As duas semanas seguintes passaram em um turbilhão de atividades que Elena mal teve tempo de processar. Cada dia, apesar de parecer tranquilo à primeira vista, era preenchido com a rotina incessante de observações e análises.
Ela ficava ao lado de Alec, acompanhando-o em seus treinamentos, vendo-o se tornar cada vez mais forte e habilidoso, uma sombra de si mesmo antes de entrarem nesse acordo. O que deveria ser uma tarefa simples, ajudá-lo a se preparar para o duelo, estava se tornando mais complexo a cada dia.
Ela observava o cavaleiro com uma mistura de alívio e apreensão. Alívio porque ele parecia mais do que pronto para o confronto que se aproximava; apreensão porque, ao mesmo tempo, ele estava se tornando cada vez mais perigoso.
Dar poder a Alec, ela sabia, era como armar um inimigo. A qualquer momento, ele poderia virar suas armas contra ela. Mas algo em seu comportamento nos últimos dias fez a hostilidade diminuir, pelo menos na superfície. Ele a aceitava mais facilmente, cumpria suas ordens com menos resistência, mas isso não significava que a desconfiança entre os dois tivesse desaparecido.
Algumas vezes, ela se perguntava se ele estava apenas esperando o momento certo para virar as costas e a destruir. Outras, pensava que talvez ela estivesse apenas inventando desculpas para se afastar do plano de conquista. A verdade era que o comportamento de Alec ainda a desconcertava.
Por mais que ele a aceitasse como sua senhora, seus olhos nunca deixavam de ser frios, distantes. Eles trocavam palavras e olhares durante os treinamentos, mas era como se houvesse uma barreira invisível, algo que ela não conseguia ultrapassar. Em alguns momentos, ela sentia que não era mais sobre conquistá-lo — talvez fosse sobre se proteger, sobreviver a esse jogo onde ela não conhecia as regras.
Elena suspirou, um som baixo e quase imperceptível, e se levantou da poltrona em que estava. Caminhou até a janela, e lá, ao olhar para o jardim, pensou nas semanas que ainda restavam até o duelo. O tempo estava se esgotando e, com ele, suas opções. Ela sabia que mais nada poderia ser feito com Alec, ao menos não por agora. Mas havia outros elementos em seu plano que a preocupavam mais.
Oscar, por exemplo, ainda não havia enviado nenhuma mensagem. Ela não se surpreendia, mas também não podia deixar de se sentir um pouco sozinha nesse processo. Magnus, por outro lado, não a deixava em paz. Cada vez mais, ele a forçava a comparecer a compromissos sem sentido, reuniões de chá, almoços com nobres, enquanto a sobrecarregava com as responsabilidades do ducado. O peso de suas obrigações nunca parecia diminuir, e ela já começava a se questionar até que ponto estava sendo observada, manipulada sem nem perceber.
Nesse momento, um toque suave na porta a interrompeu. Elena virou-se com um pequeno sobressalto, mas antes que pudesse dizer algo, Merilda entrou com sua postura impecável, o rosto impassível. No entanto, os olhos dela, sempre atentos, traíam qualquer disfarce.
— O Duque pediu para informá-la que deseja tomar chá com a senhorita na sala de estar, agora — anunciou com a precisão de sempre, mas a ligeira ênfase no tom, quase imperceptível, sugeria algo mais.
O estômago de Elena se revirou, mas ela manteve o controle. Sabia o que significava um convite para chá com Magnus: um jogo, uma nova rodada de suas manipulações. Mais uma oportunidade para testar seus limites, sua paciência.
— Muito bem — respondeu Elena com a voz firme, ainda que com um leve tom de exasperação. — Traga um vestido simples, mas adequado.
Ela sabia que essa conversa não seria agradável. Mais uma vez teria que se submeter aos jogos de poder de seu pai, um homem que se movia nos bastidores, sempre empurrando e testando a todos até o limite. Não podia se dar ao luxo de ignorá-lo, não agora, quando cada passo que dava a aproximava mais do duelo inevitável, mas também de decisões ainda mais arriscadas.
Merilda fez uma ligeira reverência e saiu para cumprir a ordem. Poucos minutos depois, Elena já estava pronta, com o corpo limpo e envolto em um belo vestido verde que realçava seus traços delicados. Caminhou pelos corredores da mansão, seu coração ainda acelerado, tentando não pensar no que a aguardava.
Ao entrar na sala de estar, encontrou Magnus sentado à mesa, os dedos tamborilando no braço da cadeira com a impaciência de quem esperava há muito tempo.
— Sente-se, Elena — disse ele, sem rodeios, enquanto uma criada servia o chá.
Elena obedeceu, mantendo a postura ereta e o semblante calmo, embora sua mente estivesse em alerta.
— Imagino que esteja curiosa sobre o motivo deste convite — começou Magnus, observando-a com aquele olhar avaliador que sempre a deixava desconfortável.
— Sempre que me convida para um chá, pai, há algo que deseja discutir — respondeu Elena, medindo as palavras com cautela.
Magnus soltou um sorriso seco e levou a xícara aos lábios antes de continuar:
— Amanhã à noite, haverá um baile no condado de Ferlus. Você estará presente.
Elena sentiu o coração apertar.
— Um baile? — questionou, tentando esconder a irritação. — Pai, com todo respeito, tenho que me dedicar ao treinamento de Alec. Não posso me dar ao luxo de perder tempo em frivolidades.
Magnus pousou a xícara com um gesto firme, seus olhos se estreitando.
— Não é uma escolha, Elena. Você irá ao baile porque é necessário. Depois que Alec vencer Oscar e você estiver livre desse acordo de casamento, precisarei de um novo pretendente para fortalecer nossos laços com outros nobres.
Elena sustentou o olhar de Magnus, forçando-se a manter a calma.
— Procurar outro pretendente agora, tão descaradamente, é um risco. Se Oscar ou qualquer outro aliado dele souber disso, pode comprometer o duelo e nossa posição.
— Isso não é da sua conta — cortou Magnus, sua voz carregada de impaciência. — Eu decido os riscos que tomamos. Sua única tarefa é atrair a atenção de quem possa nos ser útil.
Elena apertou os punhos sob a mesa, mas sua expressão permaneceu neutra.
— Como desejar, pai — respondeu, por fim, com a voz fria.
Magnus sorriu com satisfação e levantou-se, encerrando a conversa.
— Prepare-se, Elena. Quero você impecável amanhã.
Ele saiu da sala sem olhar para trás, deixando Elena sozinha com seus pensamentos. Ela fechou os olhos por um instante, tentando acalmar a fúria que crescia dentro dela.
Se Magnus pensava que ela era apenas uma peça no jogo dele, estava muito enganado.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Kamila Castro
sinceramente, odeio esses tipos de pais que apenas querem que os filhos façam a sua vontade
2025-01-06
7
Débora Rodrigues
Alguém descobre um podre desse homem, por favor! Não vejo a hora do Magnus cair do cavalo.
2025-01-22
1