A manhã chegou tranquila, com um silêncio quase perturbador. Quando acordei, os primeiros raios de sol entravam pelas frestas da janela, iluminando o quarto com uma luz suave. Levantei-me, vestindo uma roupa simples que encontrei na mala e fui até a cozinha, onde Draven já estava sentado à ponta da mesa. Ele deixou a porta destrancada, mas com a condição de que eu o obedecesse e não fizesse muitas perguntas.
Ele segurava uma taça em mãos, o líquido vermelho que brilhava sob a luz do dia me chamou a atenção. Não havia dúvidas do que era.
— Você toma muito sangue ao dia — comentei, tentando quebrar o silêncio que parecia me sufocar, eu não queria nem saber qual pobre humano teve azar de cruzar o caminho de um vampiro como Draven.
Draven levantou os olhos da taça e me olhou com aquele par de olhos amarelos intensos, que pareciam atravessar minha alma. Ele não respondeu de imediato, mas seu olhar carregava algo entre desdém.
— Sim — respondeu ele finalmente, com um tom levemente irônico. — Ou você prefere que eu sugue o seu sangue até não restar vida em você? Porque, afinal, você é humana, e sem contar que eu faria isso numa boa.
A frieza em sua voz me deixou desconcertada, mas o que me surpreendeu foi o tom provocativo, como se ele quisesse testar minha paciência.
Decidi ficar em silêncio, embora minha mente estivesse cheia de perguntas. Terminei meu café o mais rápido que pude, sentindo o peso de seu olhar ocasional sobre mim. Quando ele terminou, levantou-se da mesa sem dizer mais nada e saiu da cozinha, fechando uma porta com força atrás de si.
Depois do café, decidi explorar a casa. Não podia mais ficar apenas no quarto ou na cozinha, esperando por algo que talvez nunca viesse. Eu precisava entender onde estava e, talvez, descobrir uma maneira de sair dali.
A mansão era enorme, com corredores longos e mal iluminados, cheios de portas que levavam a lugares desconhecidos. Algumas estavam trancadas, mas outras se abriram facilmente, revelando quartos empoeirados, estantes de livros antigos e móveis cobertos por lençóis.
Enquanto explorava, algo chamou minha atenção: um livro estava ligeiramente desalinhado na estante. Caminhei até ele com a intenção de ajeitá-lo, mas, assim que o toquei, uma porta oculta se abriu atrás da estante, o som baixo e rangente me fez recuar, surpresa. A passagem estava entreaberta, revelando uma escada estreita que descia para um andar inferior. Meu coração acelerou, e, pela primeira vez, senti um calafrio percorrer minha espinha. Era como se algo naquela escuridão me convidasse a entrar, mesmo que cada instinto dissesse para eu recuar.
Entrei e desci as escadas devagar, sentindo o ar ficar mais frio a cada passo. O porão estava iluminado apenas por pequenas frestas de luz que entravam pelas janelas cobertas de poeira. No centro do espaço, havia uma mesa antiga com um livro grosso e envelhecido.
Me aproximei hesitante, mas a curiosidade era mais forte do que o medo. Quando abri o livro, percebi que era um diário. As páginas estavam repletas de anotações em uma caligrafia elegante e recente.
A primeira frase que li fez meu coração parar:
"Fui traído pela única pessoa que achei que me amava, e toda vez que me lembro, fico irritado.
Continuei lendo os fragmentos das palavras de Draven me levando para um passado que eu não conhecia, mas que parecia estar de alguma forma conectado a mim. Ele descrevia momentos de amor e felicidade, seguidos por uma traição brutal.
Ela segurou a estaca com as próprias mãos, sem hesitação. Cravou-a no meu peito, destruindo não apenas meu corpo, mas tudo o que acreditava ser verdade.
Minhas mãos tremiam enquanto lia. Não fazia sentido, mas as palavras dele estavam cheias de uma dor tão profunda, que eu podia senti-la em cada linha que lia. Aquelas palavras foram escritas recentemente, não tinha como ser escritas antes.
Ao lado do diário, encontrei uma pilha de fotografias e quadros cobertos por panos empoeirados. Quando puxei o pano do primeiro quadro, quase caí para trás.
Era eu naquela pintura.
Ou, pelo menos, uma versão de mim. O vestido era de outra época, e o cabelo estava preso em um penteado elaborado, mas o rosto era exatamente o mesmo.
Puxei o pano de outro quadro e vi outra pintura, desta vez com Draven ao meu lado, seu olhar cheio de afeto enquanto segurava minha mão. Meu coração parecia querer explodir.
— Isso não pode ser verdade — sussurrei para mim mesma, mas tudo ao meu redor dizia o contrário. — O que eu fiz com você? — as lágrimas passeavam pelo meu rosto.
A sensação de desespero tomou conta de mim. Eu precisava sair dali, precisava respirar, precisava fugir.
Subi correndo as escadas, deixando o diário e os quadros para trás. Passei pela cozinha e por corredores que já conhecia até encontrar a porta que levava ao lado de fora.
Corri sem olhar para trás. O vento batia contra meu rosto, e minhas lágrimas eram levadas junto com ele. Minha mente estava uma confusão de pensamentos, mas a única coisa que importava era fugir, era ficar longe daquela verdade dolorosa.
Depois de correr por alguns minutos, cheguei a uma ponte velha que se projetava parcialmente sobre as águas. Parei, ofegante, e olhei ao redor. Ao longe, o mar parecia infinito, e uma nuvem, que mais se assemelhava a fumaça, flutuava sobre o mar. A ponte, no entanto, terminava abruptamente na metade do caminho, como se tivesse sido abandonada ou nunca concluída, ou seja, eu não tenho para onde ir.
— Não tem como sair? — murmurei cansada, tentando encontrar um caminho que pudesse finalmente me tirar dali.
— Não vai conseguir sair daqui.
Virei-me rapidamente, e lá estava ele. Draven estava parado, com as mãos nos bolsos.
— Estamos em uma ilha — disse ele, e seu tom era quase casual. — Como ver, estamos em um continente.
Ele foi se aproximando de mim aos poucos, e na medida em que eu fui me afastando, os meus pés tropeçaram na borda da ponte. Perdi o equilíbrio e caí na água gelada abaixo de mim.
A última coisa que ouvi antes de tudo se apagar foi a risada baixa de Draven, ecoando na minha mente como um pesadelo.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Maria Sena
Noooossa mãe, Deus me livre de cruzar com um ser desse, o que ele tá fazendo com ela é matando em vida. Ele tá merecendo outra estaca, mas dessa vez na cabeça, pra arrancar o cérebro podre. Oh raiva que tô desse vampiro de merda.
2025-02-12
0
Tânia Campos
Ele tem que ajudá-la à lembrar,
De que adianta querer puni-la de algo que ela não se lembra?
Tadinha!!!!
2025-01-22
0
Jane Silva
ainda bem que decidiu explorar o ambiente
2025-01-17
3