes que eu pudesse responder, ele desviou o olhar, ajeitando a postura no banco. Sua expressão resistiu novamente, e a seriedade habitual voltou a dominar seu rosto.
— Eu quis dizer a você que faria tudo ficar bem, não sei ao certo o quanto essa proximidade será prejudicial para o Matheu e tenho medo que ele seja deixado mais uma vez.. — confessou, ainda olhando para frente. — então... Não se apegue demais para que ele não sofra quando for preciso se afastar.
Ele fez uma pausa, respirando fundo, como se estivesse tentando controlar as emoções.
— Eu não sei como fazer isso, como não me apegar se posso dizer que já o amo, sinto muito, mas acho que nosso falhei miseravelmente.
Queria tocar sua mão, dizer algo, mas senti que ele precisava de espaço. Luigi abriu a porta do carro e saiu, caminhando em direção à casa com passos firmes.
Fiquei ali por um momento, olhando para o pequeno Matheu em meus braços. Uma parte de mim sabia que Luigi estava lutando com seus próprios demônios, tentando ser o pai que Matheu precisava e talvez mais do que isso.
Mesmo sem palavras, naquele instante tive medo de ser obrigada a me afastar, se Luigi me pedisse isso eu nada poderia fazer e confesso que me mataria.
Talvez não soubesse como expressar, mas Luigi queria fazer as coisas darem certo. E, por mais difícil que fosse, eu estava disposta a estar ao lado dele, mesmo que tudo ainda parecesse um mistério.
Luigi:
Eu caminhava pelo corredor da casa, as luzes baixas refletindo o silêncio daquela noite. Matheu já dormia, Sofia estava com ele. O dia foi longo, pesado. Meus pensamentos estavam uma confusão entre o que senti ao vê-la com meu filho no hospital e o incômodo de perceber que, de alguma forma, ela já fazia parte desse espaço. Parte de nós.
Quando passei pela porta do quarto de Matheu, um som baixo me fez parar. Era a voz dela. Hesitei, mas algo me deixou para escutar.
— Senhor, proteja esse menino. — ela disse, com a voz suave, quase quebrada. — Que ele cresça saudável, feliz, cheio de amor. Dê-me sabedoria para ajudá-lo, e por favor, acalme o coração do pai dele. Eles precisam um do outro, e Matheu precisa se sentir amado.
Minhas mãos fecham-se em punhos ao lado do corpo. Aquilo mexeu comigo de um jeito que eu não queria admitir. Era como se, enquanto ela orava, a imagem de Bianca, que eu mantinha tão viva, começava a desvanecer, escapando por entre os meus dedos.
A presença de Sofia era algo que eu não havia pedido, mas agora parecia tão essencial quanto o ar que respiramos naquela casa. Isso me irritava. Não queria essa vulnerabilidade, essa doçura que ela exalava a cada gesto.
Preciso de força, de firmeza, de controle. Mas, ao mesmo tempo, o carinho e a ternura que ela demonstrava...
Fechei os olhos, respirando fundo. Eu não queria gostar disso. Mas percebi que gosto.
Afastei-me do quarto antes que ela me visse. Meu coração estava pesado, e a única coisa que sabia fazer era me isolar. Caminhei até meu escritório e fechei a porta atrás de mim. A garrafa de uísque no bar ao lado parecia me chamar, e eu não recusei.
Servi-me de um copo, uma bebida âmbar brilhando sob a luz fraca. Dei o primeiro gole, sentindo o calor forte descendo pela garganta. Queria silenciar a dor, a confusão.
Era Bianca que deveria estar ali. Era ela quem deveria estar segurando nosso filho no colo, orando por ele, acalentando-o. Mas a vida tinha outros planos, e agora Sofia estava preenchendo aquele espaço vazio com a delicadeza que eu havia jurado nunca permitir em minha vida, Bianca era fogo e gasolina e Sofia é a doçura e o ar da vida.
Outro gol. E mais hum. A bebida queimava, mas não silenciava os pensamentos.
Fiquei ali, sozinho, tentando afogar no álcool a culpa, a saudade e, principalmente, a confusão que Sofia despertava em mim. Eu preciso manter o controle. Sobre ela. Sobre mim. Sobre tudo.
Mas, naquela noite, sentado em meu escritório com a bebida na mão, percebi que estava perdendo. E odiava admitir que talvez, só talvez, essa fosse a primeira vez em um ano que perder parecia algo inevitavelmente bom.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Odailma
Eu acho interessante estas histórias onde o amor entre patrões e funcionários acontecem, mas fica aqui uma crítica é uma pergunta…. Porque não fazerem as coisas acontecerem naturalmente e no tempo real , como as coisas acontecem ? Não existe este amor em tão pouco tempo. Pode deixar a história acontecer em uma convivência de alguns meses, não com uma semana….. Desculpe autora, mas pensa comigo e verás que ficará mais bonito esse amor entre os três….
2025-03-29
12
Eva Eunice
Não importa como acontece, o bom é que ele está mudando, ele era muito chato e rigoroso com aquelas regras imagine para um bebê que não entende nada ainda hora pra fazer tudo menos ser criança e brincar
2025-04-01
0
Anonymous
Autora, você está de parabéns, suas palavras penetram na nossa alma, que história linda, história cheia de amor, de traumas, de medo e ao mesmo tempo de superação.
2025-03-27
1