Amando Outra Vez.
Meu nome é Luigi Bellini, e durante 34 anos vivi acreditando que o controle era a chave para o sucesso. Controlar os negócios, controlar as relações, controlar as emoções. Tudo.
Por isso construí um império em Milão, uma cidade que dita o ritmo da Itália e, muitas vezes, do mundo. Minha empresa é uma das maiores do ramo automotivo, e cada detalhe da minha vida foi planejado meticulosamente até aquele dia — o dia em que tudo saiu do meu controle, dia que o amor e a dor bateram a minha porta juntos.
Há exatamente um ano, eu segurei a mão de Bianca enquanto ela dava à luz nosso filho, Matheu. Ela estava forte, como sempre, enfrentando a dor com a determinação de que era sua marca registrada. Bianca não era uma mulher doce ou frágil. Pelo contrário, ela era como uma tempestade: avassaladora, poderosa e inesquecível. Desde o dia em que a conheci, ela dominava os ambientes por onde passava. Cabelos negros como a noite, olhos que enxergam através de qualquer máscara e uma autoconfiança que faz qualquer um se curvar.
Eu amava Bianca exatamente por isso. Ela não precisa de mim para ser alguém; éramos parceiros, iguais, em tudo, foi a mulher que amei e a força que me manteve de pé, foi o único sentimento de amor e companheirismo que conheci.
Mas no dia em que Matheu nasceu, o furacão que foi Bianca se desfez. Houve complicações. O médico apareceu com aquela expressão que eu nunca mais esquecerei e disse que fez tudo o que podia.
Ela se foi. Assim, sem aviso, sem chance de despedida. Fiquei apenas com nosso filho nos braços, enquanto o mundo ao meu redor parecia desmoronar.
Desde então, sobreviver tem sido minha única meta. Viver para Matheu, para a empresa, para manter tudo o que construímos juntos. Mas viver, no sentido pleno da palavra, deixou de fazer parte da minha rotina. Trabalho, cuido do meu filho e me fecho no meu mundo. Não há espaço para mais nada.
Nos últimos meses, minha governanta insiste que eu contrate uma babá, os primeiros meses foram difíceis, Matheu era só um bebê, era fralda, choro, mamadeira, poucas noites febris. Agora começando a engatinhar, ele necessita de cuidados extras.
Ela diz que estou me sobrecarregando, que Matheu precisa de mais atenção, que preciso delegar.
Por fim, cedi, embora a ideia de outra pessoa ocupando um espaço que deveria ser de Bianca me incomodasse profundamente.
Hoje é o dia das entrevistas. Estou em meu escritório, um espaço que reflete perfeitamente minha personalidade: funcional, elegante e impessoal. Sobre a mesa, há uma pilha de currículos, e eu já entrevistei pelo menos meia dúzia de candidatas. Todas têm as competências, mas nenhuma delas me convenceu. Talvez porque, no fundo, eu saiba que não estou buscando apenas competência.
Quando a próxima candidatura entra, eu levanto os olhos com pouca expectativa. Então, algo me faz hesitar.
Ela é diferente. Não usa roupas chamativas, nem tenta impressionar com um discurso ensaiado. Seu vestido é simples, em tons claros, e os cabelos castanhos claros estão presos de maneira prática. Mas são os olhos dela que me fazem parar. Verdes, serenos, com um brilho que parece enxergar algo além das paredes frias do meu escritório.
— Senhor Bellini, é um prazer conhecê-lo, — ela diz, com um leve sorriso que não parece falso.
Eu me endireito na cadeira, mantendo o olhar fixo nela.
— Por que você acha que é capacitada para este trabalho? — pergunto, indo direto ao ponto.
Ela não hesitou. Não desvia os olhos, sua fala é doce e seu brilho é algo com o que não estou acostumado.
— Porque cuidar de uma criança é muito mais do que seguir uma lista de tarefas, senhor Bellini. Acredito ser preciso estar presente, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Matheu precisa de alguém que esteja ao lado dele, que o faça se sentir amado e seguro, não que o senhor não faça, mas é algo relacionado a figura feminina que o ame sem ocupar o espaço materno.
Minha expressão resiste. Já ouvi variações dessa resposta durante o dia inteiro.
— Meu filho não precisa de sentimentalismos, senhorita. Ele precisa de estrutura, disciplina e estabilidade.
Ela mantém o olhar firme, mas seu tom continua calmo.
— Estrutura e disciplina são essenciais, mas o senhor também sabe que uma criança precisa de amor tanto quanto precisa de segurança. Principalmente quando sente a ausência de algo tão importante quanto uma mãe, você precisa o deixar aproveitar essa fase, brincar, se sujar, de fato disciplina é algo para pelo menos um ano para frente ainda.
Essas palavras me atingem como um golpe. Algo na maneira como ela fala, tão direta e, ao mesmo tempo, tão compassiva, me desarma. Não estou habituado a ser confrontado, ainda mais por alguém que mal conheço, mas não consigo ignorar o que ela disse.
Cruzo os braços, tentando retomar o controle da situação.
— Qual é o seu nome?
— Sofia, — ela responde, com um sorriso discreto.
Assinto lentamente, avaliando-a mais uma vez.
— Muito bem, Sofia. Você terá um mês para provar que é capaz. Espero que entenda que este não é um trabalho fácil, e eu sou exigente.
— Não subestime a importância de um ambiente amoroso, senhor Bellini, — acrescentou ela, com uma calma que me desconcertou.
Ela não parecia temer o tom frio com que eu a testava. Algo nela era diferente. Talvez fosse a serenidade, talvez fosse como não me agradava com exageros.
— Você é religiosa? — perguntei querendo saber mais sobre ela e notando a pequena cruz que ela usava no pescoço.
Ela responde:
— Não digo religiosa, mas acredito em propósitos, isso — aponta para o pescoço — foi algo que minha mãe me deu e eu valorizo.
A religião nunca foi algo presente na minha vida, e se existia Deus, porque meu filho ficou sem mãe?
Bianca e eu pensamos em coisas práticas; nossos valores focam nos resultados, não na fé. Mas a maneira como Sofia carregava leveza e transbordava amor me fazia deixar ela aqui tempo demais, não tinha nada especial demais nela a primeira vista, não sei o que me atraiu e sei que nem devo me impressionar.
Quando Sofia sai, acompanhada pela governanta, eu me recosto na cadeira e encaro a porta. Algo nela ficou gravado em minha mente, uma espécie de simpátia que eu não senti há tempos. Não sei o que esperar, mas pela primeira vez em muito tempo, sinto que algo está prestes a mudar.
E isso me assusta tanto quanto me intriga.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
💙 Shofie
Muitas das vezes em que nos deparamos com momentos e situações difíceis, temos o ímpeto de culpar Deus ou julgarmos a sua não existência. Porém, Deus nada tem a ver com as consequências de nossas ações, escolhas e fracassos. O nosso livre arbítrio, é grande o suficiente, para fazermos o q entendermos, porém, se algo sai do lugar é Deus que não existe ou não nos ama??
Agimos como se Ele não existisse ou não precisássemos d'Ele, e quando a corda quebra o culpamos por não ter impedido.
2025-02-21
31
Meire Garcia
começando a ler 06/02 a história me parece ser boa bora pra mais uma história
2025-02-07
2
Dulce Gama
a história está muito boa mas parece não sei a autora não explicou mas eu acho que a mãe do BB não morreu ela era uma mulher saudável e teve complicações estranho mas vamos lá 🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-02-20
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