Capítulo 17

Desci as escadas com passos firmes, sentindo um peso sufocante no peito. As palavras que ouvi minutos antes ainda ecoavam na minha mente, como um pesadelo impossível de esquecer. Quando alcancei o salão, vi Draven parado próximo à janela, com o olhar distante. Assim que percebeu minha presença, ele desviou os olhos para mim e, em silêncio, caminhou até a lareira. Com um movimento deliberado, acendeu o fogo, e as chamas lançaram uma luz suave sobre seu rosto, destacando suas feições duras e inabaláveis.

Ele virou a cabeça lentamente ao ouvir meus passos. Seus olhos dourados encontraram os meus, mas sua expressão era indecifrável.

Parei no meio da sala, incapaz de segurar a dor que estava queimando dentro de mim, e as lágrimas que ardiam em meus olhos, mas não era de tristeza, e sim de raiva.

— Então é por isso que não me matou? — perguntei, minha voz trêmula, carregada de indignação. — Porque, se fizesse isso, você também morreria?

Draven ficou em silêncio por um momento, analisando-me com aquele olhar frio que eu começava a odiar. Finalmente, ele suspirou e cruzou os braços.

— Você não deveria ter descido — disse ele, a voz baixa, quase indiferente.

— E você não deveria ter mentido! — retruquei, dando um passo à frente. — Eu ouvi você, Draven! Cada palavra. Tudo o que eu precisava saber sobre o que realmente pensa de mim. Esse casamento, tudo isso... foi apenas uma vingança, não foi? Você premeditou tudo, desde o começo.

Ele estreitou os olhos, seu rosto se fechando como uma muralha.

— E o que você esperava? — perguntou ele, sua voz finalmente ganhando um tom mais cortante. — Que eu simplesmente esquecesse tudo o que aconteceu? Que eu ignorasse o passado? O quanto você foi assassina e cruel?

— Eu não sou a pessoa que você acha que eu sou! — gritei, sentindo a garganta apertar. — Eu nem sei se sou essa mulher, Draven. Eu posso não ser ela. Por que não consegue entender isso? Se eu fosse ela, eu teria me lembrado de alguma coisa. — vociferei, tentando me convencer disso. Eu não queria ser ela, então existe essa chance. Não faço mal a nenhuma formiga, não me imagino assassinado alguém.

Ele deu um passo em minha direção, o olhar dourado queimando com algo entre raiva e frustração. Ergueu o meu queixo, e me olhou no fundo dos meus olhos.

— Você pode não lembrar — começou ele, a voz gélida — mas o que você fez está gravado em mim para sempre. Você me traiu. Me matou. Você me destruiu.

Aquelas palavras foram como uma faca no meu peito. Eu recuei um passo, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.

— E você é melhor do que eu, então? — retruquei, tentando conter as lágrimas. — Você prometeu me amar, independente do quê acontecesse, me disse isso diante de todos, mas tudo foi uma mentira, não foi? Você nunca me amou de verdade.

Ele balançou a cabeça, os lábios curvados em um sorriso amargo.

— Eu amei a mulher que você era, mas essa mulher me apunhalou pelas costas. Você acha que é fácil olhar para você agora e ver o mesmo rosto, o mesmo sorriso, sabendo o que fez? Por isso digo que humanos tem cérebro, mas não usam.

Minha raiva borbulhou até a superfície.

— E o que você acha que eu sinto? — perguntei entre dentes — Eu confiei em você. Acreditei que o que tínhamos era real. Mas agora vejo que tudo não passou de um jogo cruel para me fazer pagar por algo que nem sei se realmente fiz!

Draven virou o rosto, como se estivesse tentando evitar minhas palavras. Mas eu continuei, incapaz de me conter.

— Você é um mentiroso. Um manipulador — acusei, aproximando-me dele. — Você disse que me amaria, não importa o quê. Que estaríamos juntos, mesmo diante de qualquer desafio. Mas no momento em que teve a chance, escolheu o ódio.

Ele se virou para mim, o rosto endurecido, mas os olhos brilhavam com mágoa?

— Você não entende? Você não sabe o que é viver séculos com a dor de uma traição. O que é ser condenado a reviver tudo isso ao olhar para você todos os dias.

— E você acha que eu sei o que é viver assim? — retruquei, minhas palavras carregadas de amargura. — Ser usada, manipulada, e depois descartada como se minha vida não tivesse valor?

Draven abriu a boca para responder, mas eu o interrompi.

— Você acha que é o único que sofreu? — perguntei, minha voz ficando mais alta. — Acha que tem o direito de me tratar assim porque acredita que sou culpada? Eu te amei, Draven. Apesar de tudo, eu te amei. E agora... agora eu te odeio com cada parte de mim. Entendeu? Eu te odeio, vampiro de merda.

Ele ficou em silêncio, e pela primeira vez, vi algo em seus olhos. Não era ódio. Não era raiva. Era algo mais profundo, mas que ele parecia lutar para esconder.

— Então estamos quites — disse ele, finalmente, a voz seca.

Eu respirei fundo, tentando conter as lágrimas que já escorriam pelo meu rosto. Queria acreditar no que disse, queria realmente odiá-lo, mas sabia que era uma mentira. Mesmo agora, depois de tudo o que ouvi e de tudo o que ele fez, uma parte de mim ainda o amava.

— Você pode pensar o que quiser — murmurei, recuando em direção às escadas. — Mas um dia, Draven, vai perceber que o ódio que você sente não te liberta. Ele só te prende ainda mais ao passado.

Ele não respondeu, apenas ficou me observando enquanto eu subia as escadas.

Quando entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim, senti meu corpo ceder. Minhas pernas fraquejaram, e caí no chão, segurando o rosto entre as mãos enquanto as lágrimas caíam livremente, e meu corpo tremia pelo choro.

Tudo dentro de mim estava em pedaços. A dor de suas palavras, o peso de suas acusações, tudo parecia impossível de suportar. Eu sonhei tanto com esse casamento, fazendo planos para nós dois, e tudo isso não passou de sonho ou um pesadelo.

Mas o pior de tudo era a verdade que eu não podia negar.

Eu ainda o amava.

Mesmo agora, com toda a mágoa, com toda a raiva, eu sabia que meu coração ainda pertencia a ele. E isso me destruía mais do que qualquer palavra que ele pudesse dizer.

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Comments

Maria Sena

Maria Sena

Sabe o que desejo de verdade pra esse ser sobrenatural? É que a Luciana dele tenha botado chifres com o melhor amigo vampiro dele. Não vejo castigo maior pra esse mequetrefe.

2025-02-13

0

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

infelizmente Luci o verdadeiro amor não se transforma em ódio em tão pouco dias, foram dias ou melhor um ano amando um homem que se mostrou gentil e companheiro.

2025-01-20

2

claudia gomes

claudia gomes

gnt e se nao foi Ela quem matou ele? e se foi a outra mulher que apareceu pra Ela?

2025-04-11

0

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