Elena abriu as portas de seu quarto com um movimento brusco. Seu coração batia acelerado, e ela não conseguia entender por que agira tão impulsivamente — embora, no fundo, soubesse que havia uma lógica por trás disso.
A única maneira de frustrar os planos de Magnus e impedir que ele a usasse novamente como peça em seu jogo político era contando com Alec. Tê-lo como seu acompanhante, em vez de uma simples escolta — que normalmente ficaria do lado de fora do baile enquanto ela adentraria o salão e conversaria com os nobres presentes — parecia ser a opção mais segura. Isso era óbvio. Era a forma mais eficaz de esconder seus verdadeiros planos de seu pai.
Porém, como tudo na vida, esse caminho não estava livre de complicações. Escolher essa rota dava a Alec mais liberdade para jogar com as circunstâncias e transformar o evento em algo mais vantajoso para ele. O baile reuniría muitos nobres, e, entre eles, sempre havia os que odiavam Ilhéus e tudo o que Magnus representava. Alec poderia muito bem usar isso a seu favor.
Ela apertou os lábios, ciente das consequências. Não tinha outra escolha. Se cedesse à vontade de Magnus e isso caísse nos ouvidos de Oscar, todo o seu plano — fazer dele um aliado após Alec o derrotar, se isso acontecesse — seria arruinado. Ela perderia a chance de ter Orinis como seu agente secreto, fiel apenas às suas ordens.
Eu não posso perder isso, se quero sobreviver.
A brutalidade do pensamento ecoou em sua mente, e ela se encostou na parede próxima, buscando respirar mais fundo. O vestido verde que a envolvia parecia pesar-lhe o corpo, como uma armadura que a restringia. Ela se sentia aprisionada, como uma boneca criada para ser usada pelos caprichos de seu pai.
Será que a verdadeira Elena se sentia assim também? Será que esse fardo a havia impedido de enfrentá-lo, como ela mesma fazia agora?
Elena fechou os olhos por um instante, tentando afugentar a sensação de opressão que a envolvia. O vestido, com seus delicados detalhes, já não a fazia se sentir nobre ou desejada. Ao contrário, ela se sentia engolida pela riqueza e pela expectativa que o tecido representava. Tudo ao seu redor parecia um palco, e ela, a vilã, não passava de uma marionete.
Ela pensou novamente na verdadeira Elena, a mulher que ocupara seu corpo antes. Será que ela também havia sentido isso? A mesma sensação de estar aprisionada por uma vida que não escolheu?
Talvez fosse por isso que ela se afastara, evitando o casamento arranjado, evitando o destino que lhe fora imposto, se tornando tão má quanto seu captor. Mas e agora? Elena sentia-se na mesma posição. Não tinha escolha a não ser seguir o jogo de seu pai, se quisesse ter uma chance de controlar sua própria vida.
Eu não posso ser fraca.
A lembrança de Alec passou por sua mente. Ela sabia que ele a via como uma peça no jogo, mas, ao mesmo tempo, era ele quem a desafiava, quem a fazia questionar seus próprios limites. Por mais que ele a incomodasse, por mais que ela sentisse que ele estava sempre à frente, havia algo nele que ela não podia ignorar. Algo que a atraía e, ao mesmo tempo, a aterrorizava. Ele era uma ameaça, mas também uma oportunidade.
Ela se afastou da parede e caminhou até a escrivaninha, pegando novamente a pena, decidida a escrever. O plano não poderia esperar mais. Se ela queria garantir a aliança com Orinis, deveria evitar qualquer problema durante o baile, além de usar a presença de Alec como uma forma de desviar a atenção de Magnus. Precisava ser rápida e certeira.
Com o tinteiro nas mãos, ela traçou algumas linhas no papel, como se as palavras fossem uma extensão de sua própria determinação. Sabia o que precisava fazer. O baile poderia ser a ruína de seus planos, mas também uma chance de virar a mesa, de controlar a narrativa antes que seu pai pudesse usá-la como uma jogada política. E Alec, de alguma forma, teria que fazer parte disso. Mesmo que ele não soubesse ainda.
Ela respirou fundo, permitindo que a tensão em seu peito se aliviasse enquanto tomava o controle da situação. Com um gesto resoluto, queimou o plano que havia escrito na vela mais próxima.
Não sou uma boneca. Sou eu quem define o meu destino.
Apesar das dúvidas que ainda a atormentavam, Elena sentia que estava mais perto de alcançar seu objetivo do que jamais imaginara. E, naquele momento, isso era tudo o que ela precisava para dar o próximo passo — sem hesitar, sem nenhum arrependimento.
***
O crepúsculo já havia cedido lugar a um céu tingido de azul profundo quando Alec chegou ao local combinado com Felipe. Era uma pequena cabana nos arredores da mansão, discreta e envolta pela sombra das árvores, um lugar seguro para conversas que precisavam permanecer longe de ouvidos curiosos.
Felipe o esperava na entrada, recostado na moldura da porta, com aquele sorriso habitual que misturava provocação e descontração.
— Chegando tarde, cavaleiro sombrio? Pensei que os heróis fossem pontuais.
— Não estou com humor para suas brincadeiras, Felipe — respondeu Alec, seco, enquanto empurrava a porta e entrava na cabana.
Felipe deu de ombros, fechando a porta atrás de si.
— Tenso como sempre, eu vejo. Isso é bom, mantém a cabeça no lugar. Agora, vamos ao que interessa. — Alec cruzou os braços e encarou o mago, esperando. Felipe balançou a cabeça antes de falar, como se organizasse os pensamentos: — Ouvi que Elena se encontrou com Magnus para tomar chá hoje. Parece que a conversa não foi muito produtiva, já que ela saiu de lá enfurecida.
Alec assentiu, sem surpresa. Afinal, Elena havia dito isso a ele instantes antes.
— E Galen? Alguma resposta?
Felipe estreitou os olhos e estalou a língua antes de responder.
— Ele concordou com o plano. Já começou a mobilizar os apoiadores na vila. Disse que é a oportunidade perfeita para atacar Magnus enquanto ele está distraído.
Alec permaneceu em silêncio por um momento, com os olhos fixos no chão. Finalmente, ele ergueu a cabeça.
— Ótimo. Mas há algo mais.
Felipe arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Ah, não me diga que mudou os planos de novo?
— Um baile acontecerá no condado de Ferlus — disse Alec, ignorando o tom provocador. — Amanhã à noite, Elena estará lá, e eu vou acompanhá-la. Haverá muitos nobres presentes, gente que pode ser útil. Se jogarmos as cartas certas, podemos plantar as sementes de algo maior.
Felipe ficou sério de repente, a mudança súbita no comportamento tão notável que até Alec percebeu.
— O que foi? — Alec perguntou, franzindo o cenho.
Felipe desviou o olhar, os lábios se apertando em uma linha fina. Por um instante, ele parecia estar a quilômetros dali, perdido em pensamentos que não queria compartilhar.
— Nada — respondeu, por fim, mas a voz carecia de seu tom usual de leviandade. — Apenas… tome cuidado no baile. Esses nobres não são confiáveis, e alguns podem ser mais perigosos do que você imagina.
Alec estreitou os olhos, mas optou por não pressionar.
— Sempre tomo cuidado. E você, Felipe, certifique-se de que tudo estará pronto para o duelo. Não quero surpresas.
Felipe assentiu, recuperando parte de seu humor habitual.
— Pode deixar, cavaleiro. Você me conhece. Sempre um passo à frente.
Alec se virou para sair, mas não antes de lançar um último olhar para Felipe, que agora fitava o vazio com um ar distante. Algo o incomodava, mas Alec sabia que o mago não falaria a menos que quisesse.
A noite já estava escura quando ele deixou a cabana, os pensamentos divididos entre o baile, o duelo e o mistério que parecia assombrar Felipe.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
Não entendo porque ela escreve e queima. Seria melhor criar o plano só na cabeça. Como existem magos, tenho medo de alguém conseguir acessar esses planos.
2025-01-22
1
Souza França
o que houve com a Elena original?
2025-01-07
2
Débora Rodrigues
Mais um mistério. O que será que o Felipe está escondendo do Alec?
2025-01-22
1