Elena Ilhéus era louca.
Foi esse o pensamento que passou pela mente de Alec assim que aquelas palavras saíram dos delicados lábios dela.
Como uma dama tão bonita tinha a capacidade de dizer tais absurdos?
Ele sacudiu a cabeça. Não deveria pensar em como ela era linda, ou como seus olhos estavam insistindo em seguir cada passo dado por ela desde que a vira pela primeira vez.
Na real, ele deveria se manter mais preocupado na ameaça descarada dela. Se ela o descartasse, tudo o que ele fizera teria sido em vão. Todos os dias dedicados a se infiltrar no ducado, enquanto fazia o possível para não manchar seu rosto com nenhuma cicatriz que pudesse tirar a chance de ser escolhido como cavaleiro da senhorita do ducado de Ilhéus.
Tinha que ser forte, belo, indomável. Tudo para se tornar o brinquedo perfeito, o mais difícil de quebrar. Como seu falecido irmão fora, antes de cair em desespero e levar toda a família junto.
Ele fechou os olhos com força. Além disso tudo, sabe-se lá o que Magnus faria com ele ao perceber que não cumprira seu objetivo de entreter. Talvez um destino bem pior o aguardaria. Ou seu fim viesse antes de sua vingança ter início, e isso ele não poderia deixar acontecer.
Frustrado, Alec cerrou os punhos.
— O que você quer de mim, afinal?
Ao ouvi-lo, Elena abriu um sorriso radiante, pois era óbvio que ela vencera. Isso só o deixou irritado, porém ele não demonstrou.
— Preciso de um limite. Qualquer coisa bastará.
Um riso nervoso escapou dos lábios dele.
Um limite? Sério? Que senhor pede para seu servo — para não dizer escravo ou brinquedo — determinar um limite na relação deles? Isso era totalmente estranho na perspectiva daqueles que conheciam os infames Ilhéus. Que maneira mais esquisita de “domar” seus cavaleiros. Isso só demonstrava fraqueza, um lado que ninguém deveria nunca ver — e isso estava incluso até às pessoas mais próximas.
E ele não era próximo dela. Tinham se visto e estávamos conversando pela primeira vez hoje. Então, exceto se ela quisesse a todo custo conquistar a confiança dele para depois traí-lo, não tinha o porquê expor isso.
Não tinha. Seria esse o plano dela?
Alec encarou a jovem à sua frente. Os olhos azuis claríssimos pareciam brilhar em expectativa. Suas mãos se esfregavam uma na outra, enquanto os lábios permaneciam mordidos. Tinha um ar estranho à sua volta, quase como se o que ele dissesse fosse decidir seu futuro. Se ela viveria ou morreria. Talvez os dois.
Não era possível. Ela era transparente demais. Se conquistar a confiança dele para depois traí-lo era seu objetivo, ela estava falhando miseravelmente. Não tinha como enganá-lo quando se era tão transparente quanto um rio de águas cristalinas.
E, exceto se essa era a intenção desde o início, não tinha o porquê ir contra o desejo dela de impor um limite. Só ele se beneficiava disso, e não tinha motivo para perder tudo que conquistara até ali por desconfiança — por mais justificada que essa fosse.
— Isso sequer faz sentido, mas vou aceitar — disse, por fim, dando um passo para ficar mais próxima dela.
Elena piscou. Depressa, colocou as mãos para trás e ergueu o queixo, o encarando. Alec quis rir de tal demonstração simbólica de coragem, mas não o fez. Demonstrar qualquer sentimento além de indiferença, poderia pôr em risco seu plano — como acontecera instantes antes. Ele não podia permitir que isso acontecesse outra vez.
— Então o que será?
— A senhorita não deve, nunca, tocar em mim — jogou, numa tentativa de avaliar até onde ela iria com esse joguinho tolo. — Que tal isso?
Elena levou uma mão até o queixo, parecendo considerar por alguns instantes. Alec conhecia muito bem os boatos sobre o que acontecia com os cavaleiros pessoais dela. Muitos serviam em sua cama, enquanto outros eram vestidos e tocados ao seu bel-prazer, como bonecas, até quebrarem.
Não tinha como alguém assim aceitar não tocar nele. Era uma das suas poucas certezas, e isso demonstraria o quão honesto aquele teatrinho estava sendo até ali.
— Justo — concordou, para a surpresa dele. — Se é o que quer, não vou pôr um dedo em você. Jamais.
Alec a encarou. O rosto de Elena estava relaxado, liberto de qualquer receio ou medo. Era como se ela tivesse conquistado o que queria. O quê, ele não soube dizer.
— Quero muito ver até quando você vai continuar com isso — sussurrou para si. Baixo o suficiente para ela não ouvir.
Elena, alheia, deu um passo para ficar mais próxima dele. Inclinou o corpo, o sorriso e o olhar ficando mais suave a cada movimento. Alec a observou com cautela. Ela era, ao menos, um palmo mais baixa que ele. Naquela posição, porém, parecia ainda mais pequena.
— Estou ansiosa para trabalhar com você a partir de hoje, senhor cavaleiro sem autopreservação.
— Alec. — Ele escondeu um sorriso. — Me chame de Alec, senhorita Elena Ilhéus.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
O enredo da história é bem diferente de outros que eu li. Estou gostando muito! Acredito que ela vai conseguir mudar seu papel de vilã, para protagonista.
2025-01-22
2
Elda soares
acho que vão ser um belo casal 😍
2025-01-17
2
Andréa Silva
Muito lindos
2025-01-09
3