Capítulo 18

As lágrimas finalmente me venceram. O cansaço tomou conta de mim enquanto eu estava deitada na cama, apertando o travesseiro como se ele pudesse afastar a dor esmagadora que parecia me consumir. As palavras de Draven não paravam de ecoar na minha mente, e o peso do que ouvi era insuportável.

Eu não sabia o que era mais cruel: o fato de ele nunca ter me amado ou a crescente certeza de que eu realmente era culpada por tudo o que ele dizia. Eu não acreditava nessa questão de reencarnação, mas contudo que vinha acontecendo, estou acreditando que isso é possível.

Fechei os olhos, e o silêncio do quarto me envolveu. Não consegui segurar os soluços, mas, eventualmente, o cansaço venceu, e adormeci. Foi um sono conturbado, mas diferente. As imagens não vieram como sonhos. Elas vieram como memórias.

De repente, me vi no meio de um salão iluminado por candelabros dourados. O ar estava cheio de música e risadas, e o som abafado de conversas ecoava pelas paredes decoradas com cortinas de veludo. Máscaras de todas as formas e tamanhos cobriam os rostos dos convidados, cada uma mais elaborada que a outra.

Eu olhei para baixo e vi o vestido que estava usando. Era longo, de seda e renda, com detalhes dourados que refletiam a luz de forma quase mágica. Minhas mãos seguravam uma máscara delicada, adornada com pérolas e penas brancas. Aquilo parecia uma festa de outro tempo, mas, ao mesmo tempo, sentia que eu pertencia àquele lugar.

— Lucianna — uma voz familiar chamou atrás de mim.

Virei-me e o vi. Draven estava ali, da mesma forma como ele é hoje, parece nunca envelhecer. Ele usava um terno negro impecável, com uma máscara simples que mal escondia seus olhos dourados, que brilhavam com uma intensidade que parecia acender uma chama dentro de mim.

— Está tudo bem? — ele perguntou, inclinando-se ligeiramente em minha direção.

Eu sorri, mas minha voz saiu distante, como se não fosse completamente minha.

— Sim. Está.

Ele ergueu minha mão e colocou-a em seu braço, me guiando por entre os convidados até um canto mais tranquilo. Seu toque era quente, e o olhar que ele me lançou estava cheio de afeto.

— Você está deslumbrante, como sempre — disse ele, um sorriso sincero nos lábios.

Eu senti meu coração se apertar. Não porque estivesse com medo, mas porque aquele Draven era tão diferente do homem frio que conheci nesta vida. Ele parecia tão humano.

— Obrigado — respondi, mas antes que pudesse dizer mais, uma risada alta o chamou.

Draven se virou, e ali estavam Rhaziel e outros homens, rindo e segurando taças de vinho. Eles estavam ao redor de uma mesa, jogando algo que parecia ser um jogo de apostas.

— Vou me juntar a eles por um momento — disse Draven, beijando suavemente minha mão. — Você vem?

— Não, pode ir lá. — mostrei um sorriso tranquilo.

— Não demoro.

Eu assenti, observando enquanto ele se afastava para se juntar aos amigos, e também participar do rodízio de bebidas.

Quando ele estava ali com os amigos, eu me senti inquieta, uma sensação estranha de perigo que não sabia de onde vinha. Decidi sair para o jardim, onde o som da música e das conversas era apenas um eco distante.

A noite estava fria, mas o ar fresco era um alívio. O céu estava claro, cheio de estrelas que brilhavam como se nada no mundo pudesse ser mais tranquilo. Caminhei lentamente pelo caminho de pedras, respirando fundo e tentando afastar aquela sensação desconfortável.

Mas então, senti algo.

Um calafrio percorreu minha espinha, e uma sensação de ser observada tomou conta de mim. Antes que pudesse reagir, uma mão fria agarrou meu braço.

Eu tentei me virar, mas meu corpo começou a fraquejar. Vi a sombra de uma figura feminina, mas seu rosto estava escondido por uma máscara.

— Lucianna — ela sussurrou, com uma risada maliciosa que ecoava na minha mente.

Antes que pudesse gritar ou reagir, ela tapou minha narina com um pano, e tudo escureceu.

Eu consegui acordar minutos depois, com a cabeça rodando, e mesmo tropeçando, consegui sair de trás de um balcão abandonado, e, com o coração acelerado, enfrentei os vampiros que estavam vigiando a porta. Lutei com a força que me restava, os golpes rápidos e cruéis, até que, finalmente, consegui abrir caminho.

Quando estava quase alcançando o local da festa, ouvi passos atrás de mim. Olhei por cima do ombro e lá estava ela, a mulher que me havia atacado no jardim, vindo em minha direção, ela parecia eu, estava vestida na mesma roupa e tinha o mesmo rosto.

Antes que eu pudesse reagir, ela se aproximou rapidamente e me segurou, não com as mãos, mas com uma força invisível. O ar desapareceu dos meus pulmões, e minha visão começou a ficar turva.

— Seu amado achou que eu era você — ela disse, com uma voz suave, mas repleta de veneno. — E adivinha? Eu o matei com uma estaca, e deixei todos verem meu rosto. Ops, seu rosto. Ou seja, você é a assassina que eles estão procurando.

Eu não conseguia respirar, mas as palavras dela penetravam como lâminas afiadas. Cada frase era um golpe que me fazia afundar ainda mais no abismo de dor e desespero.

Ela riu, um som baixo e sinistro, e de repente, puxou um canivete. O metal refletiu a luz de forma ameaçadora. Naquele momento, a realidade parecia me escapar como areia entre os dedos. Eu sabia que Draven não estava mais no meu mundo, e a verdade me esmagava como um peso insuportável.

Sem forças para lutar, sem vontade de continuar, olhei para ela, meu corpo tremendo. O desejo de desaparecer de tudo era tão forte que nem mesmo a dor física parecia importar. Eu só queria que ela me matasse de uma vez, já que Draven não estava mais no meu mundo, para mim, não fazia sentido continuar viva.

— Mate-me — sussurrei com dificuldade — acabe de uma vez com isso.

Ela me olhou com um sorriso cínico, e, com a lâmina do canivete em mãos, a última dor que senti, foi o corte em minha garganta, seguido pela escuridão.

Acordei de repente, ofegante e com o corpo coberto de suor frio. Minhas mãos ainda tremiam, e meu coração batia tão rápido que parecia que ia sair do peito.

Não era mais um sonho. Eu sabia disso. Era uma lembrança. Uma lembrança triste e dolorosa.

Fiquei deitada por alguns minutos, encarando o teto, tentando organizar meus pensamentos. A festa de máscaras, o jardim, a mulher que me atacou… tudo fazia sentido agora.

Fechei os olhos, tentando lembrar mais. Forcei minha mente a voltar para aquele momento, mas parecia que algo me impedia de acessar a parte final. Eu sabia que Draven havia sido morto naquela noite, mas não conseguia lembrar quem realmente segurou a estaca, quem era aquela mulher.

— Por que não consigo lembrar? — murmurei para mim mesma, frustrada.

Eu não tinha para onde fugir, eu sou Lucianna. Não importava o quanto tentasse negar, as memórias não mentiam. A melhor parte de tudo, é que não fui eu quem matou Draven, mas aquela mulher que se passou por mim, cujo rosto é um mistério.

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Comments

Jane Silva

Jane Silva

ahhhh acertei no pensamento, se disfarçaram

2025-01-17

4

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

a bruxa além de matar Draven matou também Luciana no mesmo dia

2025-01-20

1

Maria Das Neves

Maria Das Neves

Eu tinha certeza que não foi ela que matou ele

2025-01-19

2

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