Meu ódio por Lucianna era uma chama acesa, algo que ardia em meu peito há séculos. Era uma raiva que se misturava com dor, um lembrete interminável da traição e da morte. E agora, com ela aqui, tão próxima, tão vulnerável, tudo deveria ser simples.
Eu deveria matá-la.
Mas toda vez que a olhava, algo dentro de mim me fazia recuar.
Andava de um lado para o outro em meu escritório, a tensão em meus ombros ficando mais pesada a cada segundo. Eu me sentia preso, como um animal encurralado, incapaz de agir. Não era só ela, era o que ela despertava. Era aquela mesma face, aquele mesmo olhar, que outrora me destruiu e que agora parecia diferente. O modo na qual ela me olhava com tanto sentimento, eu podia sentir o coração dela bater forte, todas as vezes que ela estava comigo.
— Por que está sendo tão difícil agora? — perguntei para o silêncio ao meu redor.
Eu não esperava uma resposta.
Lembrei-me da nossa última interação. A maneira como Luci me enfrentou, sua insistência em buscar respostas, e a dor genuína em sua voz. Era tudo tão parecido com o passado, e ainda assim... tão diferente.
Sentei-me na poltrona, segurando a cabeça entre as mãos. Meu ódio era real. Era visível. Mas havia algo mais, algo invisível, mas impossível de ignorar, que me puxava para trás toda vez que eu tentava agir contra ela. Era como se houvesse forças ocultas a protegendo.
Era como se uma força me desarmasse, como se a presença dela tivesse o poder de quebrar minha determinação, mesmo sem que ela percebesse.
— Você não merece isso — murmurei, a voz carregada de rancor. — Você não merece viver depois do que fez.
Fechei os olhos e deixei que as lembranças voltassem. Não queria revivê-las, mas elas vinham mesmo assim.
Eu estava diante dela, séculos atrás, em um momento que deveria ter sido nosso auge. Ela sorriu para mim, aquele sorriso doce que eu pensava ser só meu. Mas por trás daquele sorriso havia um segredo.
Havia traição.
Eu confiava nela mais do que em qualquer outra pessoa. Ela era minha companheira, minha igual, a mulher com quem eu havia escolhido dividir a eternidade. E então, em uma noite, tudo desabou.
O toque frio da estaca em meu peito, a dor excruciante de sua traição. A última coisa que vi antes da escuridão foi seu rosto, não de culpa, mas de determinação e felicidade por me matar.
Abri os olhos abruptamente, o presente voltando como uma onda gelada.
— Ela não é diferente — disse a mim mesmo, tentando reacender minha raiva. — É a mesma mulher. Isso não a faz ser inocente.
Mas no fundo, sabia que estava mentindo para mim mesmo. Havia algo em Luci que não se encaixava com a imagem que eu tinha de Lucianna. Ela parecia... inocente.
Levantei-me da poltrona e fui até a janela. A floresta ao redor da casa estava imersa na escuridão, mas não oferecia a paz que eu procurava.
A cada passo que eu dava para fazer Luci pagar pelo que fez no passado, essa força invisível me impedia. Era como se algo em mim estivesse lutando contra meu ódio, como se uma parte de mim ainda quisesse acreditar que ela não era a mesma mulher que me destruiu, ou que ela fosse inocente.
Minha raiva aumentava.
Eu queria que ela sofresse. Queria vê-la quebrar, sentir o mesmo desespero que senti. Mas toda vez que olhava para ela, via aqueles olhos — olhos que me encaravam com confusão, não com malícia.
Dei um soco na parede ao lado da janela, o impacto reverberando pela sala. A raiva me consumia, mas não havia alívio. Era um fogo que queimava, mas nunca me libertava.
— Você vai pagar — murmurei, as palavras soando vazias até para mim.
Mais tarde naquela noite, entrei no quarto dela. Determinado a acabar de uma vez com isso, mesmo que aquela força tentasse novamente me parar.
Mas assim que entrei no quarto dela, Luci estava sentada na cama, os braços envolvendo os joelhos, como se estivesse tentando se proteger do mundo ao seu redor. Quando me viu, seu olhar se iluminou por um instante, mas logo a desconfiança voltou.
— Porque ainda não está dormindo? Você precisa dormir — disse a ela, minha voz fria.
— E você precisa falar comigo, eu estou no escuro, estou triste — respondeu ela, o tom firme apesar da evidente exaustão.
Fechei a porta e me aproximei.
— Não comece. Não tenho paciência para isso hoje.
— Então me dê uma razão para não começar! — ela retrucou, levantando-se da cama. — Por que você está fazendo isso comigo? O que eu fiz para merecer isso?
Minha raiva voltou como um maremoto. Ela não sabia? Ela realmente não sabia? Ou disfarçar muito bem.
— Você não entende? — perguntei, minha voz subindo sem que eu percebesse. — Você é a razão de tudo isso. Você destruiu minha vida, minha eternidade, e agora está aqui, agindo como se fosse a vítima!
Ela deu um passo para trás, claramente assustada, mas não recuou completamente.
— Eu não sei o que aconteceu no passado, e quero entender. — Ela se aproximou, suas mãos mornas pegando as minhas, ela levantou a cabeça para me encarar, já que sou mais alto que ela. — Se eu o machuquei no passado, eu não farei isso novamente. Confie em mim, Draven.
Eu deveria ter rido, deveria ter desdenhado de sua auto confiança, mas em vez disso, fiquei parado, incapaz de agir.
A força invisível estava lá novamente, segurando-me, desarmando-me.
— Você é ela — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela — E só o fato de você parecer com ela, ter a mesma voz, o mesmo olhar, é o suficiente para que eu queira matar você, Luci.
— Então me diga o que aconteceu — ela pediu. — Me diga quem eu era. Me diga por que você me odeia tanto.
Eu a encarei, minha mente uma tempestade de emoções contraditórios. Por um lado, queria despejar toda a verdade, mostrar a ela a dor que me causou. Por outro, sabia que isso significaria admitir que ainda sentia algo por ela — mesmo que fosse ódio misturado com fascínio.
Sem dizer mais nada, virei-me e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim.
Enquanto caminhava de volta para meu escritório, sabia que algo precisava mudar. Não podia continuar assim, dividido entre o passado e o presente, entre o ódio e... o que quer que fosse essa força que Luci despertava em mim, que me impedia de continuar com essa vingança.
Apenas uma coisa era certa: Agora que ela estava sob o mesmo teto que eu, eu não conseguia continuar com o plano, e eu me odeio por isso.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Maria Sena
A Lucy tem que sair de dentro de casa e ir pra floresta, acho que lá ela vai encontrar as respostas que precisa. É na floresta que se escondem os vampiros pra não serem encontrados e mortos.
2025-02-12
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Rosilene Narciso Lourenco Lourenco
simplesmente porque você a ama e não consegue executar a sua vingança, você precisa proteger ela da bruxa e descobrir a verdade.
2025-01-18
2
Dulce Tavares
babaca já tá se apaixonado
2025-01-20
1