Capítulo 6

O escritório era o único lugar da mansão onde eu me sentia completamente à vontade. Nenhuma luz desnecessária, apenas o brilho suave de um abajur no canto, o suficiente para iluminar as paredes forradas de livros antigos. A escuridão era minha companheira fiel, uma amiga que fazia parte de mim tanto quanto o sangue que circulava nas veias.

Sentei-me na poltrona de couro, uma taça de cristal equilibrada entre meus dedos. O líquido vermelho-escuro brilhava sob a luz tênue, viscoso e hipnotizante. Era sangue fresco, retirado de um estoque cuidadosamente mantido na geladeira ao lado da mesa. Não há prazer maior do que saborear esse líquido vital em momentos de silêncio absoluto, quando o mundo parece se afastar e só resta a eternidade.

Enquanto tomava um gole, meus pensamentos começaram a vagar. Passei os últimos dias imersos nos preparativos do casamento, observando cada detalhe com a paciência de um caçador. Tudo estava no lugar, exatamente como deveria ser. Mas, naquela noite, enquanto a taça esvaziava lentamente, minhas memórias me puxaram para um passado distante, um emaranhado de traições, morte e renascimento.

Lucianna. Seu rosto ainda estava gravado em minha mente como uma cicatriz. A mulher que um dia prometeu ser minha parceira eterna, mas que me traiu de forma tão vil. Cada momento de planejamento desse casamento era uma lembrança de que a vingança estava ao meu alcance, e eu saborearia cada segundo dela, como saboreava o sangue que deslizava pela minha garganta.

Foi então que o som do telefone quebrou o silêncio. Ele estava sobre a mesa, vibrando suavemente, a tela iluminada com o nome de Luci. Embora eu na saiba mexer nessa coisa, eu aprendi somente o básico, atender ligações, somente isso e mais nada.

Minha sobrancelha arqueou, e por um momento, apenas fiquei encarando a tela. Atender ou não? Ela raramente ligava, e sua ligação naquele momento parecia inconveniente. Meu instinto foi ignorar, mas a curiosidade venceu.

Peguei o telefone, deslizei o dedo pela tela e levei-o ao ouvido.

— Luci? — perguntei, minha voz fria.

Mas não era ela.

— Draven, aqui é Ana, uma das colegas de trabalho da Luci. Estou ligando porque… bem, ela está em um estado deplorável. Desmaiou no banheiro, bêbada. Não sabemos o que fazer com ela, e você é o único que poderia ajudá-la. Bem, você sabe que não temos forças, como um homem, para tirá-la daqui, e o mais certo a ser feito, foi ligar para o noivo dela, já que você está salvo como contato de emergência.

Fechei os olhos e revirei-os, quase sorrindo diante da situação patética. Porque além de uma humana fraca e irritante, ela ainda é pé de cana, cachaceira.

— Entendo — respondi com um suspiro forçado. — Estou indo.

Encerrei a ligação e olhei para a taça quase vazia. O líquido restante reluzia como rubis líquidos, e eu o balancei lentamente, brincando com sua textura antes de tomar o restante com calma, saboreando cada gota.

— Patético — murmurei para mim mesmo, enquanto me levantava.

Não havia motivo para pressa. Luci poderia estar jogada no chão do banheiro ou até no meio da rua; isso pouco importava para mim. Por que eu deveria me importar com alguém que, em outra vida, me cravou uma estaca no coração?

Maldita seja!

Alguns minutos depois, cheguei ao toalete feminino da escola, onde a cena era, no mínimo, caótica. Três professoras estavam ao redor de Luci, que estava desmaiada no chão. A maneira como elas me olharam ao entrar, olhos arregalados pela rapidez com que apareci, foi quase engraçado.

— Como você chegou aqui tão rápido? — uma delas perguntou, incrédula.

— Eu estava por perto — menti, fingindo preocupação. — Por favor, deixem-me cuidar dela.

Peguei Luci nos braços com facilidade, sentindo seu corpo mole e vulnerável. Fingi preocupação genuína, mas, por dentro, o desprezo fervia.

Saí rapidamente, deixando as mulheres atônitas. Assim que virei a esquina da escola, me teletransportei para um lugar deserto: uma ponte alta e desolada.

A noite estava fria, e o vento uivava enquanto eu olhava para baixo. Daqui até o rio pedregoso, havia cerca de 60 metros. Um cálculo rápido me disse que, se eu simplesmente deixasse Luci cair, seria o suficiente. Tudo acabaria. Da forma como ela está, no mínimo acordaria no inferno, e não saberia quem a jogou daqui de cima.

— Simples, rápido — murmurei para mim mesmo, observando-a em meus braços.

Mas não. Isso seria fácil demais.

Eu sabia que ela era Lucianna, reencarnada, mesmo que ela mesma não soubesse. O destino havia me dado a oportunidade de retribuir o que ela fez comigo, mas não seria dessa forma. Eu faria o mesmo que ela fez comigo: destruir cada pedaço de sua vida antes do golpe final.

Minha mandíbula se contraiu enquanto respirava fundo, ajustando minha expressão. Não era hora de terminar o jogo. Ainda havia muito o que fazer. Não cheguei até aqui, simplesmente para dar a ela uma morte tão fácil.

Com um piscar de olhos, estava diante da porta da mansão Mellius. O perfume de Luci, doce e floral, exalava enquanto eu a segurava nos braços. Apertei os lábios, irritado, tentando evitar respirar.

— Praga cheirosa — murmurei entre dentes, incapaz de ignorar o aroma que parecia impregnar a minha pele. Se bem que eu poderia cravar meus dentes nela, mas sinto nojo do sangue dessa traidora.

Por um momento, considerei tocar a campainha e simplesmente deixá-la na porta. Seria mais fácil. Mas, antes que pudesse decidir, a porta se abriu, revelando seus pais.

— Draven! Oh, meu Deus, o que aconteceu? — Claire perguntou, alarmada, enquanto Edward, ao seu lado, olhava fixamente para Luci em meus braços.

— Ela desmaiou durante a festa, bebeu muito — respondi, com uma voz calculadamente gentil. — Achei melhor trazê-la para casa.

— Obrigada, Draven. Suba, por favor. Coloque-a no quarto — Claire pediu, e eu assenti.

Subi as escadas, tentando ignorar o perfume dela, que parecia se intensificar em sua fragilidade. Quando cheguei ao quarto, empurrei a porta com o pé e entrei, colocando-a suavemente na cama, quando eu queria, com todas as forças, jogá-la de uma vez, como se fosse algo qualquer.

Fiquei ali por um momento, observando-a. Seu rosto parecia tranquilo, mas eu sabia que, por trás daquela aparência inofensiva, havia uma alma que já havia sido capaz de matar.

— Logo, Lucianna — murmurei, minha voz maliciosa quase inaudível. — Você entenderá o verdadeiro significado de sofrimento. Você vai se apaixonar perdidamente por mim, vai me amar como eu te amei, e depois, vou te destruir lentamente.

Acenei com a cabeça, e saí do quarto, ajustando minha expressão para algo mais neutro antes de descer as escadas, e me despedi dos meus sogros. Amanhã será o grande dia para Luci, enquanto para mim, será o dia em que terei minha vingança e mostrarei à minha querida noiva, o que é o verdadeiro inferno na terra.

Mais populares

Comments

Anonyamor

Anonyamor

Até desvendar todo esse mistério a coitada da Luci irá sofrer muito sem se lembrar o pq de tudo isso

2025-04-01

0

Maria Sena

Maria Sena

O Draven já fez da vingança um mantra pra tentar convencer o coração de homem que a Lucy é a Luciana. Agora diz que ela vai se apaixonar por ele como se com ele não pode acontecer o mesmo. Eu acho que esse vampiro tá mais perdido que cego em meio ao tiroteio.

2025-02-12

1

Vanda Belem

Vanda Belem

Gente, eu também tô achando que a Luci não foi responsável pela morte do Draven no.passado

2025-02-11

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!