Capítulo 20

Entrei no escritório e fechei a porta atrás de mim com mais força do que pretendia. Meu peito ainda estava agitado, e minha mente, um caos. A sensação de tê-la nos braços, tão próxima, ainda queimava em mim como uma maldição que não conseguia apagar.

Eu me joguei na poltrona próxima à lareira, as chamas tremeluzindo enquanto iluminavam o ambiente escuro. A raiva que eu sentia por ela parecia sem fim, mas havia outra coisa, algo que não conseguia nomear. Algo que me enfurecia ainda mais.

Quando a vi se jogar daquela escadaria, por um breve momento, pensei em deixá-la cair. Em ver o que aconteceria se ela fosse apenas um corpo inerte no chão. Mas meu corpo agiu antes que minha mente tivesse qualquer controle, e me lembrei que se ela morresse, eu também morreria. Mas eu não estava nem aí, eu não tinha um motivo para ficar aqui nesse mundo. Mas como eu disse, um impulso me fez salvá-la mas uma vez.

E, no momento em que a segurei, senti como se o tempo tivesse parado.

Seu cheiro, sua respiração, a forma como ela olhou para mim... tudo me transportou para aquele mundo cruel do que um dia tivemos e do que nunca mais teríamos.

— Maldita humana — murmurei para mim mesmo, apertando o braço da poltrona com tanta força que a madeira estalou.

Eu queria odiá-la. Não, eu a odiava. Mas o problema era que o ódio não era suficiente para silenciar o que eu sentia.

Não importava o quanto ela dissesse que não tinha culpa. O rosto dela, os olhos, a maneira como falava, tudo era um reflexo do passado que me atormentava.

Levantei-me abruptamente, incapaz de permanecer parado. Peguei a taça de sangue que estava sobre a mesa e a joguei contra a parede, o líquido vermelho escorrendo como se fosse uma ferida aberta.

— Você nunca vai me libertar, não é? — perguntei, como se ela pudesse me ouvir mesmo de longe.

Eu não suportava mais. Precisava confrontá-la. Precisava fazer com que ela entendesse o peso do que havia feito, mesmo que precisasse distorcer a verdade para que ela sentisse pelo menos uma fração da dor que eu carregava. Eu queria vê-la sofrer e chorar, como uma humana frágil que ela é.

Saí do escritório com passos firmes, a raiva fervendo dentro de mim. Parei na sala, ela não estava mais lá, então subi as escadas e parei diante da porta do quarto dela. Não me dei ao trabalho de bater.

Empurrei a porta com força, e ela se virou para mim, surpresa.

— Draven? — perguntou, fechando a toalha ao redor do corpo, ela havia acabado de sair do banho, o cheiro bom do sabonete em seu corpo, despertou mais a minha ira.

— Chega de mentiras, Luci — disse, minha voz mais fria do que pretendia, virando o meu rosto para não olhá-la. Eu não sabia mais o que dizer, ao vê-la daquela forma, acabei me perdendo nas palavras.

— Sobre o quê? O que falamos agora pouco?

— Sim.

— Eu não estou mentindo — respondeu ela, cruzando os braços. — Eu sei o que vi, o que senti. Eu me lembro de algumas coisas. Nós éramos felizes.

Eu ri, um riso cheio de ódio.

— Felizes? — perguntei, dando um passo à frente, sem perceber — Você tem ideia de quão ridículo isso soa? Não houve felicidade humana. Não houve amor, não ouve nada do que você sonhou.

— Por que está dizendo isso? — ela perguntou, sua voz carregada de confusão. — Eu vi. Nos meus sonhos, nas lembranças... eu vi como você me olhava. Vi como nós éramos...

— Sonhos — cortei-a, com um tom de desprezo. — Foi apenas sonhos, o problema é que você está tentando fantasiar um romance que não existiu. Nada disso foi real, ver se acorda desse seu sonho, porque nada disse aconteceu e nunca vai acontecer.

Ela balançou a cabeça, seus olhos marejados.

— Você está mentindo, está sendo cruel.

— Eu? Mentindo? Sendo cruel? — dei mais um passo à frente, meus olhos fixos nos dela. — Você é a única mentirosa aqui, Luci. Você sempre foi. Você foi a única cruel aqui, quando segurou a estaca. Você me matou, isso sim, é crueldade.

Ela recuou, suas mãos tremendo.

— Não... eu... não fui eu.

— Foi você — afirmei, sem hesitação. — Você acha que pode jogar a culpa em outra pessoa? Que pode fingir que foi outra mulher? Eu vi você, diante de mim naquela noite.

— Eu estava desmaiada! — gritou ela, a voz cheia de desespero. — Eu vi... eu me lembro. Eu estava no jardim quando tudo aconteceu. Você tem que acreditar em mim.

— Por que deveria acreditar? Você sempre foi boa em fingir, em manipular. Por que seria diferente agora? — minha voz estava cheia de amargura.

Luci deu mais um passo para trás, como se minhas palavras fossem golpes físicos.

— Por que toda as vezes que estou em apuros, você me salva? não é só medo de morrer, Draven. Eu sei, eu sinto que você ainda sente algo, mas não quer dá o braço a torcer.

Eu fiquei em silêncio por um momento, as palavras dela perfurando minha armadura. Mas não deixei que ela visse isso.

— Porque estamos ligados — respondi, a voz fria. — Sua morte seria minha. Não há nada mais do que isso. Eu te salvei porque não quero morrer com você, não merece tal sacrifício. E se você tem que pagar pelo que fez comigo, tem que fazer isso em vida, e eu serei para sempre o seu carrasco.

Ela ficou me olhando, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto.

— Você está mentindo para si mesmo — murmurou, sua voz cheia de dor. — Você diz que me odeia, mas eu sei que ainda sente algo. Eu vejo isso em seus olhos, Draven. Você não consegue esconder.

Dei um passo à frente, segurando seu queixo com força para que me olhasse diretamente.

— O que eu sinto? Quer que eu repita o que te falei hoje? Então vamos lá. Eu sinto nojo. Sinto ódio. E acima de tudo, sinto asco por ter que aguentar você, por ter você no mesmo teto que eu, por sua existência. — Rosnei, minha voz cheia de ódio.

Ela me encarou, seus olhos fixos nos meus, mas não disse nada. Finalmente, soltei seu rosto e me afastei, virando as costas.

— Isso é tudo que você precisa saber — finalizei, caminhando até a porta.

— Se você não sente nada, por que se incomoda tanto? Por que se esforça tanto para me fazer pagar? Simplesmente me deixe morrer, sei que você não tem motivos para continuar aqui nesse mundo, acabe de uma vez com isso. — disse ela, fungando.

Eu parei, mas não me virei, e nem fiz questão de respondê-la. Sai do quarto, e fechei a porta atrás de mim.

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Comments

Maria Sena

Maria Sena

Esse aprendiz de vampiro é masoquista, gosta de sofrer e quer que a Lucy também sofra junto com ele. O safado covarde tem até medo de morrer e fica tentando se convencer que salva ela pra ele não morrer. Oh inferno cheio de mequetrefes metido a vampiros hem?

2025-02-13

0

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

um vampiro incompetente que deixa o ódio afastar a sua inteligência e não procura descobrir a verdade.

2025-01-20

4

Dulce Tavares

Dulce Tavares

dá pra Matar esse vampiro de meia tigela

2025-01-20

1

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