Capítulo 8

Música do Capítulo: A 9° Sinfonia de Beethoven (disponível na Playlist do Livro)

- Elise!

Ela virou rápido o rosto em direção à voz.

- Oi, Doutor Guilherme, bom dia! Posso ajudar? Foi até o médico parado em frente ao balcão da enfermagem.

- Bom dia, não tinha visto você ainda.

- Eu acabei de chegar, meu turno começou um pouco mais tarde hoje. Baixou os olhos buscando as fichas dos pacientes da manhã para revisar e começar a ronda conferindo as medicações.

- Fiquei sabendo que a senhorita andou prometendo uma surpresa por aí! Ele disse sorrindo. – Se hoje não fosse o dia dela sair eu ficaria bravo com você, Elise! Não pode criar tanta expectativa assim numa criança, quase precisei dar uma medicação para ela.

- Desculpe, doutor. Nem tinha imaginado isso, na verdade. Disse apertando os lábios. – Mas ela tinha me pedido desde que soube que tínhamos isso em comum e foi importante para o tratamento também, não pensei duas vezes em fazer isso.

- Está perdoada! Ele piscou para ela com um sorriso de lado. – Também estou ansioso pela surpresa, até mais tarde.

Elise deu um sorriso fraco para o médico que saiu pelo corredor em direção a um quarto.

- Esse homem é lindo! Ah, se me desse bola, mas ele só tem olhos para uma enfermeira desse hospital. Ela deu risada.

- Pode ir parando, Janaina! Não imagine coisas, estou aqui para trabalhar e a última coisa que passa pela minha cabeça é me envolver com alguém. Se acha ele bonito, invista nele, ué, quem sabe ele para de ser engraçadinho.

- OK, não tá mais aqui quem falou! Ergueu as mãos se rendendo.

- Vou começar a conferência desses pacientes aqui. Mostrou as fichas que estavam na prancheta em suas mãos. – Quero terminar logo para me preparar! Disse rindo nervosa e saindo dali.

- Vai ser lindo e sei que vou chorar! A colega disse indo para o outro lado.

Elise entrou no primeiro quarto com um sorriso no rosto, estava realizada como enfermeira. Fazer faculdade não foi nada fácil, mas no final ela conseguiu vencer e dona Helena tinha participação naquela conquista.

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Dona Helena e Elise construíram ao longo do tempo uma relação de avó e neta. Elise cuidou dela durante o tratamento com muita dedicação e um carinho que a senhora não esperava, mas aquilo que ela dava não aceitava receber de volta.

Elise tinha vencido vários traumas que sofreu enquanto estava com Maristela, mas não tinha aceitado ainda que era uma pessoa digna de ser amada. Ela parecia ter aceitado e cristalizado isso dentro de seu coração. Mudar esse pensamento ainda era uma das lutas para dona Helena, que nunca desistiria de mostrar isso à moça.

Durante a convivência entre as duas, dona Helena descobriu em Elise inúmeras qualidades e dons, dentre eles a inclinação para música. Como ela também tinha esse dom, fez questão de trazer isso para a vida da menina. Amante de música clássica e excelente violinista, fez questão de ensinar sua paixão pelo instrumento para Elise que se apaixonou pelas melodias à primeira vista.

Dona Helena ficava abismada a cada dia com o quanto Elise tinha talento e o quanto a música a tocava e ajudava a romper muitas barreiras emocionais que ainda existiam dentro dela. A senhora ficou ainda mais admirada quando percebeu que Elise era autodidata e nunca tinha presenciado em sua vida de violinista e amante de música clássica, alguém tão jovem que tocasse como ela.

- Bravo! Bravo! Dona Helena batia palmas empolgada enquanto ouvia Elise.

Elise nem notou que as lágrimas caíram sem parar enquanto tocava. Saiu do transe assim que a música acabou e ouviu as palmas da mulher em êxtase.

- Estou tão orgulhosa! Foi perfeito, Elise!

Ela sorriu como há tempos não fazia. Por alguns instantes sentiu que o vazio se foi e teve esperança.

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Elise terminou a sua ronda e correu para buscar o violino no seu armário, estava muito nervosa, tocaria para uma pessoinha muito especial e várias outras que ela queria agradar mais que tudo.

Pegou a caixa com o violino e saiu rápido pelo corredor em direção ao quarto de Luiza, uma paciente de oito anos que finalmente deixaria o hospital curada da sua leucemia.

Elise trabalhava como enfermeira no Hospital do Câncer da cidade, especificamente na ala das crianças. Era difícil para ela ver tantos rostinhos sofrendo com uma doença tão traiçoeira, mas se sentia realizada em poder servir dessa forma.

Aquele era um dia muito especial, tocaria para uma pequena admiradora de música clássica e futura violinista. Saber que Elise tocava o instrumento fez toda a diferença no seu tratamento, dando ânimo para a criança.

A menina saiu do quarto vestida com a roupa da princesa Elza, saltitando em direção ao sino que tocaria como forma de dizer para todos que tinha vencido a batalha. Olhou para os lados em busca de Elise que assim que a viu começou a tocar uma sinfonia que as duas adoravam. A Nona Sinfonia de Beethoven.

Quando a pequena ouviu a melodia tocou o sino com ainda mais força e depois correu para perto de Elise admirando a amiga tocando como se fosse uma estrela.

Elise fechou os olhos e se deixou levar pela música, tocou com ainda mais amor, queria que todos ali sentissem a felicidade e o significado daquele momento tão importante.

Assim que terminou se abaixou para receber o abraço da menininha.

- Obrigada, Elise! Eu amei! Luiza deu um beijo molhado na bochecha de Elise.

- E eu amei tocar para você, anjinho! Deu um beijo na testa da menina.

Ela só prestou atenção ao seu redor quando ouviu os assobios de quem assistia. Olhou para os lados vendo que muitas pessoas estavam ali aplaudindo sem parar. Sorria para todos curvando o corpo em agradecimento. Não percebeu quando uma senhora muito bonita chegou perto, estava vestida com uma espécie de vestido que era lindo e um lenço combinando.