O som suave da respiração de Matheu, adormecido no colo de Luigi, preenchia o silêncio do quarto. Luigi o embalava distraidamente, os olhos perdidos em pensamentos que, pouco a pouco, se reuniam palavras.
— Ela era... tudo. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Bianca era o tipo de mulher que iluminava um ambiente, sabe? Inteligente, determinada... Ela tinha tanta vida em si que era impossível imaginar que um dia poderia simplesmente... desaparecer.
Eu estava sentada na cama, próxima o suficiente para sentir seu perfume, observando com atenção. Ele falou sobre Bianca, mas naquele momento parecia que uma barreira havia se rompido.
— No hospital, eu segurava sua mão, e... sabia que não podia fazer nada. — Luigi abriu os olhos, como se a dor da memória ainda fosse fresca. — Ela olhou para mim e me fez prometer cuidar do Matheu. E eu prometi. Mas a verdade é que... me sinto incapacitado. Não a salvei, e às vezes sinto que estou falhando com ele também.
Senti um nó na garganta ao ouvir a dor na voz de Luigi. Era raro vê-lo tão vulnerável, e o peso de suas palavras era quase palpável.
Me inclinei um pouco para frente, as mãos unidas no colo foram em direção a ele, um limite arriscado de romper, mas, porém naquele momento era necessário.
— Luigi... — comecei, escolhendo as palavras com cuidado. — Acredito que a um propósito mesmo na dor, mesmo quando nós não entendemos. Bianca foi, mas Matheu está aqui. Ele precisa de você, não só como um pai que cuida, mas como alguém que o deixa viver e descobrir o mundo.
Ele me encarou, os olhos estavam confusos.
— Estou tentando, Sofia. É por isso que aceitei estabelecer aquelas regras. Achei que seria o melhor para ele.
Balancei a cabeça levemente, esbocei um sorriso compreensivo, não queria aparentar grosseria ou julgamento.
— Trinta minutos de cochilo cronometrados? Para quê? Matheu é só um bebê, Luigi. Ele vai gastar energia, correr, brincar... e depois dormir quando estiver cansado. Ele precisa de tempo para ser uma criança.
Luigi olhou para Matheu, que ainda dormia serenamente em seus braços. As minhas palavras ecoavam em sua mente, e cada uma parecia uma acusação velada pelo estampo em sua face, mas era tarde para me acovardar.
— As roupas sem estampa, sem cor... Para quê? Onde estão os brinquedos? Como rir? — continuei, minha voz era suave, mas cheia de questionamentos que atingem Luigi como flechas.
Ele desviou o olhar, incapaz de responder.
— As coisas simples, Luigi, é o que fazem uma criança feliz. Não o controle, não a perfeição. Ele precisa de você, ser criança, não há regras a seguir mais do que o normal que é não bater, brigar, falar coisa feia, orar pela refeição, amar incondicionalmente ou respeito por si só, essas coisas eles aprendem mais vendo nos pais o exemplo.
Luigi ficou em silêncio. As minhas palavras penetraram fundo, expondo as falhas em sua maneira de criar Matheu. Era como se, pela primeira vez, ele enxergasse o vazio que havia preenchido na infância de seu filho até agora.
Finalmente, ele se levantou, colocando Matheu cuidadosamente no berço. O menino se mexeu levemente, mas continuou dormindo. Luigi ficou parado ali por um momento, olhando para o filho com um misto de culpa e tristeza.
— Você tem razão sobre muitas coisas. Eu... vou pensar sobre isso — disse ele, sem olhar para mim.
E, sem mais palavras, saiu do quarto, deixando-me sozinha.
Suspirei sentindo o peso naquele momento. Não era minha intenção fazê-lo sentir-se preocupado, mas talvez essa culpa fosse o primeiro passo para uma mudança real.
Amanheceu e fiquei ali por um momento, processando o que havia acontecido ontem. As palavras de Luigi ainda ecoavam na minha mente: "Você tem razão sobre muitas coisas." Eram poucas, mas carregavam um peso enorme.
Ele não era um homem que cedia facilmente, muito menos alguém que admitia estar errado.
Matheu começou a balançar o bichinho de pano, soltando risadinhas contagiantes. Isso me trouxe de volta à realidade. Peguei-o no colo e dei um beijo em sua testa.
— Vamos começar o dia, meu pequeno.
Fui com ele para a cozinha, onde já estava na hora do café da manhã. Desta vez, eu dei ao trabalho de ignorar os olhares julgadores de algumas empregadas. Coloquei Matheu na cadeirinha de alimentação e preparei um pratinho para ele. Misturei um pouco de fruta amassada com mingau, algo simples, mas que ele aceitou com entusiasmo.
Enquanto o alimentava, meus pensamentos voltaram para Luigi. Ele estava tentando, eu sabia disso. Sua dificuldade vinha de um lugar de dor, e era complicada. Mas ver Matheu sorrindo parecia mexer com ele.
Depois de comer com o pequeno, subi com ele para o quarto. Abri as janelas para deixar a luz do sol entrar. Matheu parecia fascinado com as sombras que as folhas das árvores criavam no chão. Peguei o bichinho de pano e inventei uma história, tentando fazer o tempo passar até que ele se cansasse e quisesse cochilar.
Mas minha mente ainda estava presa no que Luigi havia dito. "Obrigado, Sofia." Era Aquilo inesperado.
Mais tarde, enquanto Matheu dormia, aproveitei para organizar as coisas no quarto, logo bateram na porta e abri, eram seguranças com diversas caixas e sacolas de lojas, dei uma breve olhada antes de agradecer, eram coisas de bebê, brinquedos, roupas, coisas lindas bem coloridas, olhei para ele ali e comecei a guardar as coisas, logo mesmo que ele tenha acordado continuamos e dei a ele a missão de me ajudar a olhar o que era legal, dava os brinquedos para ele olhar, brincava junto.
— Você é tão pequeno, mas já carrega o mundo nos ombros. — murmurei, mais para mim mesma.
O som de passos no corredor me fez erguer o olhar. Era Luígi. Ele parou na porta, olhando para o quarto, agora mais acolhedor. Seus olhos percorreram a estante com brinquedos o ambiente organizado
— Ele dormiu? — perguntou, mantendo o tom baixo.
— Sim, dormiu já acordou e agora cochilou novamente— respondi, levantando-me do chão.
Ele entrou no quarto, aproximando-se do berço. Ficou ali, olhando para o filho por um longo momento, o rosto expressando algo que parecia uma confusão de tristeza e pesar.
— Ele está diferente. — Luigi disse, sem me olhar.
— Talvez porque você esteja permitindo que ele seja ele mesmo. — respondi, hesitante, mas com especial atenção.
Luigi suspirou profundamente, como se minhas palavras tivessem atingido algo dentro dele.
— Quero ser pai e fazer o suficiente, mesmo que tenham me ensinado que não posso ter medo, desde que me vi sozinho com ele é o sentimento que mais me assola.
— Você é suficiente. — falei com firmeza, surpreendendo até a mim mesma. — Matheu só precisa de você presente, Luigi. E, se puder, de um pouco de cor, de risadas e de momentos simples.
Ele finalmente me olhou, e seus olhos estavam carregados de algo que eu não consegui decifrar.
— É o que Bianca iria querer? — ele perguntou, quase uma frase sussurrada.
— Não sei. - admito. — Mas é o que eu acredito.
Luigi ficou em silêncio, os olhos voltados para o filho adorado. Por fim, ele concordou levemente, como se tivesse chegado a alguma conclusão silenciosa.
— Obrigado, Sofia. Por tudo.
Dessa vez, ele não saiu imediatamente. Ficou ali, ao lado do berço e me ajudou a guardar o restante das coisas.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
ninguém é capaz de fazer o que outro quer que seja feito nem como ela quer que seja feito, mas muitas vezes fazendo do nosso jeito satisfazemos não somente a nós mas ao outro também😉 e isso faz toda diferença, porque ninguém é igual a ninguém, somos únicos e incomparáveis.
2025-04-06
1
Tânia Principe Dos Santos
Sofia trouxe mudanças, mas especialmente luz e cor onde só havia escuridão. ela é jovem mas madura em muitas coisas
2025-03-11
8
Boravercuriosa🌹🌪️
Esse homem está quebrado de uma forma, que só o amor de uma mulher por seu filho é capaz de restaurar um coração tão amargurado e infeliz.😔
2025-03-23
0