O Que Vem Depois do Beijo

O sol da manhã invadiu o chalé de Isabela, iluminando os lençóis brancos da cama e aquecendo o ambiente. Ela despertou devagar, espreguiçando-se enquanto sua mente voltava à noite anterior. O beijo.

A lembrança da forma como Henrique a segurou, do toque quente dos lábios dele nos seus, da intensidade que ambos pareciam ter tentado evitar por tanto tempo... Tudo estava vívido demais. Ela suspirou, tentando afastar o turbilhão de emoções que insistia em tomar conta de si.

Precisava focar no trabalho.

Levantou-se, tomou um banho rápido e vestiu uma calça jeans confortável, uma blusa leve e suas botas. Prendeu o cabelo em um coque desajeitado e saiu para encarar o novo dia na fazenda.

### **Na sede da fazenda**

Henrique estava na varanda da casa principal, uma xícara de café nas mãos e o olhar perdido na imensidão dos campos. A noite anterior não lhe saía da cabeça. Ele não se arrependia do beijo, mas sabia que aquilo tinha mudado algo entre eles. Algo que ele não sabia se estava pronto para lidar.

Antônio surgiu na porta, observando-o por um instante antes de se aproximar.

— Noite difícil? — perguntou com um meio sorriso.

Henrique soltou uma risada curta, balançando a cabeça.

— Digamos que foi… inesperado.

Antônio estreitou os olhos, mas não insistiu. Conhecia Henrique o suficiente para saber quando ele estava lidando com algo complicado.

— Bom, hoje temos trabalho reforçado. O pessoal da entrega cancelou de novo, então alguém precisa buscar a ração na cidade.

Henrique assentiu, pronto para dizer que iria, mas foi interrompido por uma voz suave atrás deles.

— Se precisar de ajuda, posso ir também.

Ele se virou rapidamente e encontrou Isabela parada ali. Os cabelos ainda úmidos e os olhos brilhando sob a luz da manhã. Por um instante, Henrique ficou sem palavras, recordando o gosto dos lábios dela e a dificuldade que teve para ir embora na noite passada.

Antônio, percebendo o clima, coçou a nuca e pigarreou.

— Bem, se quiser mesmo ir, será de grande ajuda. Mas alguém precisa ficar para cuidar dos animais.

Henrique tomou um gole de café, ponderando.

— Eu vou no seu lugar, Antônio. Fique e cuide do que for preciso por aqui.

O funcionário arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Tem certeza?

— Sim — respondeu firme, antes de olhar para Isabela. — Se ela quiser, pode ir comigo.

Houve um momento de silêncio. Antônio segurou um sorriso discreto antes de dar de ombros.

— Como quiser, patrão. Só não esqueça de pegar as encomendas da dona Joana, senão ela aparece aqui para brigar com você.

Henrique riu baixo e assentiu.

— Pode deixar.

Isabela pegou sua bolsa e sorriu de leve.

— Então vamos.

### **Na estrada para a cidade**

A caminhonete avançava pela estrada de terra, o rádio tocando uma melodia sertaneja suave ao fundo. O clima dentro do carro estava carregado de algo indefinido – nem desconfortável, nem totalmente tranquilo.

Isabela olhou de soslaio para Henrique, que dirigia com uma mão no volante e a outra apoiada na janela aberta. Ele parecia concentrado, mas, de vez em quando, seus olhos discretamente a observavam.

— Então… foi uma noite inesperada? — ela quebrou o silêncio, sorrindo de lado.

Henrique riu baixo, balançando a cabeça.

— Você ouviu isso, né?

— Eu estava na varanda.

Ele soltou um suspiro divertido, sem tirar os olhos da estrada.

— Sim, foi inesperado. Não vou mentir.

— Para mim também — ela confessou, cruzando os braços.

Henrique virou o rosto para ela por um instante antes de voltar a focar na estrada.

— Isso é um problema?

Isabela ponderou por um momento antes de responder.

— Só se a gente fingir que não aconteceu.

Ele apertou os lábios, como se processasse as palavras dela.

— Eu não quero fingir.

Ela sentiu o coração acelerar.

— Então o que você quer?

Henrique não respondeu de imediato. A estrada à frente parecia infinita, assim como os pensamentos que tomavam conta dele. Ele não sabia se tinha as respostas para o que Isabela queria saber, mas uma coisa era certa: algo dentro dele estava mudando. E ela era a razão disso.

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