O Convite Especial

A noite se arrastava lentamente, e a festa da cidade ganhava mais vida conforme a música sertaneja continuava a tocar, envolvendo os presentes em uma atmosfera de alegria e celebração. Isabela e Henrique estavam ainda na praça, curtindo o ambiente festivo. Conversavam sobre tudo e nada, enquanto se perdiam nas risadas e no calor da companhia um do outro.

Henrique parecia mais relaxado, algo que ele não sentia há tempos. O peso dos últimos anos começava a parecer menos opressor quando estava ao lado de Isabela, como se o simples fato de estar com ela fosse capaz de amenizar as dores que carregava dentro de si.

Enquanto passeavam entre as barracas de comida e as luzes cintilantes, Isabela puxou Henrique até uma pequena tenda, onde havia uma mesa com algumas bebidas. Eles se serviram e começaram a conversar sobre coisas simples da vida, sobre seus sonhos, suas memórias de infância.

Foi quando um homem se aproximou deles. Ele era mais velho, com uma postura amigável, e usava um chapéu de cowboy. Seu olhar curioso logo se fixou em Henrique, e ele sorriu ao vê-lo.

— Desculpe interromper — disse o homem, com um tom cordial. — Você é Henrique, não é? O cantor?

Henrique olhou para ele com uma expressão de surpresa. Ele estava acostumado a ser reconhecido, mas fazia tempo que não se sentia como um "artista" de verdade. A música, para ele, parecia estar em um passado distante, algo que ele havia deixado para trás depois da tragédia que afetou sua vida.

— Sim, sou eu — respondeu com um sorriso discreto.

O homem sorriu de volta, parecendo empolgado.

— Eu sou o Marcos, responsável pela organização do festival aqui. Na verdade, estávamos procurando por você. — Ele olhou para Isabela, que estava ao lado de Henrique. — Ouvi dizer que você foi um grande nome no cenário sertanejo, e seria uma honra tê-lo aqui, no palco, hoje à noite.

Henrique sentiu um frio na barriga. Era um convite inesperado, e ele não sabia se estava pronto para isso. Tocar novamente, cantar diante de tantas pessoas… O medo e a insegurança o dominaram por um momento.

— Eu não canto mais, Marcos — disse Henrique com um sorriso fraco. — Não me sinto preparado.

O homem olhou para ele, com uma expressão de compreensão, mas também de convicção.

— Eu entendo o que você passou, Henrique. Mas a cidade toda está ansiosa para ver você cantar de novo. Eles ainda falam das suas apresentações antigas, das suas músicas. Você ainda é lembrado. — Marcos fez uma pausa, observando o cantor com mais atenção. — Você tem algo que só você pode oferecer. Sua voz é única. Não é sobre o passado, é sobre agora. As pessoas querem ver você brilhar novamente.

Henrique ficou em silêncio, as palavras do homem ecoando em sua mente. Ele sabia que ainda tinha algo dentro de si, algo que podia ser revivido. Mas será que ele estava pronto para se expor novamente? Será que ele poderia encarar o palco sem a sombra da perda de sua esposa pairando sobre ele?

Isabela observava a troca de palavras com atenção. Ela sabia o quanto isso significava para Henrique, o quanto ele ainda guardava de dor, mas também percebia o quanto ele amava a música e como ela fazia parte de sua essência. Ela se aproximou dele, tocando suavemente em seu braço.

— Henrique, talvez esse seja o momento certo. — Ela disse com suavidade, os olhos brilhando com confiança. — Não precisa ser perfeito. Cante apenas por você. E por todos que ainda se lembram da sua música.

Henrique olhou para Isabela, sentindo o apoio dela. Ela estava ali, ao seu lado, confiando nele, acreditando nele. Ele respirou fundo, e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que talvez fosse possível voltar a se entregar àquilo que ele amava.

Ele olhou para Marcos, que aguardava ansioso, e, finalmente, sorriu.

— Tudo bem, eu vou. — Ele disse, com uma voz mais firme. — Vou cantar.

Marcos sorriu de orelha a orelha, a felicidade estampada no rosto.

— Perfeito! Então, estamos esperando por você, Henrique. O palco é seu, e a cidade inteira vai estar te aplaudindo.

Henrique olhou para Isabela uma última vez, agradecendo com um sorriso silencioso. Ele sabia que aquela noite seria um desafio, mas também sabia que, com o apoio de Isabela e o calor da cidade, ele poderia voltar a ser quem era antes, no palco e na vida.

— Vamos lá — ele disse, com mais confiança agora. — Vamos fazer isso.

E com isso, os dois se dirigiram para o palco, prontos para o que viria. Henrique estava prestes a reviver uma parte importante de sua vida, uma parte que ele havia esquecido por tanto tempo. Mas agora, com Isabela ao seu lado e a cidade esperando, ele estava pronto para cantar novamente, para se encontrar com seu passado e, talvez, criar um novo futuro.

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